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Tragédia ao largo da Grécia. Barco naufragado levava uma centena de crianças no porão

por RTP
Estamos perante um dos maiores desastres de migrantes no Mediterrâneo: 600 mortos numa noite. Eurokinissi via Reuters

Até ao momento foram recuperados 78 corpos do naufrágio desta quarta-feira ao largo da Grécia. Com apenas 104 sobreviventes recuperados do barco de pesca naufragado a 80 km da vila costeira de Pylos quando tentava a travessia entre a Líbia e Itália, aqueles que se salvaram falam agora de mulheres e pelo menos uma centena de crianças que viajavam nos porões.

Numa reacção inédita face a este tipo de acontecimentos, o executivo de Atenas decretou três dias de luto nacional e a suspensão da campanha eleitoral a pouco mais de uma semana das eleições de 25 de junho.

Poder-se-ia falar de cinismo das autoridades políticas gregas depois de o país ter aceitado entrar no jogo do empurra no que diz respeito aos refugiados que chegam às costas do país, um jogo em que tem na Turquia um parceiro de muitos anos, desde que a União Europeia procurou em Ancara e nas costas africanas um tampão natural para as vagas daqueles que procuram a Europa.

Esta quinta-feira um barco da guarda-costeira grega chegou a Kalamata com as vítimas do naufrágio: 78 até ao momento. Trata-se de um número conservador quando fazemos as contas aos 104 sobreviventes num total de mais de sete centenas de pessoas a bordo. As autoridades admitem para já que meio milhar de pessoas se encontram desaparecidas e as buscas deverão ficar encerradas durante a manhã de sexta-feira.

São no entanto escassas as esperanças alimentadas de recuperar o navio ou os seus ocupantes, dada a profundidade das águas onde ocorreu a tragédia.

Os sobreviventes, todos homens entre os 16 e os 40 anos, estão em choque face à incerteza quanto ao destino dos companheiros de viagem, alguns família e amigos.
“São oriundos do Afeganistão, Paquistão, Síria e Egipto. Estamos a falar de homens muito novos na sua grande parte, e que estão agora psicologicamente em estado de choque e de exaustão”, sublinhou Giorgos Farvas, vice-presidente da câmara de Kalamata.

Alguns dos sobreviventes tiveram que ser hospitalizados por apresentarem quadros de pneumonia e esgotamento físico, tendo sido deles que os médicos do Hospital de Kalamata ouviram da existência de 100 crianças que viajavam nos porões do navio. Um dos sobreviventes, questionado por um repórter do canal grego ANT1 sobre se era verdade que havia essa centena de crianças a bordo, respondeu: “Sim”.

São números que fazem deste um dos maiores desastres entre migrantes que procuram a travessia do Mediterrâneo rumo ao Continente Europeu: 600 mortos numa noite.

“Por agora é apenas um palpite, mas estamos a trabalhar numa estimativa de cerca de 500 desaparecidos. Ao que parece, havia mulheres e crianças a viajar no porão”
, admitiu Nicolaos Spanoudakis, inspector da polícia grega.
 
“O barco de pesca [que transportava estes migrantes] tinha entre 25 e 30 metros de comprimento. O convés estava apinhado de pessoas e nós presumimos que também o seu interior estava lotado”, indicou um porta-voz da guarda-costeira grega.

Até esta semana a pior tragédia envolvendo migrantes no Mediterrâneo acontecera em junho de 2016, há sete anos, quando elo menos 320 pessoas morreram ou foram dadas como desaparecidas num naufrágio próximo da ilha de Creta.

As Nações Unidas registaram 20 mil mortes ou desaparecimentos no Mediterrâneo desde 2014, o que faz desta a rota de passagem mais perigosa do mundo para migrantes e refugiados.
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