Mais 11 pessoas ficaram cegas em Moçambique, na província de Cabo Delgado, após recorrerem a "tratamento caseiro" para a conjuntivite, disse hoje o diretor clínico do Hospital Provincial de Pemba, Cristóvão Matsinhe, depois de casos idênticos em Nampula.
"Tivemos três casos com perda total de visão nos dois olhos. Os outros oito tiveram perda de visão não na totalidade, ou seja, apenas um olho de cada um deles se perdeu totalmente", disse o diretor clínico do Hospital Provincial de Pemba, em Cabo Delgado.
Segundo a fonte hospitalar, em declarações à televisão estatal de Moçambique (TVM), em causa está "o tratamento caseiro da conjuntivite, com destaque para colocação de urina nos olhos, pasta dentrífica, água da praia e piripiri".
A província de Cabo Delgado foi das primeiras a ser afetada pelo surto de conjuntivite, chegando a mais de mil casos diários, número que atualmente reduziu para 50, segundo as autoridades locais.
Dados revelados pelo diretor clínico do Hospital Provincial de Pemba indicam que até agora foram registados 11.174 casos de conjuntivite bateriana e 155 de conjuntivite hemorrágica.
"Neste momento temos a situação mais ou menos controlada. Nestas últimas semanas estamos a ter um registo diário abaixo de 50 casos de conjuntivite hemorrágica, o que para nós é satisfatório", assegurou.
Na quarta-feira, nove pessoas ficaram cegas, na província de Nampula, norte de Moçambique, devido a "perfurações irreversíveis" provocadas pelo recurso a substâncias como urina e combustível contra a conjuntivite hemorrágica.
"Há nove pacientes que tiveram que retirar os olhos. Estes pacientes chegaram com perfurações graves" e "numa fase irreversível" devido à automedicação contra a conjuntivite hemorrágica, afirmou Sândia Sumbane, médica oftalmologista do Hospital Central de Nampula.
Mais dois pacientes estão também em risco de ficar sem a visão, porque sofreram igualmente lesões irreparáveis, dos 23 doentes neste momento internados com conjuntivite hemorrágica, detalhou aquela médica oftalmologista.
"Há casos de pacientes que fazem a lavagem com a urina, alguns com água e sabão em forma de gotas no olho, são pacientes que tiveram conjuntivite hemorrágica e a maior parte deles não se dirigiram à unidade sanitária, preferiram fazer automedicação", acrescentou Sândia Sumbane.
No dia 22 de março, o presidente da Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), Agostinho Vuma, alertou, em Maputo, que o surto de conjuntivite que afeta várias regiões do país está a condicionar a produtividade das empresas.
"A emergência do surto de conjuntivite está a afetar a produtividade laboral. As empresas têm estado a dispensar os funcionários afetados, que ficam mais de 15 dias em casa, afetando o desempenho das empresas", disse Vuma.
O Ministério da Saúde indicou recentemente que aumentaram para aproximadamente 17 mil os moçambicanos infetados pelo adenovírus que causa a conjuntivite hemorrágica, particularmente nas províncias de Nampula e de Sofala.
"As empresas são parte da sociedade e, como tal, têm responsabilidades, não somente pelo facto de o recurso mais precioso ser o trabalhador, mas também pelas famílias que são o garante do mercado para os produtos por si produzidos. Nesta senda, em jeito de solidariedade face à conjuntivite hemorrágica que está a afetar a nossa população, queremos apelar que a comunidade se una, e estejamos atentos às diretrizes emanadas pelas autoridades de saúde para mitigar a propagação deste mal e proteger a saúde de todos", apelou Vuma.
Em 11 de março, segundo dados oficiais, pelo menos sete províncias moçambicanas tinham casos de conjuntivite, a maior parte dos quais em Nampula, no norte de Moçambique. Entretanto, só no Hospital Central da Beira, província de Sofala, a maior unidade de saúde do centro do país, registava-se um acumulado de 2.800 casos de conjuntivite até 19 de março.