Turquia exige que Suécia e Finlândia entreguem até 130 "terroristas" para aprovar adesão à NATO

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Francois Lenoir - Reuters

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, disse que a Suécia e a Finlândia devem deportar ou extraditar até 130 “terroristas” para que o Parlamento turco aprove as propostas dos dois países para a adesão à NATO. Helsínquia considera que esta exigência por parte da Turquia é uma resposta aos últimos incidentes diplomáticos, dado que o ministro finlandês dos Negócios Estrangeiros disse não ter conhecimento de nenhuma nova exigência oficial da Turquia.

O presidente turco disse este domingo que para que Ancara dê o aval necessário para a adesão da Suécia e da Finlândia à NATO, os dois países devem enviar até 130 “terroristas” para a Turquia.

"Para que [o pedido de adesão à NATO] seja aprovado no Parlamento, têm que nos entregar mais de 100, cerca de 130 terroristas", disse Erdogan. “Dissemos que se não entregarem os terroristas, não podemos aprovar o pedido”, afirmou.

Os dois Estados nórdicos submeterem os pedidos de adesão à Aliança Atlântica o ano passado, por considerarem que a sua segurança estava em causa após a invasão da Ucrânia pela Rússia. No entanto, a entrada de novos países na NATO deve ser validada pelos 30 Estados-membros – um passo que todos já deram, à exceção da Turquia e da Hungria.

A Turquia tem recusado admitir os dois países na NATO por considerar que ambos abrigam no seu território membros do PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão), que Ancara classifica como terroristas.

O lembrete por parte de Ancara das suas exigências surge depois de o porta-voz de Erdogan ter alertado, no sábado, que o prazo para o Parlamento turco ratificar as propostas de adesão se estava a esgotar, dado que estão marcadas eleições presidenciais e parlamentares na Turquia para maio.
Suécia diz estar numa “boa posição”
Ao mesmo tempo, o primeiro-ministro sueco disse esta segunda-feira estar em “boa posição” para garantir a ratificação da Turquia da sua candidatura à NATO.

"Acho que ainda estamos numa posição muito boa", afirmou Ulf Kristersso em conferência de imprensa esta segunda-feira. "A situação em termos de negociações, ou melhor, de acompanhamento do memorando, está a correr bem", assegurou.

No entanto, ainda no sábado, a Turquia disse “não estar em condições” de ratificar a adesão da Suécia à NATO após um novo incidente entre os dois países na semana passada.

"Não estamos em condições de enviar a lei [de ratificação] ao Parlamento, temos um verdadeiro problema nesta questão", disse Ibrahim Kalin, o principal assessor do presidente turco, afirmando que os deputados iriam provavelmente rejeitar o documento.

Em causa está um protesto em Estocolmo, na semana passada, no qual foi pendurado um boneco que simulava o presidente turco enforcado.

"Estamos envolvidos neste processo há seis ou sete meses e não é bom para a Suécia aparecer sob esta luz", insistiu Kalin. "Queremos seguir em frente e progredir, mas se este tipo de incidentes continuar, isso atrasará o processo", avisou.

A Finlândia considera, por isso, que a nova exigência da Turquia do envio de “terroristas” para Ancara é uma retaliação a este incidente.

“Acredito que isto seja uma reação aos eventos dos últimos dias”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros da Finlândia, Pekka Haavisto, que disse não ter conhecimento de nenhuma nova exigência oficial da Turquia.
O que exige Ancara?
Em julho do ano passado, a Turquia, a Finlândia e a Suécia concordaram com um memorando conjunto, no qual descreviam como poderiam intensificar a sua colaboração.

Para além da deportação ou extradição dos indivíduos acusados por Ancara de pertencerem a organizações terroristas, a Turquia exige ainda, particularmente à Suécia, medidas concretas contra militantes curdos que culpa por uma tentativa de golpe em 2016. À Finlândia em específico, Ancara exige também o fim do embargo à venda de armas, decretado em 2019, após a operação militar turca contra as milícias curdas na Síria.

Apesar de reconhecer que a Suécia tem tomado “decisões positivas”, a Turquia disse que ainda existem “passos importantes a serem dados” e exigiu mais “medidas positivas”, lamentando as restrições que permanecem às exportações suecas de equipamentos militares.

Por sua vez, o primeiro-ministro sueco disse, no início deste mês, que o Governo turco está a fazer uma série de exigências que Estocolmo “não pode nem quer cumprir”.

"[A Turquia] quer coisas que nós não podemos e não queremos dar-lhe. Agora a decisão [da adesão à Aliança Atlântica] recai sobre os turcos", declarou Ulf Kristersson.

Apesar disso, o secretário-geral da NATO considera que tanto Helsínquia como Estocolmo respeitaram o acordo e estão “claramente comprometidas com a cooperação a longo prazo com a Turquia". Por este motivo, Jens Stoltenberg espera uma adesão da Suécia e da Finlândia à Aliança ainda este ano, apesar de salientar que tudo depende da decisão do Parlamento turco e húngaro.
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