O Presidente dos Estados Unidos resolveu antecipar o anúncio da sua decisão quanto ao acordo com Teerão sobre o programa nuclear iraniano. Donald Trump tinha dado aos seus aliados ocidentais até 12 de maio para convencerem o Irão a aceitar salvaguardas no documento, que Trump considera essenciais.
Como habitualmente, a decisão foi anunciada ao mundo pelo Presidente na rede social Twitter.
Trump revelou que irá anunciar a sua decisão "sobre o Acordo com o Irão", "a partir da Casa Branca", quando forem "duas da tarde" (19h00 em Lisboa).I will be announcing my decision on the Iran Deal tomorrow from the White House at 2:00pm.
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) 7 de maio de 2018
De acordo com várias fontes e a expectativa geral, o Presidente deverá anunciar que os Estados Unidos se retiram do acordo. A antecipação agitou contudo os mercados e o preço do petróleo sofreu flutuações.
Irão de pés firmes no chão
Depois das ameaças da semana passada, o Presidente Hassan Rouhani garantiu esta terça-feira, num discurso emitido pela televisão iraniana, que o seu país procura "relações construtivas", mas que irá prosseguir com o seu desenvolvimento interno apesar de eventuais sanções.
"O fundamento da nossa política externa são relações construtivas com o mundo", afirmou, citado pela agência Reuters.
"Estejamos ou não sob sanções, devemos firmar-nos sobre os nossos próprio pés. Isto é muito importante para o desenvolvimento do país", acrescentou ainda Rouhani, durante um encontro com gerentes petrolíferos em Teerão.
O Irão apela ainda aos outros países signatários para deixarem os Estados Unidos isolados na questão.
Consequências "inevitáveis"
Este acordo é melhor do que acordo nenhum, têm afirmado os aliados europeus de Washington, receosos de que Teerão faça marcha atrás e retome os esforços para obter armas nucleares.
Já esta terça-feira, o Kremlin alertou para "consequências nefastas" caso os EUA abandonem o acordo.
Haverá "consequências prejudiciais inevitáveis a quaisquer ações que levem à quebra destes acordos", disse aos jornalistas o porta-voz Dmitry Peskov.
Também a ministra francesa da Defesa, Florence Parly, sublinhou esta manhã à rádio RTL que o acordo não é perfeito mas que conseguiu suspender o programa nuclear militar iraniano e garantiu que Teerão tem respeitado o acordo.
Este é "um fator de paz e de estabilização numa região muito eruptiva", acrescentou Parly.
Argumentos repetidos à exaustão para tentar demover Donal Trump com o aproximar do fim do prazo dado pelo próprio Presidente.
Avisos de Teerão
O líder iraniano avisou domingo os Estados Unidos de consequências graves caso abandonem o acordo.
"Se os Estados Unidos deixarem o acordo nuclear, logo verão que irão arrepender-se como nunca antes na história", disse o Presidente iraniano, Hassan Rohani, num discurso em Sabzevar, no noroeste do Irão, transmitido pela televisão pública.
"Hoje, todas as tendências políticas sejam de direita, esquerda, conservadores, reformistas e moderados, estão unidas (...). Trump deve saber que o nosso povo está unido, o regime sionista (Israel) deve saber que o nosso povo está unido", disse Rohani.
O Presidente iraniano disse que "há vários meses deu as ordens necessárias", inclusive à Organização de Energia Atómica do Irão (AIEA), em antecipação à decisão de Trump, sem fornecer mais detalhes sobre a natureza dessas instruções.
Na quinta-feira, o assessor de assuntos internacionais do aiatola Ali Khamenei, foi mais longe, advertindo que o Irão deixaria o acordo nuclear se Washington implementasse a sua ameaça.
Acordo em 2015
O acordo foi alcançado sob a égide da Agência Internacional para a Energia Atómica, AIEA, e assinado em Viena de Áustria em 14 de julho de 2015. Firmou garantias do controlo internacional do programa nuclear iraniano de forma a assegurar os seus fins pacíficos.
Previu nomeadamente o levantamento progressivo das sanções internacionais impostas ao Irão em troca da garantia de que Teerão não se equipasse com armas atómicas.
O Irão aceitou reduzir as suas capacidades nucleares (de centrifugação, ou de armazenamento de urânio enriquecido) durante vários anos, tornando-lhe quase impossível desenvolve-las.
De 10.200 centrifugadoras em 2015, o país irá ficar apenas com 5.060, número que não poderá ultrapassar até 2025.
Na altura da assinatura do acordo, os analistas dos serviços de informação estimavam que o Irão estava a dois ou três meses de desenvolver armas nucleares. Depois, o intervalo foi alargado para mais de um ano.
O acordo foi subscrito pelo Irão, pela Alemanha, e pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, a França, o Reino Unido, a Rússia, a China e os Estados Unidos, então liderados por Barack Obama.
Teerão tem cumprido diz AIEA
Donald Trump denunciou-o como o "pior acordo internacional da história dos Estados Unidos" e prometeu deixar de o apoiar, caso se não passasse a incluir salvaguardas de retaliação, em caso de não cumprimento do acordo por parte do Irão.
A AIEA tem realizado inspeções regulares às capacidade nucleares iranianas e todos os seus relatórios recentes afirmam que Teerão está a cumprir os termos acordados.
Na semana passada, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, revelou uma enorme quantidade de documentos confidenciais iranianos obtidos através dos serviços de informação, acusando Teerão de ter um programa nuclear secreto e de ter mentido quando dizia não estar a tentar obter armas nucleares.
A maioria dos documentos era já antiga e o seu conteúdo conhecido ainda antes do acordo, reagiram depois vários países. A AIEA afirmou "não ter nenhuma indicação credível de atividades do Irão ligadas ao desenvolvimento de um engenho nuclear após 2009".