Trump quer "garantias" sobre terras raras ucranianas em troca de ajuda dos EUA

por RTP
Donald Trump, 47º presidente dos EUA Leah Millis - Reuters

Ajuda americana a Kiev pode ficar ligada às negociações sobre os direitos de exploração de "terras raras", metais amplamente utilizados na eletrónica.

Donald Trump confirmou esta segunda-feira o interesse numa proposta feita em outubro passado pelo presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, para um "acordo especial" com os parceiros do seu país, permitindo a "proteção comum" e a "exploração comum dos recursos estratégicos" do seu país.

Zelensky não mencionou especificamente "terras raras", mas deu como exemplos "urânio, titânio, lítio, grafite e outros recursos estratégicos de alto valor".
"Queremos chegar a um acordo com a Ucrânia onde eles prometerão as suas terras raras e outras coisas em troca do que lhes damos", disse Trump durante uma conversa com repórteres no Salão Oval.

"Sim, quero garantias sobre terras raras", confirmou quando questionado se queria "que a Ucrânia dê suas terras raras aos Estados Unidos".

Os EUA são, por larga margem, os principais contribuintes em armamento e apoio financeiro de Kiev desde o início da invasão russa da Ucrânia.

Para Washington, o acesso às terras raras da Ucrânia pode implicar uma menor dependência da China, principal exportadora mundial.

Também a União Europeia tem de garantir as suas fontes de terras raras, para se manter relevante na índustria e pesquisa em diversas áreas.

Por exemplo, para atingir a neutralidade carbónica em 2050, a UE necessitará de 26 vezes mais terras raras do que hoje, segundo cálculos da Universidade KU Leuven para a Eurometaux, a associação europeia de produtores de metais.
O que são as terras raras?
Estas terras são constituídas por 17 matérias-primas. Descobertas no final do século XVIII na Suécia, cada uma delas possui propriedades diferentes mas foram agrupadas sob o mesmo nome, por estarem frequentemente presentes nos mesmos solos. Uma vez recuperado o minério da terra, este deve ser submetido a um tratamento de "separação", de forma a distinguir os diferentes minerais, através de operações químicas por vezes envolvendo ácidos.


Apesar do nome, estas terras abundam no planeta. O Serviço Geológico dos EUA estimou em 2024 as reservas globais em 110 milhões de toneladas, das quais mais de um terço, 44 ​​milhões, estavam localizadas na China, 22 milhões no Vietname, 21 milhões no Brasil, 10 milhões na Rússia e sete milhões na Índia.

"Quanto mais cresce a procura por estas matérias-primas, mais as pessoas as procuram e mais as encontram. O problema está mais na relação entre o custo de extração e o preço de mercado", analisa John Seaman, investigador do Instituto Francês de Relações Internacionais (Ifri).

No entanto, prevê-se que a procura continue a aumentar.
Para que servem?
Para a indústria, cada um destes minerais tem o seu objetivo próprio. Por exemplo, o európio é útil para ecrãs de televisão, o cério destina-se ao polimento de vidros e o lantânio usa-se em catalisadores de motores a gasolina.

Podem ser encontrados num drone, numa turbina eólica, num disco rígido, num motor de um carro elétrico, numa lente de telescópio ou num avião de combate.

"Alguns destes elementos são mais ou menos insubstituíveis ou têm custos elevados",
observou John Seaman citado pela AFP.

Insubstituíveis porque as suas propriedades são por vezes únicas, são preferidos, por exemplo, para o fabrico de ímanes permanentes para turbinas eólicas offshore, graças às qualidades do neodímio e do disprósio.

Uma vez instalados, os magnetos requerem pouca manutenção e apresentam um elevado desempenho, facilitando a operação deste equipamento instalado longe da costa.
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