Tráfico de droga. Singapura vai executar primeira mulher em 20 anos

por Rachel Mestre Mesquita - RTP
Caroline Chia - Reuters

Singapura prepara-se para executar esta semana duas pessoas condenadas por tráfico de droga, incluindo uma mulher, o que acontece pela primeira vez em quase 20 anos. Organizações de defesa dos Direitos Humanos denunciam a aplicação da pena de morte e apelam ao fim das execuções no país.

Saridewi Djamani, 45 anos, foi condenada por tráfico de 30 gramas de diamorfina (heroína) em 2018 e deverá ser executada esta sexta-feira, segundo a associação Transformative Justice Collective (TJC), com sede em Singapura.Esta singapuriana é a primeira mulher a ser condenada à pena capital desde 2004, quando Yen May Woen foi igualmente sentenciada por tráfico de drogas.


Será a segunda condenada executada em três dias
, depois de um homem malaio de Singapura, Mohd Aziz bin Hussain, considerado culpado de tráfico de 50 gramas de heroína, ter sido executado esta quarta-feira. É a 15ª desde 2022, depois de em abril outro cidadão singapuriano, Tangaraju Suppiah ter sido executado por ter coordenado através do telemóvel o tráfico de um quilo de cannabis.

De acordo com a imprensa local, durante o seu julgamento, Saridewi Djamani não negou a venda de heroína e metanfetamina no seu apartamento mas argumentou que estava a armazenar para consumo pessoal durante o mês de jejum islâmico 
O limite de 15 gramas de heroína para a pena de morte

A legislação antidroga de Singapura é uma das mais duras do mundo, onde o tráfico de mais de 500 gramas de cannabis e de 15 gramas de heroína é punido com a pena de morte. "É inaceitável que as autoridades de Singapura continuem a proceder a novas execuções em nome da luta contra a droga", protestou a especialista em pena de morte da Amnistia Internacional, Chiara Sangiorgio.

As autoridades consideram que as leis antidroga do país são necessárias para proteger a sociedade e tornar este Estado insular num dos locais mais seguros do mundo, mas os defensores dos Direitos Humanos refutam este argumento por considerarem que não há provas de que a prática tenha um efeito dissuasor ou qualquer impacto sobre o consumo ou disponibilidade de drogas no país.

Singapura é um dos quatro países, juntamente com a China, o Irão e a Arábia Saudita, onde foram praticadas execuções por crimes relacionados com drogas em 2022.

"É mais do que tempo de Singapura inverter o rumo”, afirma Chiara Sangiorgio. "Numa altura em que países de todo o mundo eliminam a pena de morte e adotam uma reforma das políticas em matéria de droga, as autoridades de Singapura não estão a fazer nem uma coisa nem outra", acrescentou a especialista em comunicado.

As organizações de Direitos Humanos apelam aos governos, ao Gabinete das Nações Unidas contra a Droga e o Crime (UNODC) e ao Conselho Internacional de Controlo de Estupefacientes (INCB) para que “aumentem a pressão sobre Singapura, de modo a que todas as execuções terminem e as políticas de controlo da droga se baseiem na promoção e proteção dos direitos humanos”, lê-se no comunicado da Amnistia Internacional.

Os dois organismos das Nações Unidas - o UNODC e o INCB - responsáveis pelo desenvolvimento e controlo das políticas de luta contra a droga, instaram os governos a proceder à abolição da pena de morte e condenaram a sua aplicação a crimes relacionados com droga.
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