Trégua positiva mas Netanyahu é "perdedor" e retomará combates, diz diplomata palestiniano
O chefe da missão diplomática da Palestina em Lisboa considerou hoje a trégua no conflito entre Israel e Hamas "uma boa notícia", mas lamentou que o primeiro-ministro israelita tenha afirmado que, após o cessar-fogo, retomará os combates.
"É uma boa notícia porque, a cada minuto, a cada dia, olhamos para a televisão e vemos o número de pessoas mortas e a destruição em Gaza. Hoje é a notícia da esperança de que muitos reféns ou prisioneiros serão libertados e tenho a certeza de que haverá sorrisos nos rostos de algumas pessoas, por parte das suas famílias de ambos os lados", disse à agência Lusa Nabil Abuznaid, que participou hoje numa iniciativa de estudantes universitários em favor da Palestina.
Abuznaid salientou esperar que os quatro dias de cessar-fogo possam ser "o início de uma trégua final que ponha fim a esta guerra e que ponha fim à ocupação das terras palestinianas".
Questionado pela Lusa sobre o facto de o primeiro-ministro israelita ter afirmado que, logo após a trégua, continuará as ações com vista à eliminação do Hamas na Faixa de Gaza, o diplomata palestiniano acusou Benjamim Netanyahu de querer "uma vitória a qualquer preço".
"Netanyahu é um perdedor, perdeu a popularidade do seu povo, é acusado de corrupção, não conseguiu sequer proteger Israel no dia 07 de outubro e esta é realmente a situação atual. Está à procura de uma vitória a qualquer preço, o que, na minha opinião, não é possível em guerras. Não conseguiu sequer proteger o seu próprio povo", sustentou.
"Penso que a vitória seria se ele avançasse para a paz para acabar com a ocupação. Penso que foi isso que [Itzhak] Rabin [o quinto primeiro-ministro de Israel, de 1974 a 1977, e de 1992 até ao seu assassínio em 1995] aprendeu com a primeira Intifada. Quando viu a violência e viu a posição da comunidade internacional, pensou que a melhor maneira era falar com o inimigo, os palestinianos, e assinou um acordo de paz com [Yasser] Arafat [presidente da Organização para a Libertação da Palestina -- OLP, e líder da Fatah)", acrescentou Abuznaid.
Para o diplomata palestiniano, ao evitar seguir o caminho de Rabin, o atual primeiro-ministro israelita "deixou de ter credibilidade para continuar a ser um líder" em Israel, pois colocou o país numa "situação difícil".
Israel e o movimento islamita Hamas chegaram a um acordo sobre a libertação de reféns detidos na Faixa de Gaza em troca de prisioneiros palestinianos, e que também prevê uma "pausa humanitária" de quatro dias, como referiu o Qatar, um dos mediadores deste entendimento.
O objetivo é permitir a entrada de mais ajuda humanitária e de emergência, no contexto do cerco total que o enclave palestiniano enfrenta, sem abastecimento de água, eletricidade e combustível.
A 07 de outubro, combatentes do Hamas -- desde 2007 no poder na Faixa de Gaza e classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos, a União Europeia (UE) -- realizaram em território israelita um ataque de dimensões sem precedentes desde a criação do Estado de Israel, em 1948, fazendo 1.200 mortos, na maioria civis, cerca de 5.000 feridos e mais de 200 reféns.
Em retaliação, Israel declarou uma guerra para "erradicar" o Hamas, que começou por cortes ao abastecimento de comida, água, eletricidade e combustível na Faixa de Gaza e bombardeamentos diários, seguidos de uma ofensiva terrestre que cercou a cidade de Gaza.
A guerra entre Israel e o Hamas, que hoje entrou no 47.º dia e continua a ameaçar alastrar a toda a região do Médio Oriente, fez até agora na Faixa de Gaza mais de 14 mil mortos, na maioria civis, e mais de 33.000 feridos, de acordo com o mais recente balanço das autoridades locais, e 1,7 milhões de deslocados, segundo a ONU.