Nas horas que se seguiram à invasão do Capitólio por uma multidão de apoiantes, o ex-presidente Donald Trump "deitou gasolina no fogo" e "escolheu não agir", disse a comissão parlamentar que investiga o ataque.
"O presidente escolheu não fazer o que toda a gente lhe implorou que fizesse", afirmou a congressista Elaine Luria, um dos membros da comissão parlamentar que lideraram a oitava audiência pública esta madrugada em Washington.
A sessão, transmitida em horário nobre, debruçou-se sobre as ações de Donald Trump durante a tentativa de insurreição e a sua recusa em pedir aos invasores que parassem o ataque e fossem para casa.
Mesmo no rescaldo da violência e vários mortos, o presidente não queria ceder. "Não quero dizer que a eleição está terminada", reclamou Trump numa versão não editada do discurso filmado a 7 de janeiro, que estava a ler num teleponto.
A comissão apresentou também imagens nunca antes vistas da mensagem gravada várias horas depois do início do ataque, a 6 de janeiro, nas quais Trump se recusou a ler a declaração preparada pelo seu staff e em vez disso improvisou, dizendo aos invasores que a eleição foi roubada e eles eram "muito especiais".
O intuito foi mostrar, com uma cronologia ao minuto, como o ex-presidente "abandonou" o seu dever para com a nação. Em vez disso, passou várias horas na sala de jantar da Casa Branca a assistir ao ataque na televisão, via Fox News, e a fazer telefonemas a senadores pedindo-lhes que adiassem a certificação dos resultados das eleições.
"O presidente Trump não falhou por inação, ele escolheu não agir", sublinhou o congressista republicano Adam Kinzinger, outro dos membros que lideraram a audiência.
As notas que o então presidente publicou no Twitter foram consideradas incendiárias pelos seus próprios assistentes. Uma das notas repetia a falsidade sobre fraude eleitoral e criticava o vice-presidente Mike Pence, o principal alvo da fúria dos manifestantes, por não ter suspendido a certificação da vitória de Joe Biden.
"Era óbvio que a situação estava violenta e o 'tweet' sobre o vice-presidente era a última coisa de que precisávamos", disse a vice-secretária de comunicação da Casa Branca, Sarah Matthews, que se demitiu naquele dia. "Foi como dar luz verde àquelas pessoas, de que a sua raiva era justificada".
"Foi um 'tweet' terrível", considerou, num testemunho em vídeo, o ex-advogado da Casa Branca Pat Cipollone. "Fui muito claro que era preciso uma declaração imediata e firme de que as pessoas tinham de se ir embora", afirmou. "Muitos disseram isso, não apenas eu".
Provas e mais provas
Mas, durante 187 minutos, Trump não acedeu aos pedidos feitos por assistentes, aliados, membros da sua administração, legisladores republicanos e familiares para urgir o fim do ataque. Também não pediu reforços para auxiliar a polícia do Capitólio nem deu qualquer ordem ao Secretário da Defesa, Procuradoria-Geral, Segurança Interna ou FBI.
Foram mostradas mensagens de texto, testemunhos gravados em vídeo, áudio e os testemunhos presenciais do ex-vice-conselheiro de segurança nacional Matthew Pottinger e da vice-secretária de comunicação Sarah Matthews sobre as tentativas falhadas de persuadir Trump a agir.
Estas provas foram sendo alternadas com imagens e ficheiros de áudio inéditos mostrando a gravidade da situação, com legisladores encurralados e a fugir, e conversas entre invasores transmitidas via `walkie-talkie`.
A comissão apresentou ainda os testemunhos de duas pessoas, incluindo o sargento Mark Robinson, que corroboraram o testemunho da assistente Cassidy Hutchinson sobre uma altercação entre Trump e os agentes do serviço secreto que se recusaram a conduzi-lo para participar na marcha ao Capitólio.
As audiências públicas sobre esta investigação vão regressar em setembro.
Agentes que protegiam Mike Pence temeram pela vida
Os agentes que protegiam o então vice-presidente norte-americano Mike Pence no dia do ataque temeram pela vida e telefonaram às famílias para se despedirem.
"Os membros da equipa de segurança do vice-presidente começavam a temer pelas suas próprias vidas", afirmou um oficial de segurança da Casa Branca, cuja identidade não foi revelada, na oitava audiência da comissão parlamentar que investiga o assalto. "Havia muitos gritos e muitos telefonemas pessoais, para se despedirem das famílias".
Descrevendo uma situação caótica, ouvida nas comunicações de rádio, o oficial do Conselho de Segurança Nacional disse que os agentes estiveram "muito perto" de usar "opções letais ou pior".