A tensão da Grécia e União Europeia com a Turquia agravou-se esta semana, depois de Ancara ter enviado um navio de pesquisa de hidrocarbonetos, o Oruc Reis, sob escolta militar, para águas disputadas com a Grécia, no leste do Mediterrâneo, entre a ilha de Creta e o Chipre. A Grécia respondeu com o envio para o local da sua própria frota de guerra.
Atenas referiu-se a uma "colisão menor" e a um "acidente", garantindo que o Limnos não sofreu danos e prosseguiu rumo a exercícios militares com navios franceses ao largo de Creta.
Ancara falou em provocação e deixou ameaças. "Dissemos que, se atacarem o Oruc Reis, irão pagar caro e já tiveram a primeira resposta", clamou o Presidente turco, Tayyip Erdogan, num discurso quinta-feira em Ancara, numa presumível referência ao incidente entre o Kemal Reis e o Limnos.
"Não podemos deixar o mínimo ataque ficar sem resposta", avisou ainda Erdogan.Grécia e Turquia são aliados na NATO. Mas a sua relação está longe de ser amistosa. A tensão é constante entre ambos, devido a questões de jurisdição marítima, terrestre e aérea, centrada na ilha de Chipre, partilhada entre ambos. Em 1996, a disputa de uma série de ilhotas no Mar Egeu quase levou a um conflito aberto.
A exploração das reservas de petróleo e de gás ao largo de Creta tem sido um dos pretextos para Ancara se indispor com Atenas e, por extensão, com a União Europeia.
Quinta-feira, a França anunciou que ia "reforçar temporariamente" a sua presença militar no leste do Mediterrâneo, em apoio à Grécia.
A reação turca foi imediata. O ministro turco dos Negócios Estrangeiros, Mevlut Cavusoglu, recomendou à França para deixar de se comportar como um agressor.
"A França deveria evitar ações que possam fazer escalar a tensão no leste do Mediterrâneo", aconselhou Cavusoglu de visita à Suíça.
Apelos ao diálogo
"Não conseguirão nada com posturas agressivas, seja na Líbia, no nordeste da Síria, no Iraque ou no Mediterrâneo", acrescentou durante uma conferência de imprensa, ao lado do seu homólogo suíço, e referindo outras áreas do globo em que Paris e Ancara têm adotado políticas opostas.
Cavusoglu insistiu que a Turquia pretende uma solução pacífica para a crise. "Claro que não desejamos escalar mas a Grécia deveria agir com bom senso", afirmou. "Somos sempre adeptos do diálogo pacífico", acrescentou.
A Suíça afirmou por seu lado estar disposta a apoiar esse mesmo diálogo para aligeirar as tensões, desde que essa fosse a vontade de ambas as partes.
Já o ministro grego dos Negócios Estrangeiros disse que a bola está no campo da Turquia.
"Tudo se pode resolver, mas essa é uma questão que tem de ser colocada aos turcos" disse Nikos Dendias esta sexta-feira.
"Espero que não haja conflito se todos mantiverem a cabeça fria e todos respeitarem a lei internacional, a lei internacional sobre áreas marítimas", referiu Dendias aos jornalistas em Viena de Áustria, depois de se reunir com o secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, de visita ao país.
O Departamento de Estado norte-americano revelou apenas que os dois responsáveis diplomáticos debateram "a necessidade urgente de reduzir tensões no leste do Mediterrâneo".
A União Europeia já impôs sanções a dois executivos turcos ligados ao setor da Energia. As recentes ações turcas em águas disputadas são mais um motivo de preocupação, numa altura em que Ancara pode a qualquer momento denunciar o acordo financeiro com Bruxelas sob o qual aceitou reter no seu território migrantes ilegais que pretendem entrar em território europeu.
Devido à pandemia de Covid-19, Bruxelas teve recentemente de abrir os cordões à bolsa para financiar as economias dos seus estados membros mais afetados, e os fundos para estas operações foram retirados das missões Frontex, de vigilância do Mediterrâneo, e dos investimentos em forças de defesa europeias.
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