Trump e presidente do México com relatos diferentes de conversa sobre migração

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
"Donald Trump" escrito no topo do muro na fronteira entre os Estados Unidos e o México Jose Luis Gonzalez - Reuters

Donald Trump e a presidente do México, Claudia Sheinbaum, mantiveram uma conversa telefónica na quarta-feira e ambos descreveram-na como "excelente", mas têm versões diferentes sobre o que foi discutido relativamente à migração. O presidente eleito norte-americano disse que Sheinbaum "concordou em travar a migração para os EUA ao fechar efetivamente a fronteira", mas a presidente mexicana afirma que o país não fechará fronteiras.

"Acabei de ter uma conversa maravilhosa com a nova presidente do México, Claudia Sheinbaum Pardo", disse Trump na rede social Truth Social, da qual é proprietário, acrescentando que o México aceitou travar a chegada de migrantes a território norte-americano "com efeito imediato".

“Sheinbaum concordou em travar a migração através do México e para os Estados Unidos, fechando efetivamente a fronteira sul dos EUA”, disse o presidente recentemente eleito. “Isto ajudará muito a parar a invasão ilegal dos Estados Unidos. Obrigado!”, acrescentou.

No entanto, a presidente mexicana apressou-se a responder a Trump, contradizendo as suas declarações.

Embora também descreva a conversa com Trump como “excelente”, Sheinbaum reiterou que "a posição do México não é fechar fronteiras, mas construir pontes entre governos e entre povos".

"Expliquei [a Donald Trump] a estratégia global que o México tem seguido para lidar com o fenómeno migratório", indicou a dirigente mexicana na quarta-feira na rede social X, afirmando que as caravanas de migrantes já não estão a chegar à fronteira porque o México tomou medidas para combater a migração ilegal.


A imigração ilegal foi um dos pontos-chave na campanha eleitoral de Donald Trump, que prometeu fechar a fronteira EUA-México.

Depois de um fluxo sem precedentes e de um pico histórico em dezembro, a imigração ilegal através desta fronteira diminuiu 40% devido às restrições impostas pela Administração Biden.

Sob pressão crescente de Washington, o México também aumentou a sua repressão migratória, transportando migrantes não mexicanos de autocarro e avião para o sul do país, longe da fronteira com os EUA. Esta prática tem como objetivo esgotar os migrantes, deixando-os sem recursos para continuar a jornada.
Novas taxas sobre importações
Sheinbaum e Trump também discutiram ideias para reduzir o consumo de fentanil no México e travar o fluxo destas drogas para os EUA, bem como as novas taxas sobre importações que Donald Trump prometeu impor. Nenhum dos dois esclareceu, no entanto, o que discutiram relativamente às novas taxas.

Na segunda-feira, Trump anunciou que iria aplicar um imposto de 25% sobre as importações do México e Canadá e de dez por cento à China.

O republicano esclareceu que os impostos sobre o México e o Canadá só seriam levantados quando a imigração ilegal e o tráfico de drogas para os EUA fossem travados.

Sheinbaum, por sua vez, prometeu retaliar se os EUA desencadeassem uma guerra comercial. "Se houver tarifas dos EUA, o México também aumentará as tarifas", disse a presidente do México na quarta-feira, acrescentando que nem ameaças nem tarifas vão resolver o "fenómeno migratório" ou o consumo de drogas nos EUA.

O ministro da Economia do México, Marcelo Ebrand, diz que estas taxas propostas por Trump são “um tiro no pé”, observando que os EUA podem perder até 400 mil empregos se avançarem com esta medida.
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