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"Tirem o nariz" da Venezuela. Maduro responde após Washington reconhecer vitória da oposição

por Paulo Alexandre Amaral - RTP
Yuri Cortez - AFP

Os Estados Unidos não aceitam os resultados divulgados pelo Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela e consideraram Edmundo González o vencedor das eleições do último domingo. Uma semana depois do escrutínio, a posição norte-americana foi anunciada por Antony Blinken na rede social X. A resposta de Nicolás Maduro ao secretário de Estado norte-americano foi pronta: “Tirem o nariz” da Venezuela.

O secretário de Estado norte-americano escreveu esta noite na sua conta oficial que duvida da vitória de Nicolás Maduro, para defender que “os venezuelanos votaram e os seus votos devem contar”.

“Os resultados eleitorais demonstram de forma contundente a vontade do povo venezuelano: o candidato da oposição democrática @EdmundoGU obteve o maior número de votos nas eleições de domingo. Os venezuelanos votaram e os seus votos devem contar”, pode ler-se na conta de Antony Blinken.


Em comunicado datado de quinta-feira, o secretário de Estado norte-americano aponta “provas incontestáveis” no sentido da vitória de González: “Tendo em conta provas incontestáveis, é claro para os Estados Unidos e, sobretudo, para o povo venezuelano, que Edmundo González Urrutia obteve mais votos na eleição presidencial de 28 de julho”.

Blinken validou a contagem de votos apresentada pela oposição, liderada por María Corina Machado, segundo a qual González Urrutia “recebeu a maioria dos votos com uma margem insuperável”. Lembrou ainda que as contagens “recebidas diretamente das assembleias de voto” corroboram as sondagens à boca das urnas e as conclusões dos observadores independentes.
“Temos consultado intensamente parceiros e aliados e embora cada país tenha tomado caminhos diferentes para responder nenhum concluiu que Nicolás Maduro tenha recebido a maioria dos votos", sublinhou o secretário de Estado, para acrescentar que o comunicado de terça-feira do Centro Carter “tirou toda a credibilidade aos resultados anunciados pelo CNE”.
"Processo não cumpriu padrões"

Num comunicado contundente, o Centro Carter, que costuma acompanhar processos eleitorais como observador sublinha, considerou que as presidenciais venezuelanas não podem ser consideradas democráticas já que de forma alguma “respeitaram os parâmetros e padrões internacionais de integridade eleitoral”.

“O processo eleitoral da Venezuela não cumpriu os padrões internacionais de integridade eleitoral em nenhuma das suas fases e violou numerosas disposições das suas próprias leis nacionais. A eleição ocorreu num ambiente de liberdades restritas para atores políticos, organizações da sociedade civil e meios de comunicação”, considerou o Centro Carter, denunciando que “a CNE demonstrou um claro viés a favor do incumbente” ao longo de todo o processo eleitoral.

Entre as irregularidades apontadas pela ONG norte-americana fundada há mais de quatro décadas pelo antigo presidente Jimmy Carter, estão “os prazos demasiado curtos do recenseamento eleitoral”, a existência de “poucos locais de inscrição e informação pública mínima [com] os cidadãos no estrangeiro a enfrentar requisitos legais excessivos para se registarem, alguns dos quais parecendo ser arbitrários”.

O Centro Carter acrescentou que “não pôde verificar ou corroborar a autenticidade dos resultados”, sendo “uma grave violação dos princípios eleitorais [que] a autoridade eleitoral não tenha anunciado os resultados discriminados por mesa de voto”.

A organização tinha pedido logo na segunda-feira, dia seguinte à eleição, ao conselho eleitoral no sentido da publicação imediata de “todas as atas das mesas de voto instaladas durante a jornada eleitoral celebrada em 28 de julho” considerando que a “informação das atas transmitidas ao CNE é indispensável [para a sua] avaliação e fundamentalmente para o povo venezuelano”.

O pedido não foi contudo atendido e, cinco dias decorridos após o escrutínio, não são ainda conhecidas as atas pedidas até por tradicionais aliados internacionais de Nicolás Maduro.

O presidente, segundo a pronunciação da CNE, foi reeleito com 51,20 por cento dos votos, a que correspondem 5,15 milhões de votos, enquanto o principal candidato da oposição, Edmundo González Urrutia, obteve cerca de 4,5 milhões de votos, o que dará 44,2 por cento. A oposição contesta estes números e reivindica vitória com 70 por cento dos votos. Corina Machado fala de 6,27 milhões de votos em Edmundo González, contra 2,7 milhões para Maduro.
Brasil, Colômbia e México pedem divulgação das atas

Os presidentes de Brasil, Colômbia e México dizem acompanhar “com muita atenção o escrutínio dos votos” dos venezuelanos e pedem às autoridades eleitorais do país para que avancem de forma expedita no sentido da divulgação dos dados por mesa de voto.

Estes líderes pedem que “as controvérsias sejam resolvidas pelas vias institucionais” para que a vontade popular seja respeitada, lembrando que a paz social e a proteção de vidas humanas devem ser as preocupações prioritárias.

Entretanto, o Tribunal Superior da Venezuela aceitou o pedido de Maduro para que certificar os resultados eleitorais e pediu a todos os candidatos para que apresentem as contagens de votos nas eleições.

Nicolás Maduro garantiu ontem disponibilidade para divulgar todas as atas eleitorais.
“Tirem o nariz” da Venezuela

O presidente venezuelano respondeu ainda ao secretário de Estado Antony Blinken dizendo, no seu estilo inconfundível, para Washington “tirar o nariz” da Venezuela.

“Os Estados Unidos deviam tirar o nariz da Venezuela porque é o povo soberano que governa na Venezuela, que põe, que escolhe, que diz, que decide”, declarou Maduro durante uma emissão do canal estatal de televisão VTV.

Maduro reagia assim ao comunicado do secretário de Estado, no qual Antony Blinken afirmou que a Administração norte-americana concluíra que González Urrutia foi o vencedor das eleições com base em “provas esmagadoras”.
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