Tensão Israel-Líbano amplifica receios de escalada da guerra no Médio Oriente

por Joana Raposo Santos - RTP
Uma multidão reuniu-se para o funeral das crianças mortas no ataque a um campo de futebol nos Montes Golã. Foto: Ammar Awad - Reuters

Os receios de uma escalada regional da guerra no Médio Oriente estão novamente a aumentar, depois de um projétil ter caído num campo de futebol de uma comunidade drusa nos Montes Golã, ocupados por Israel. Morreram pelo menos 12 crianças e jovens e três dezenas de pessoas ficaram feridas.

O Hezbollah veio já negar qualquer responsabilidade, mas Israel culpou o grupo libanês pelo ataque e lançou bombardeamentos por todo o Líbano durante a última noite – algo que tem vindo a acontecer rotineiramente nos últimos meses.

Este domingo deverá ser tomada uma decisão mais concreta sobre como responder ao alegado ataque do Hezbollah, estando prevista uma reunião do gabinete israelita de segurança. A lei determina que qualquer decisão sobre uma ação militar que possa levar à guerra deve ser adotada multilateralmente por esse gabinete.

À Al Jazeera, o analista político do Médio Oriente Omar Baddar disse acreditar que “quase de certeza” que o ataque nos Montes Golã se tratou de um acidente, independentemente de quem foi o responsável.

"Nenhum partido em toda a região tem interesse político ou militar em atacar um jogo de futebol de crianças numa cidade drusa nos Montes Golã ocupados. E também vale a pena notar que há um desejo, tanto da parte do Hezbollah como de Israel, de evitar uma guerra em grande escala", considerou o especialista.

Na opinião de Omar Baddar, é necessária uma investigação independente para saber o que realmente se passou neste caso. “Mas a negação do Hezbollah é, por si só, um indício de que, mesmo que se venha a verificar que foi um rocket do Hezbollah, o jogo de futebol não foi certamente um alvo intencional", acrescentou.

Washington discorda, porém, desta opinião, tendo este domingo culpado o Hezbollah pelo ataque que matou 12 crianças e jovens.

"Este ataque foi conduzido pelo Hezbollah libanês. O rocket era deles e foi lançado de uma área que eles controlam", declarou a porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, Adrienne Watson, em comunicado, acrescentando que a Casa Branca tem estado em conversações com funcionários israelitas e libaneses desde então.

"Os Estados Unidos estão também a trabalhar numa solução diplomática ao longo da Linha Azul [que separa o Líbano de Israel e dos Montes Golã] que ponha fim a todos os ataques de uma vez por todas e permita que os cidadãos de ambos os lados da fronteira regressem em segurança às suas casas", anunciou.
Irão adverte Israel
A ONU e a União Europeia apelaram, por sua vez, à contenção, com o chefe da diplomacia dos 27, Josep Borrell, a pedir uma "investigação internacional independente".

Já o Governo libanês, que habitualmente não comenta os ataques a Israel ou aos Montes Golã ocupados, disse condenar os ataques a civis, numa declaração que indica a gravidade da situação.

Este domingo, Teerão advertiu Israel contra qualquer "nova aventura" e qualificou o incidente nos Montes Golã como um "cenário fabricado" com o objetivo de desviar a atenção dos mais de 39.000 palestinianos mortos na Faixa de Gaza.

O porta-voz do Ministério iraniano dos Negócios Estrangeiros, Nasser Kanaani, afirmou que uma resposta militar israelita iria desestabilizar ainda mais a região e atiçar as chamas da guerra.

"Se isso acontecer, o regime sionista será a principal e definitiva entidade responsável pelas repercussões e reações imprevisíveis a um comportamento tão estúpido", vincou.
Possível impacto nas negociações de cessar-fogo em Gaza
Há vários meses que analistas e responsáveis alertam para o facto de qualquer erro de cálculo poder desencadear um conflito em larga escala no Médio Oriente.

Numa conferência de imprensa em Tóquio este domingo, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, afirmou que Washington não quer ver o conflito agravar-se na sequência do ataque ao campo de futebol.

"Estamos determinados a pôr fim ao conflito de Gaza. Já dura há demasiado tempo. Já custou demasiadas vidas. Queremos que os israelitas, os palestinianos e os libaneses vivam livres da ameaça do conflito e da violência", assegurou.

As declarações surgem numa altura em que se preveem conversações para um cessar-fogo em Gaza, que deverão ter lugar em Itália. Não é ainda claro se a mais recente escalada entre Israel e o Hezbollah poderá ter um impacto direto nas negociações.

c/ agências
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