Tensão nuclear paira sobre a Assembleia Geral das Nações Unidas

por RTP
Nas ruas de Nova Iorque, já são visíveis as máscaras para os protestos que aguardam as comitivas políticas Carlo Allegri - Reuters

A situação no Médio Oriente, a questão nuclear no Irão, a guerra comercial e a crise do multilateralismo são temas em destaque no fórum de 193 chefes de Estado e de governo. Começa esta terça-feira a 73ª sessão da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas.

Donald Trump deverá aproveitar a tribuna facultada pela reunião anual da ONU para incitar os homólogos a juntarem-se aos Estados Unidos no seu combate contra “a torrente de atividades destrutivas” do Irão.

O discurso, que se espera inflamado, vem na sequência de uma troca de palavras e acusações cada vez mais sérias em torno do programa nuclear iraniano.

Donald Trump começou por anunciar, em maio, que os Estados Unidos se retiravam do acordo sobre o nuclear, assinado pelo Irão e pelas grandes potências em 2015.

Washington reinstaurou todas as sanções que foram levantadas após a assinatura do documento. Em consequência e para evitar as medidas punitivas dos Estados Unidos, muitas empresas europeias decidiram abandonar as operações no Irão.

A Casa Branca definiu então as suas novas condições para assinar um outro acordo, que foram classificadas por Teerão como uma "longa lista de condições prévias insultuosas".

Na semana passada, o secretário de Estado Mike Pompeo avisava Teerão que deveria esperar “palavras duras bem merecidas” perante os líderes políticos de todo o mundo.
Guerra comercial na agenda
Na noite passada, a União Europeia anunciava a criação de uma entidade legal específica para continuar a negociar com o Irão, especialmente para a compra de petróleo, de modo a contornar as sanções impostas pelos Estados Unidos a Teerão.

O Presidente dos Estados Unidos deverá defender o mérito das guerras comerciais que começou, a começar pela China. De acordo com uma fonte da Casa Branca, Trump vai pedir “a reforma do sistema comercial internacional”, assim como de outras instituições internacionais, de modo a torná-las “mais eficazes”.

Esta é a segunda vez que Donald Trump discursa na Assembleia Geral da ONU. Em 2017, também visou Pyongyang. Posteriormente, a Casa Branca encetou um diálogo nem sempre constante com o líder da Coreia do Norte, a quem chegou a elogiar a “abertura de espírito” e disponibilidade para tomar decisões corajosas.

A imprevisibilidade que caracteriza o Presidente Trump torna mais difícil a tarefa de antever se o Presidente dos Estados Unidos decidirá mandar recados a Pyongyang, pelo ritmo lento da prometida desnuclearização.

O Presidente dos Estados Unidos vai também presidir a uma inédita reunião do Conselho de Segurança sobre o Irão.

No entanto, o Presidente do Irão não deverá desperdiçar a oportunidade de resposta durante o discurso que está igualmente marcado para a tarde desta terça-feira. O Presidente da República Islâmica tem ainda agendada uma conferência de imprensa para esta quarta-feira para rebater as já esperadas críticas.

Ao canal norte-americano NBC, o Presidente iraniano garantiu não ter previsto qualquer encontro com Donald Trump, por considerar que os Estados Unidos não são “nem honestos nem sinceros”.

A sessão de abertura da Assembleia Geral vai contar ainda com a intervenção do Presidente francês, que deverá visar a crise do multilateralismo. Durante a estadia em Nova Iorque, Emmanuel Macron tem previstas reuniões tanto com Donald Trump, como com Hassan Rohani.

Os presidentes do Brasil e Peru também vão apresentar a sua visão do mundo perante os restantes chefes de Estado e de Governo.
Problemas em vários pontos do mundo
A intervenção do Presidente português no debate da Assembleia Geral da ONU está marcada para quarta-feira.

No domingo, já em Nova Iorque, Marcelo Rebelo de Sousa esteve reunido com o secretário-geral da ONU, António Guterres. O Presidente português notava que a 73ª sessão decorre "num momento difícil", em que no plano internacional se confrontam "comércio livre e protecionismo" e "multilateralismo e unilateralismo" enquanto continuam "problemas por resolver em vários pontos do globo".

"Tudo isso dá um ingrediente complicado para esta Assembleia Geral", declarava Marcelo Rebelo de Sousa aos jornalistas. "Por isso, mais mérito tem a intervenção do secretário-geral das Nações Unidas. Ele tem conseguido ir ultrapassando, torneando obstáculos cada vez mais difíceis".

Marcelo Rebelo de Sousa tem previstos, esta terça-feira, encontros bilaterais com os presidentes de Moçambique, Filipe Nyusi, e da Colômbia, Iván Duque Márquez, à margem da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas

O Presidente da República estará também num evento de alto nível sobre ação para a manutenção de paz.

Ao fim do dia, participará numa reunião de chefes de delegação da CPLP, num hotel de Nova Iorque, promovida por Cabo Verde, que atualmente preside a esta comunidade.

A 73ª sessão decorre sob o tema Tornar a ONU relevante para todos: Liderança global e responsabilidade partilhada para sociedades pacíficas, equitativas e sustentáveis.

No ano passado, o Estado português foi representado pelo primeiro-ministro, António Costa.
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