Confirmaram-se as dúvidas existentes desde há meses sobre a G36: quando aquece, deixa de acertar. O Ministério da Defesa da Alemanha fica agora sob o fogo ... dos críticos.
Aquele tipo de arma é actualmente o mais usado pelos militares alemães, em cenários de guerra como o Mali e o Afeganistão, caracterizados por frequência e duração dos confrontos armados e também por condições climáticas que podem ser muito quentes. A Bundeswehr (Forças Armadas alemãs), mesmo sem existirem ainda investigações conclusivas, tinha disposto que as suas unidades andassem sempre equipadas com dois tipos de espingardas - nunca com a G36 como única arma.
As dúvidas existiam já desde há vários anos e, nos últimos meses, tinham tido eco em declarações do fiscal federal do armamento e do Tribunal de Contas Federal. Mas tanto o Ministério de von der Leyen como o fabricante, Heckler & Koch, tinham minimizado o alcance dos problemas constatados. A Bundeswehr tinha, desde 1996, comprado 180.000 armas do tipo G36 à Heckler & Koch.
Mas, a essa ponta visível do iceberg, subjazia um fervilhar de actividade investigativa. Em Freiburg, o Instituto Ernst Mach, o Departamento Técnico de Armamento da Bundeswher e o Instituto Científico de Materiais de Defesa conduziam uma sére de testes, dos quais von der Leyen foi finalmente informada na sexta feira, 27 de Março. Nesses testes apurou-se que a G36, após repetidos disparos, pode começar a errar o alvo por diferenças que vão até meio metro.
Ao ser informada da gravidade das conclusões desses testes, von der Leyen convocou para ontem, domingo, uma reunião extraordinária das chefias militares, com o inspector-geral da Bundeswehr e com os chees de Estado-Maior dos três ramos das Forças Armadas. Ontem mesmo, von der Leyen anunciou para esta semana uma decisão do inspector-geral de "consequências preemptivas e de curto prazo".
Essa decisão poderá, admite-se agora, consistir numa mudança radical do equipamento de base das tropas de infantaria alemãs, tanto mais que a ministra já vai reconhecendo que as conclusões preliminares dos testes apontam "num sentido inequívoco". Segundo von der Leyen, citada em Der Spiegel, é preciso ponderar agora "se e em que medida a tropa deve a médio prazo ser equipada com uma outra espingarda de assalto".
A oposição parlamentar alemã reagiu de imediato, em especial através da especialista de armamento do Partido Verde, Agnieszka Brugger, que acusou o Ministério de "dissimulação que dura há anos" e que é "paradigmática para o modo como se branqueia os problemas até já não ser possível".