Trump fala em "instrumentalização da justiça" para o impedirem de se apresentar às Presidenciais de 2024

por Paulo Alexandre Amaral - RTP
Sarah Silbiger - Reuters

Ainda antes de se apresentar perante um tribunal federal de Washington para ouvir a terceira leva de acusações dos últimos meses, desta vez a propósito da alegada tentativa de inverter os resultados das Presidenciais de 2020 em que foi derrotado por Joe Biden, Donald Trump denuncia uma “instrumentalização sem precedentes da justiça” do atual presidente para o impedirem de se apresentar na corrida à Casa Branca nas próximas eleições de 2024.

“Os democratas não querem enfrentar-me em campanha, de outra forma não teriam recorrido a esta instrumentalização da justiça que não tem precedentes”, escreveu Trump na sua rede social, a Truth Social, apontando o dedo ao presidente Joe Biden, que diz estar por detrás dos novos processos de que é alvo.

Na última terça-feira, Trump foi convocado para comparecer num tribunal federal em Washington depois de um grande júri o ter indiciado de quatro crimes de conspiração para alterar os resultados de 2020, que o republicano insiste ter-lhe roubado a eleição.

Naquele que é o terceiro processo a envolver Trump nos últimos meses, o ex-presidente está acusado de visar a democracia norte-americana na tentativa de subverter os resultados eleitorais: as acusações incluem conspiração para defraudar os Estados Unidos, conspiração para obstruir procedimentos legais, obstrução e tentativa de obstrução de procedimentos legais e conspiração contra os direitos dos norte-americanos, mormente a adulteração de testemunhas.

O republicano – que volta a apresentar-se em plena forma nas sondagens para ganhar a nomeação do GOP para defrontar Biden, deixando para trás o governador da Florida, Ron DeSantis, a nova coqueluche do partido – está indiciado de ligação a esforços para anular o resultado da eleição de 2020 e de ter procurado com os seus aliados anular a derrota nas últimas eleições.

“O esforço de Trump para anular as eleições de 2020 visou a função fundamental do governo federal dos Estados Unidos”, lê-se na acusação, que refere o período que antecedeu a investida de 6 de janeiro contra o Capitólio.

“Apesar da sua derrota, o arguido estava determinado a manter-se no poder. Como resultado, por mais de dois meses após a eleição de 3 de novembro de 2020, o réu espalhou falsidades de que houve fraude que alterou o resultado e que ele de facto ganhou”, observa a acusação, para acrescentar que “as alegações eram falsas e o arguido [Donald Trump] sabia que eram falsas, mas repetiu-as e divulgou-as amplamente, apesar de tudo”.

Donald Trump vai ouvir as acusações num tribunal que fica nas imediações do Capitólio, que foi invadido pelos seus apoiantes em janeiro de 2021 após uma série de mensagens e apelo equívocos do então ainda presidente em exercício. A audiência está marcada para as 16h00 locais (21h00 em Portugal Continental).

O procurador especial Jack Smith, responsável pela investigação do assalto ao Capitólio, diz que o seu gabinete “procurará um julgamento rápido para que as nossas acusações possam ser testadas no tribunal e julgadas por um júri de cidadãos”.

“O ataque à capital da nossa nação a 6 de janeiro de 2021 foi um ataque sem precedentes à sede da democracia americana. Conforme descrito na acusação, foi alimentado por mentiras do réu, com o objetivo de obstruir a função fundamental do governo dos EUA”, acrescentou Smith na última terça-feira aquando da divulgação das novas acusações contra Trump, o primeiro ex-presidente dos Estados Unidos a ser acusado criminalmente por um tribunal federal.

Já este ano, Trump foi visado em outros dois processos: um pelo alegado tratamento negligente de documentos confidenciais da Casa Branca, outro por pagamentos suspeitos a uma antiga atriz de filmes pornográficos.
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