Timor-Leste, 20 anos depois do referendo: "Portugal manteve a questão na agenda internacional"
Em entrevista à RTP numa altura em que se assinalam os 20 anos do referendo de independência de Timor-Leste, realizado a 30 de agosto de 1999, o diplomata Fernando d'Oliveira Neves recorda como decorreram as negociações.
Fernando d'Oliveira Neves foi o negociador em representação de Portugal nas negociações tripartidas em que também participou a Indonésia, com a mediação das Nações Unidas.
As negociações que antecederam o referendo decorreram entre 1997 e 1999, numa altura em que Timor-Leste era um território ocupado pela Indonésia há mais de duas décadas e pouco ou nada fazia prever um processo de independência bem sucedido.
No livro "O Negociador: Revelações Diplomáticas sobre Timor-Leste" (ed. Dom Quixote), o diplomata revela como decorreram as negociações do ponto de vista diplomático.
Nesta entrevista à RTP, conduzida por Alberta Marques Fernandes, Fernando d'Oliveira Neves sublinha que Portugal "não deixou nunca cair a questão de Timor-Leste" no seio das instituições internacionais e fez tudo o que tinha ao seu alcance para manter a questão na agenda internacional.
Destaca ainda que Portugal "fez lobby" a favor de Timor "em toda a parte", inclusive com "hostilidade aberta, franca e frontal" contra os restantes países da União Europeia nesta questão.
"É raro o diplomata português (...) que não tenha dado o seu contributo para este processo", salienta.
Para além da "persistência" e da "acutilância" que atribui à diplomacia portuguesa na questão de Timor, Fernando d'Oliveira Neves lembra que houve a capacidade de "aproveitar as circunstâncias", considerando que o fim da Guerra Fria e as mudanças na política interna em Jacarta foram decisivas para um desfecho positivo.
O diplomata recorda também o que correu mal logo após a consulta popular, que a situação iria "piorar antes de melhorar".
"Era inevitável que houvesse um surto de violência, fosse qual fosse o resultado", considera Fernando d'Oliveira Neves.
Após o referendo de agosto de 1999, que ditou a vitória esmagadora do "sim" à independência, uma enorme onda de violência voltou a afetar Timor-Leste. O fim efetivo da ocupação pela Indonésia só aconteceria anos mais tarde, a 20 de maio de 2002.