O líder do maior partido da oposição timorense, Xanana Gusmão, disse hoje estar confiante em alcançar a maioria absoluta nas legislativas de hoje em Timor-Leste, afirmando que a prioridade será corrigir o que diz serem erros do atual Governo.
"Passámos um mês inteiro em campanha, em todo o país, e posso dizer que vamos ganhar a maioria absoluta", disse o líder do Congresso Nacional para a Reconstrução de Timor-Leste (CNRT) depois de votar em Balibar, nos arredores da capital timorense.
Xanana Gusmão votou pouco depois da abertura das urnas, numa jornada que se prolonga até às 15:00 e da qual sairão os próximos 65 deputados do Parlamento Nacional, e daí o 9º Governo constitucional.
O líder do CNRT, atualmente segunda força no parlamento, disse que os últimos seis anos ficaram caracterizados por atropelos quer ao Estado de direito quer ao sistema financeiro montado no país, questão que, se vencer, quer corrigir.
"Como um país jovem estamos num processo de construção nacional e do Estado. Houve muitas violações e desrespeito do sistema, especialmente do financeiro e por isso o que temos de fazer se ganharmos é corrigir isso", afirmou.
"Segundo, temos um outro processo de construção nacional que temos que continuar, o nosso programa que foi sempre definido no plano estratégico de desenvolvimento. E nada foi feito sobre isso nos últimos seis anos", sublinhou.
Noutro âmbito, Xanana Gusmão agradeceu à pandemia da covid-19 por ter atraso as negociações sobre o futuro desenvolvimento dos campos do Greater Sunrise, reiterando a sua desconfiança sobre a capacidade da atual equipa que lidera o setor em Timor-Leste.
"Agradecemos ao covid que não deixou que o atual governo começasse este processo", disse.
Neste âmbito mostrou-se confiante que o atual Governo australiano, do partido trabalhista e eleito em 2022, ajudará a avançar nesse processo e na relação entre os dois países.
"Tentamos sempre entender tudo, relacionar-se com os nossos vizinhos. Confio neste Governo australiano, confio em que poderemos limpar todos os erros do passado. Será muito importante porque precisamos de viver num ambiente de entendimento e respeito mútuo e por isso confio no atual governo", disse.
A Austrália tem uma das maiores delegações de observadores à eleição de hoje, incluindo três parlamentares, entre elas Rebekha Sharkie, da Centre Aliance e deputada no parlamento federal.
Sharkie esteve hoje na zona de Metiaut a observar a votação do chefe de Estado, José Ramos-Horta, altura em que disse à Lusa ser um privilégio poder ver os timorenses a exercer os seus direitos democráticos de uma forma pacífica, algo que considerou um bom exemplo para a região.
"Absolutamente. Como membro do parlamento australiano, a meu desejo é que os membros do parlamento venham mais vezes, não apenas durante as eleições"; disse.
"Não estou aqui a representar o Governo australiano, mas penso que o relacionamento é bastante forte e que os membros do parlamento australiano têm uma enorme consideração pelas pessoas de Timor-Leste. E o nosso compromisso em estar aqui, nas eleições, de sermos observadores, demonstra como valorizamos as pessoas de Timor-Leste", afirmou.
São 17 os partidos que disputam as eleições de hoje em Timor-Leste, cuja contagem pode demorar vários dias. Mais de 890 mil eleitores estão registados para a votação, na qual vão ser escolhidos os 65 deputados do Parlamento Nacional.
Oito dos partidos têm assento parlamentar e um faz a sua estreia, sendo que para eleger deputados as forças políticas têm de obter mais de 4% dos votos válidos.
A jornada eleitoral decorre até às 15:00 (07:00 em Lisboa), com o maior número de sempre de eleitores no país e na diáspora, e o maior número de centros de votação.
Milhares de observadores de Timor-Leste e de vários países e centenas de jornalistas estão acreditados para acompanhar a votação.
Timor-Leste, uma ex-colónia portuguesa até 1975, mas invadida e anexada no mesmo ano pela Indonésia, tornou-se no mais jovem Estado soberano do século XXI, a 20 de maio de 2002, dia em que o país assinala a restauração da independência.
Timor-Leste é um dos países mais pobres do mundo, com 42% dos cerca de 1,3 milhões de habitantes a viverem abaixo da linha de pobreza, de acordo com as Nações Unidas.