Turquia. Dezenas de detidos por "mensagens provocatórias" após detenção de opositor de Erdogan

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Umit Bektas - Reuters

O Governo turco anunciou esta quinta-feira que foram detidas 37 pessoas pela publicação de “mensagens provocatórias” nas redes sociais após a detenção do presidente da Câmara de Istambul, Ekrem Imamoglu, apontado como o grande opositor do presidente turco nas Presidenciais de 2028. Milhares de manifestantes saíram às ruas na quarta-feira em Istambul, Ancara e outras cidades para denunciar o que apelidam de “golpe de Estado”.

O ministro turco do Interior, Ali Yerlikaya, anunciou esta quinta-feira que 37 pessoas foram detidas e acusadas de "publicações provocatórias nas redes sociais incitando ao crime e ao ódio", acrescentando que a polícia identificou cerca de 261 contas “suspeitas” nas redes sociais, incluindo 62 sediadas no estrangeiro.

As detenções ocorreram no seguimento da detenção do presidente da Câmara de Istambul, Ekrem Imamoglu, na quarta-feira.

Imamoglu, o principal adversário político do presidente Recep Tayyip Erdogan, foi detido sob acusações de corrupção e auxílio a um grupo terrorista, uma ação que a oposição condenou como uma "tentativa de golpe" e que desencadeou uma onda de manifestações.


Imamoglu, que deveria ser nomeado no domingo candidato do Partido Popular Republicano (CHP) às próximas Eleições Presidenciais, marcadas para 2028, passou a noite sob custódia policial, juntamente com mais de 80 pessoas que também foram detidas na quarta-feira.

Numa mensagem publicada na rede social X esta quinta-feira, Imamoglu pediu que a Turquia “se oponha a este mal como nação”, apelando aos membros do poder judicial e do partido no poder para lutar contra a injustiça.


"Estes acontecimentos estão para lá dos partidos e dos ideais políticos. O processo diz agora respeito ao nosso povo, ou seja, às suas famílias. É tempo de levantarmos as nossas vozes", disse.
Milhares saem às ruas em protesto
Milhares de manifestantes saíram às ruas e aos campus universitários na quarta-feira em Istambul, Ancara e outras cidades, em protesto contra o que consideram ser “um golpe de Estado”.

Os manifestantes voltaram a mobilizar-se esta quinta-feira. A polícia bloqueou estradas e estacionou camiões com canhões de água perto da esquadra onde o presidente da Câmara de Istambul está detido e de outras zonas da maior cidade da Turquia.

"Detiveram à pressa o nosso presidente da Câmara, que elegemos com os nossos votos", disse Ali Izar, um apoiante da oposição, citado pela agência Reuters.

O presidente do CHP, Özgür Özel, convocou um comício às 20h30 (17h30 GMT) em frente à sede municipal, informou o seu partido à AFP. Özel denunciou o que apelida de "golpe contra a oposição" e acusa o Governo de querer “anular a vontade do povo”.

"Não há corrupção, nem grupo terrorista, mas sim executores da justiça no comando", declarou, defendendo que "o único crime de Imamoglu é (...) ter conquistado o coração do povo. O seu único crime é que será o próximo presidente!"

A Praça Taksim e o adjacente Parque Gezi, locais emblemáticos dos protestos no centro de Istambul, permanecem barricados para impedir qualquer concentração e o governador da cidade já anunciou que os encontros naqueles locais estão proibidos até domingo.

O governo impôs uma proibição de quatro dias de ajuntamentos e restringiu o acesso a algumas redes sociais para limitar as comunicações. O acesso a vários serviços de redes sociais e mensagens, incluindo X e WhatsApp, ainda estava restrito em Istambul na manhã desta quinta-feira, de acordo com a plataforma de monitorização da Internet Free Web Turkey.

O governo negou as acusações e deixou avisos àqueles que querem fazer a ligação de Erdogan ou do governo à detenção de Imamoglu, garantindo que o poder judicial é independente.

c/agências
PUB