The Lancet. Estudo alerta que número de mortos em Gaza pode ultrapassar os 186 mil

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Mohammed Saber - Reuters

Um estudo publicado na revista "The Lancet" estima que o número real de mortos na guerra em Gaza seja de 186 mil, ou seja, cerca de cinco vezes superior ao oficial. O estudo alerta ainda que o conflito vai provocar muitas mais mortes indiretas nos próximos meses e anos.

De acordo com os últimos dados do Ministério da Saúde de Gaza, divulgados esta terça-feira, 38.243 palestinianos foram mortos desde que Israel lançou a sua ofensiva militar a 7 de outubro, na sequência dos ataques mortais do Hamas.

No entanto, um estudo da revista The Lancet, publicado na passada sexta-feira, faz uma estimativa quase cinco vezes superior ao número divulgado por Gaza, tendo em conta o número de mortes indiretas, nomeadamente pessoas soterradas sob os escombros ou que morreram devido à falta de acesso a alimentos e a cuidados de saúde.

“Em conflitos recentes, essas mortes indiretas variam entre três a 15 vezes o número de mortes diretas”, explica o estudo.

Após aplicar uma “estimativa conservadora” de quatro mortes indiretas por uma morte direta, “não é implausível estimar que até 186.000 ou mais mortes poderiam ser atribuídas ao conflito em Gaza”, concluiu o estudo. O número representa 8% da população de Gaza.

Para chegar a esta estimativa, a revista científica usou dados da ONU que estima que, até 29 de fevereiro deste ano, 35% dos edifícios na Faixa de Gaza foram destruídos. A partir deste dado, a revista conclui que o número de corpos ainda soterrados nos escombros pode superar os 10.000. Para além disso, o estudo contabilizou também as mortes por ferimentos provocados pelo conflito e pela escassez de alimentos.
“Espera-se que o número total de mortos seja elevado”
O estudo observa ainda que os conflitos armados “têm implicações indiretas na saúde para além dos danos diretos da violência” e alerta, por isso, que mesmo que a guerra em Gaza termine de imediato, o número de mortos continuará a aumentar nos próximos meses e anos.

“Espera-se que o número total de mortos seja elevado, dada a intensidade deste conflito; a infraestrutura de assistência médica destruída; a escassez severa de alimentos, água e abrigo; a incapacidade da população de fugir para lugares seguros e a perda de financiamento para a UNRWA, uma das poucas organizações humanitárias ainda ativas na Faixa de Gaza”, diz o estudo.

O relatório salienta que um “cessar-fogo imediato e urgente na Faixa de Gaza é essencial, acompanhado de medidas para permitir a distribuição de materiais médicos, alimentos, água e outros recursos para as necessidades humanas básicas”.


“Ao mesmo tempo, há uma necessidade de registar a escala e a natureza do sofrimento neste conflito. Documentar a verdadeira escala é crucial para garantir a responsabilização histórica e reconhecer o custo total da guerra”, salienta o estudo, acrescentando que este é também “um requisito legal”.
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