Tribunal congolês condena três americanos e 34 outras pessoas à morte sob a acusação de golpe de Estado

por Lusa

Um tribunal militar do Congo condenou hoje à morte 37 pessoas, incluindo três norte-americanos, acusadas de participarem numa tentativa de golpe de Estado.

Os réus, na sua maioria congoleses, mas também um britânico, um belga e um canadiano, além dos americanos, têm cinco dias para recorrer da sentença, sobre acusações que incluem tentativa de golpe de Estado, terrorismo e associação criminosa. Catorze pessoas foram absolvidas no julgamento, que teve início em junho.

O tribunal da capital, Kinshasa, condenou os 37 arguidos e impôs "a pena mais severa, a da morte" no veredicto proferido pelo juiz presidente, Major Freddy Ehuma, num processo de tribunal militar ao ar livre, que foi transmitido em direto pela televisão.

Os três americanos, vestidos com roupas azuis e amarelas da prisão e sentados em cadeiras de plástico, ouviram a sentença, explicada por um tradutor.

Richard Bondo, o advogado de defesa dos seis estrangeiros, disse que contestava o facto de a pena de morte poder ser atualmente aplicada no Congo, apesar de ter sido reintroduzida no início deste ano, e afirmou que os seus clientes não dispunham de intérpretes adequados durante a investigação do caso.

"Iremos contestar esta decisão em sede de recurso", declarou.

Em maio, seis pessoas foram mortas durante a tentativa de golpe de Estado mal sucedida, liderada por Christian Malanga, uma figura pouco conhecida da oposição, que visava o palácio presidencial e um aliado próximo do Presidente Felix Tshisekedi.

Segundo o exército congolês, Christian Malanga foi morto a tiro quando resistia à prisão, pouco depois de ter transmitido o ataque em direto nas suas redes sociais.

O filho, Marcel Malanga, de 21 anos, que é cidadão americano, e dois outros americanos foram condenados pelo ataque.

A sua mãe, Brittney Sawyer, afirma que o filho está inocente e que estava simplesmente a seguir o pai, que se considerava presidente de um governo sombra no exílio.

Nos meses seguintes à detenção do filho, Brittney Sawyer recusou vários pedidos de entrevista e concentrou a sua energia na angariação de fundos para enviar a Marcel dinheiro para comprar comida, produtos de higiene e uma cama.

Segundo Britney Sawyer, o filho tem dormido no chão da sua cela e sofre de uma doença hepática.

Os outros americanos são Tyler Thompson Jr., 21 anos, que viajou para África, vindo do Utah, com o jovem Malanga, para o que a sua família julgava ser umas férias, e Benjamin Reuben Zalman-Polun, 36 anos, que terá conhecido Christian Malanga através de uma empresa de extração de ouro.

O porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Matthew Miller, disse hoje aos jornalistas, em Washington, que o governo federal estava ciente da sentença.

O departamento não declarou que os três americanos foram detidos injustamente, o que torna improvável que tente negociar o seu regresso.

"Entendemos que o processo legal na RDC permite que os réus recorram da decisão do tribunal. O pessoal da embaixada tem estado a assistir a estes procedimentos à medida que avançam no processo. Continuamos a acompanhar de perto os desenvolvimentos", acrescentou.

Tyler Thompson tinha sido convidado para uma viagem a África pelo jovem Malanga, seu antigo colega de equipa de futebol americano no liceu, num subúrbio de Salt Lake City, mas o itinerário pode ter incluído mais do que visitas turísticas.

Outros colegas de equipa alegaram que Marcel Malanga tinha oferecido até 100.000 dólares para se juntar a ele num "trabalho de segurança" no Congo.

A família de Thompson afirma que o jovem não tinha conhecimento das intenções do velho Malanga, não tinha planos de ativismo político e nem sequer tencionava entrar no Congo.

A família Thompson tem estado a trabalhar com um advogado no seu estado natal, Utah, para encorajar as autoridades americanas a intervir, mas os senadores do Utah não pediram publicamente ao governo dos EUA que defendesse a libertação dos americanos.

O Congo restabeleceu a pena de morte no início deste ano, levantando uma moratória de mais de duas décadas, numa altura em que as autoridades lutam para travar a violência e os ataques de militantes no país.

O código penal do país permite que o presidente designe o método de execução. No passado, as execuções de militantes no Congo foram efetuadas por fuzilamento.

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