Turquia apresenta novas exigências para travar fluxo de migrantes

por Andreia Martins - RTP
Ahmet Davutoglu, primeiro-ministro turco, com os líderes europeus reunidos esta segunda-feira em Bruxelas. Yves Herman - Reuters

O primeiro-ministro turco trouxe "novas ideias" para o encontro entre os líderes da União Europeia, esta segunda-feira em Bruxelas. Ancara está disposta a acolher mais refugiados, mas exige mais três mil milhões de euros, atribuição facilitada de vistos a cidadãos turcos e a aceleração do processo de adesão à União Europeia. As propostas serão analisadas por Bruxelas nos próximos dias.

A Turquia mostrou-se disponível para aumentar o nível de cooperação com a União Europeia no controlo do fluxo de refugiados que chega à Europa.

Sem se comprometerem com uma decisão definitiva, os 28 ministros reunidos em Bruxelas vão agora analisar as propostas da Turquia. O encontro com a Turquia deveria ter terminado logo após o almoço, mas o primeiro-ministro turco anunciou ter “novas ideias” a propor aos 28 países, o que levou à extensão do período de negociações.
Acolher os refugiados expulsos pela Europa
Ancara diz estar preparada para assumir a responsabilidade e a receber de volta os migrantes que cheguem à Europa sem qualquer documentação legal e que não consigam asilo nos países europeus.
 
Esta ajuda estender-se-ia aos migrantes vindos da Turquia após uma data a determinar, e ainda outros migrantes intercetados em águas internacionais.

Em troca, Ahmet Davutoglu, o primeiro-ministro turco, pede uma ajuda adicional de três mil milhões de euros, o que significaria duplicar o pacote financeiro destinado ao país. A União Europeia teria assim de pagar um total de seis mil milhões de euros à Turquia até 2018.

Ana Romeu, Carlos Felgueiras - RTP

Num rascunho do acordo a que a Agência Reuters teve acesso, a Turquia compromete-se a estreitar “os laços e a solidariedade existentes”, responsabilizando-se pelos migrantes que tentam chegar à Grécia através do mar Egeu. Ancara acrescenta que esta ajuda seria “temporária e apenas com propósitos humanitários”.
 
Para esse efeito, seriam criadas “Unidades de Controlo de Migrações Irregulares”, em estreita colaboração com o Governo e autoridades gregas, no sentido de facilitar os processos de readmissão de refugiados em território turco.
Oferecer mais, pedir ainda mais
Na lista de exigências apresentadas, a Turquia pede à União Europeia a transferência de mais três mil milhões de euros (para além dos outros três mil milhões de euros que já tinham sido acordados em novembro), a serem pagos até ao fim de 2018.

Ancara pede que Bruxelas renegoceie também o fim das restrições na atribuição de vistos a cidadãos turcos em países do Espaço Schengen, no máximo até junho deste ano.

O jornal britânico Guardian refere que o Governo turco quer a liberalização na atribuição de vistos a 75 milhões de cidadãos turcos até 1 de junho.
 
Mas as reivindicações não ficam por aqui. Os diplomatas turcos querem também ver a velha questão da entrada da Turquia na União Europeia resolvida. O país apresentou o pedido de adesão em abril de 1987, mas o processo tem sido constantemente adiado.

Durante a manhã, Ahmet Davutoglu já tinha informado que aproveitaria a cimeira desta segunda-feira para abordar outros assuntos do interesse da Turquia.

"A Turquia está pronta para trabalhar com a UE e a cimeira de hoje não se vai apenas focar na migração social, mas também no processo turco de adesão", referiu o primeiro-ministro turco, em declarações aos jornalistas.
Preocupações de Erdogan
Nas novas sugestões apresentadas, surge também um plano de rápido reestabelecimento de refugiados, baseado nos valores de solidariedade e que permitam "partilhar o fardo" da maior crise de refugiados desde a II Guerra Mundial

Nesse sentido, as autoridades turcas sugerem que, por cada sírio vindo das ilhas gregas, readmitido pela Turquia, haja outro sírio a reestabelecer-se num país da União Europeia, em estreita colaboração com Bruxelas e com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados.

O rascunho do documento não esquece a origem do problema e compromete-se no esforço de criar "áreas de ajuda humanitária" dentro da Síria, em colaboração com as entidades europeias.

Antes desta cimeira, o Presidente turco, ausente do encontro em Bruxelas, mostrou-se incomodado com a demora europeia no envio de ajuda financeira prometida. "Já passaram quatro meses. O primeiro-ministro turco está em Bruxelas, espero que regresse com dinheiro", referiu Recep Erdogan.
Costa quer "Europa de Schengen"
Quem esteve presente na cimeira foi o primeiro-ministro português. À chegada a Bruxelas ao início da tarde, António Costa referiu que a liberdade de circulação é "uma das liberdades fundamentais" e que é importante "garantir que esta Europa vai continuar a ser a Europa de Schengen".

No dia em que chegaram a Portugal 64 refugiados vindos de Atenas, o chefe do Executivo salientou que é necessário "repartir o esforço de uma  forma justa e empenhada". Neste campo, António Costa considera que Portugal "está a dar o exemplo".
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