Theresa May perde maioria absoluta nas eleições britânicas

por Andreia Martins - RTP
Peter Nicholls - Reuters

A votação de quinta-feira ditou uma frágil vitória do Partido Conservador, que perdeu pelo menos 12 deputados em relação às eleições anteriores, em 2015. Um resultado inconclusivo que deixa o Parlamento britânico fragmentado e o futuro do próximo Governo mais incerto, em véspera do arranque das negociações para o Brexit. Mesmo sem maioria absoluta, Theresa May visita a rainha Isabel II ainda esta sexta-feira para propor a formação de Governo.

Hung parliament, ou na fórmula portuguesa, um Parlamento em suspenso. Com 648 dos 650 lugares declarados, os tories conseguiram garantir 318 deputados (com 42,4 por cento), aquém dos 326 necessários para garantir a maioria absoluta que Theresa May pretendia retirar destas eleições.

O Partido Trabalhista, liderado por Jeremy Corbyn, garantiu 261 lugares (com 40 por cento dos votos) na nova composição da Câmara dos Comuns, o que representa uma subida de 29 lugares na comparação com as últimas eleições legislativas. Seguem-se os Liberais Democratas, com 12 deputados e 7,3 por cento no conjunto dos votos.

Na Escócia, o SNP conseguiu 35 dos 59 lugares do Parlamento escocês, com 36,9 por cento dos votos, mas perdeu 21 deputados para conservadores, trabalhistas e liberais democratas, colocando em xeque a realização de um novo referendo à independência. O UKIP, partido de extrema-direita que protagonizou o referendo no ano passado, desapareceu do Parlamento, ao perder o único deputado que tinha como representante. Mesmo sem maioria absoluta, Theresa May vai visitar esta sexta-feira o Palácio de Buckingham para anunciar que vai tentar a formação de Governo com a liderança dos conservadores.

Com este resultado, nenhum partido consegue assegurar uma maioria absoluta, restando a cada um a tentativa de entendimento com diferentes formações políticas nas próximas semanas, quando faltam apenas dez dias para o início oficial das negociações com Bruxelas, no âmbito da saída da União Europeia.

Durante a madrugada, a primeira-ministra reagia aos resultados e prometia aos britânicos uma "liderança forte", apesar do fraco resultado.

"Nesta altura, mais do que qualquer coisa, este país precisa de um período de estabilidade. Se de facto o Partido Conservador conquistou o maior número de lugares e o maior número de votos, caberá a nós o dever de garantir um período de estabilidade, e é precisamente isso que vamos fazer", assegurou a líder conservadora.
Corbyn quer Governo trabalhista
Na primeira reação aos resultados, Jeremy Corbyn destacou o falhanço de Theresa May nestas eleições, tendo em conta os objetivos a que se propôs. "O mandato que Theresa May recebeu foi a perda de lugares para o Partido Conservador, a perda de votos, a perda de apoios e de confiança", enfatizou o líder do Labour.


Corbyn foi mais longe e sugeriu ainda a demissão da atual primeira ministra: "Para mim, isso seria o suficiente para ir embora e abrir caminho a um Governo verdadeiramente representativo de todas as pessoas deste país".

"Vamos aguardar o resto dos resultados, mas garanto o seguinte: no novo parlamento, faremos tudo para assegurar que o que dissemos nesta campanha e está no nosso programa eleitoral é apresentado ao Parlamento para que este país seja diferente e se torne fundamentalmente um sítio melhor", assegurou o líder trabalhista ainda durante a madrugada, altura que eram reveladas as primeiras projeções.

Já esta manhã, em entrevista à BBC, Jeremy Corbyn garantiu que o Partido Trabalhista está pronto para servir o país e para procurar as melhores soluções nas negociações com a União Europeia.

Também Nicola Sturgeon, líder do Partido Nacional Escocês (SNP) - que perdeu lugares para os partidos Conservador, Trabalhista e para os Liberais Democratas nesta eleição - vê o lugar da líder conservadora posto em causa: “Isto é um desastre para Theresa May. Ela antecipou as eleições acreditando de forma muito arrogante que conseguiria esmagar a oposição (…) e alcançar uma maioria esmagadora. A sua posição é agora muito, muito difícil”.

Sobre um novo referendo à independência da Escócia, Sturgeon admite que os resutados de quinta-feira vão levar o SNP a refletir sobre as posições a tomar no futuro.

Dentro do próprio Partido Conservador, algumas vozes dissonantes apelaram ao afastamento de Theresa May. A deputada torie Anna Soubry pediu desde logo a Theresa May para que "reconsiderasse a sua posição".

Com efeito, o resultado de quinta-feira representa o fracasso da campanha dos conservadores, mas vem sobretudo colocar em causa a primeira-ministra britânica e a sua continuidade à frente do Governo, uma vez que foi Theresa May quem forçou a marcação de eleições antecipadas, quando o próximo ato eleitoral legislativo estava previsto apenas para 2020.

Ao propor-se a eleições, a primeira-ministra britânica procurava alargar a maioria absoluta obtida pelos conservadores em maio de 2015 e legitimar-se enquanto líder efetiva do Governo. De relembrar que Theresa May chegou ao poder em julho do ano passado em substituição direta de David Cameron, o antigo primeiro-ministro, que apresentou a demissão na sequência da vitória do "Brexit" no referendo.

Na altura em que May anunciou eleições antecipadas, tudo corria bem ao Partido Conservador. A 18 de abril, as sondagens apontavam para uma vitória esmagadora dos conservadores e para o fortalecimento da maioria absoluta. Mas as sete semanas de uma campanha "terrível", como descreve a mesma deputada conservadora, diminuiram vertiginosamente a vantagem dos tories sobre o Labour.
“Um Governo que possa atuar”
Em Bruxelas, as reações são ainda escassas mas revelam de forma clara a perspetiva europeia destas eleições no Reino Unido. Pierre Moscovici, comissário europeu para os Assuntos Económicos e Financeiros, considera que Theresa May perdeu margem de manobra.

"A Senhora May procurava sair reforçada mas perdeu a aposta. Por isso, está numa situação menos simples, até porque ainda não conhecemos a configuração do Governo", afirmou o responsável em entrevista à rádio Europe 1.

Güenther Oettinger, comissário europeu da Economia e das Sociedades Digitais, pede certezas ao lado britânico.

“Precisamos de um Governo que possa atuar. Com um parceiro fraco nas negociações corremos o risco que estas corram mal para ambos os lados”, referiu o responsável em entrevista à televisão alemã Deutschlandfunk. 
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