Tomada de posse. Presidente de Taiwan exorta China a pôr termo às ameaças

por Rachel Mestre Mesquita - RTP
O novo presidente de Taiwan, William Lai, de 64 anos, durante a cerimónia de tomada de posse no Palácio Presidencial de Taiwan, em Taipé, a 20 de maio Ichiro Ohara Yomiuri via AFP

No discurso inaugural durante a cerimónia de tomada de posse, esta segunda-feira, o novo presidente de Taiwan, William Lai, apelou à China para que reconheça a existência de Taiwan, cesse "a intimidação política e militar" contra este território e mantenha o mundo livre do medo de uma nova guerra. O Governo chinês ainda não reagiu à tomada de posse de Lai, que considera um "separatista perigoso", mas anunciou sanções contra várias empresas norte-americanas "envolvidas na venda de armas a Taiwan".

O recém-empossado presidente de Taiwan, William Lai Ching-te, de 64 anos, instou Pequim a respeitar a escolha do povo taiwanês, a aceitar a existência da democracia da ilha e a substituir o confronto pelo diálogo, deixando claro que Taiwan não recuará perante as crescentes intimidações da China, que há muito reivindica a ilha como sua.

"Espero que a China encare a realidade da existência da República da China existe (nome oficial de Taiwan), respeite a escolha do povo de Taiwan, mostre sinceridade e substitua o confronto pelo diálogo", afirmou o novo líder no seu discurso de tomada de posse, sob aplausos, escreve o jornal japonês Nikkei Asia.

Nos últimos anos, a China tem vindo a aumentar a pressão sobre Taiwan que considera parte do seu território, e não uma entidade política soberana, levando a cabo constantes incursões militares em torno das águas e do espaço aéreo da ilha nos últimos anos. O Governo chinês avisou que uma proclamação formal de independência seria tomada como uma declaração de guerra. 

Lai Ching-te, conhecido como um defensor acérrimo da soberania de Taiwan e considerado por Pequim um "separatista perigoso", reiterou que nada faria para alterar o status quo de Taiwan - um estatuto diplomático ambíguo, que não reconhece Taiwan como um país, apesar da sua constituição e Governo soberano-  mas considerou a ameaça chinesa o "maior desafio estratégico para a paz e a estabilidade globais" e apelou à China para que cessasse a sua intimidação.

A China deve "parar as suas intimidações políticas e militares contra Taiwan, partilhar com Taiwan a responsabilidade pelo mundo e pela manutenção da paz e estabilidade no Estreito de Taiwan, bem como em toda a região, e garantir que o medo seja libertado do medo da guerra", disse Lai Ching-te, de acordo com o Nikkei Asia. "O futuro das relações entre os dois lados do Estreito (de Taiwan) terá um impacto decisivo no mundo. Isto significa que nós, que herdámos uma Taiwan democrática, somos pilotos para a paz", afirmou Lai.

Para fazer face à ameaça de Pequim, o novo presidente de Taiwan propôs os seus "Quatro Pilares da Paz" assentes no reforço da defesa nacional, na melhoria da segurança económica, numa liderança estável e baseada em princípios entre os dois lados do Estreito e numa diplomacia baseada em valores, de acordo com o jornal taiwanês Taipei Times.

"A paz é a única opção", afirmou Lai Ching-te, que mencionou a palavra "paz" 23 vezes durante o seu discurso, explicando que Taiwan e o mundo não podem permitir mais guerra, referindo-se aos conflitos na Ucrânia e no Médio Oriente. "E a prosperidade, obtida através de uma paz e estabilidade duradouras, é o nosso objetivo", acrescentou, num discurso com tom conciliador em que disse gostar de assistir a uma reabertura das trocas comerciais entre a China e Taiwan, que visasse o turismo e o ensino.

Mas durante o seu discurso de tomada de posse o Ministério chinês do Comércio anunciou sanções contra três empresas norte-americanas "envolvidas na venda de armas a Taiwan", avançou a agência de notícias estatal chinesa Xinhua. As empresas General Atomics Aeronautical Systems, General Dynamics Land Systems e Boeing Defense, Space & Security foram colocadas na lista de "entidades não confiáveis", informou a agência, citando o ministério chinês do Comércio.

As empresas norte-americanas "serão proibidas de qualquer atividade de importação-exportação ligada à China e de qualquer novo investimento na China", de acordo com a Xinhua. "Os principais executivos destas empresas estão proibidos de entrar na China e as suas autorizações de trabalho serão revogadas", acrescentou a agência.

O anúncio surge no dia em que William Lai, de 64 anos, assumiu o cargo de presidente de Taiwan, sucedendo a Tsai Ing-wen que esteve no poder oito anos, e inicia oficialmente um mandato no qual procurará preservar a autonomia de Taiwan em relação à China, depois de ter vencido a tripla corrida presidencial em janeiro, garantindo um terceiro mandato ao seu Partido Democrático Progressista (PDP).

c/ agências
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