Tensão cresce. Irão anuncia abate de drone norte-americano

por Andreia Martins - RTP
Um drone U.S. Navy MQ-4C Triton, o mesmo modelo que foi abatido esta quinta-feira pelos Guardas da Revolução. Reuters

É um novo incidente na escalada de tensão entre Washington e Teerão, precisamente uma semana após o ataque a dois petroleiros junto ao Golfo de Omã. Os Guardas da Revolução do Irão anunciaram esta quinta-feira ter abatido um avião norte-americano não tripulado no sul do país. Os Estados Unidos confirmam que o drone foi derrubado mas negam que o aparelho estivesse a violar o espaço aéreo iraniano.

De acordo com Teerão, o aparelho “espião” foi abatido pela força aérea iraniana na província de Hormozgan, no sul do país, numa zona costeira  não muito distante do local onde ocorreram os recentes ataques a petroleiros, junto ao Golfo de Omã.

Hossei Salami, comandante-chefe dos Guardas da Revolução, disse esta quinta-feira que a ação de detenção do drone “transmite uma mensagem clara” aos Estados Unidos. "Esta é uma mensagem clara e categórica: quem defende as fronteiras do Irão vai enfrentar qualquer agressão externa. É assim que a nação iraniana lida com os inimigos", afirmou Hossei Salami. 
Em abril, a Guarda Revolucionária do Irão passou a ser designada como "entidade terrorista" pelos Estados Unidos.

“As nossas fronteiras são a linha vermelha do Irão e vamos reagir em força contra qualquer agressão. Não estamos à procura de guerra com nenhum país, mas estamos prontos para defender o Irão”, acrescentou ainda o comandante, citado pela televisão iraniana.  

Washington já confirmou que o aparelho não tripulado foi abatido, mas nega que este estivesse a violar o espaço aéreo iraniano. Um responsável norte-americano que preferiu não ser identificado confirmou à agência Reuters o incidente, mas garantiu que o drone, do modelo U.S. Navy MQ-4C Triton, foi derrubado em espaço aéreo internacional, no Estreito de Ormuz.   

O modelo Trinton foi concebido pelos Estados Unidos para missões de vigilância em altitudes elevadas, com duração máxima até 24 horas.

Até ao momento não são conhecidos mais detalhes sobre este incidente, não se sabendo por exemplo a que horas ocorreu o abate do drone.

"Qualquer violação das fronteiras é fortemente condenável. Alertamos para as consequências de medidas provocatórias e ilegais como esta", alertou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Abbas Mousavi.

De acordo com a Guarda Revolucionária, o drone descolou de uma base militar norte-americana "no sul do Golfo Pérsico" e tinha "desativado todo o equipamento de identificação" para se movimentar em sigilo, estando por isso a "violar todas as regras da aviação".
Turbulência no Estreito de Ormuz

Este é mais um desenvolvimento na recente escalada de tensão política e militar entre o Irão e os Estados Unidos. Ainda na passada quinta-feira dois petroleiros, um japonês e outro norueguês, foram alvo de alegados ataques no Golfo de Omã, junto ao Estreito de Ormuz.

Estados Unidos, Arábia Saudita e Reino Unido apontaram culpas a Teerão, mas o regime iraniano negou qualquer envolvimento, sublinhando que as acusações e as provas apresentadas "não têm fundamento".

Outros países optaram por uma posição mais cautelosa: o Japão pede que sejam apresentadas provas quanto ao alegado envolvimento da República Islâmica e sublinhava no início da semana que o que foi até agora apresentado não permite "ir além da especulação". Em Berlim, a posição oficial é de que as imagens divulgadas por Washington são insuficientes.

António Guterres, secretário-geral da ONU, defendeu a realização de um inquérito independente ao alegado ataque. Pequim apelou à contenção, assim como a alta-representante para a Política Externa da União Europeia, Federica Mogherini.

A tensão nesta região do globo tem sido crescente nos últimos meses. No início de maio, a Administração Trump destacou um porta-aviões Abraham Lincoln, um navio de guerra, bombardeiros e mais 1.500 soldados para o Médio Oriente, de forma a "passar uma mensagem" ao Irão e mesmo para impedir eventuais ataques por parte do país.

Em várias ocasiões no passado, Teerão ameaçou fechar o Estreito de Ormuz, local estratégico por onde passa um terço do petróleo que é consumido diariamente em todo o mundo.

Pouco depois de ser conhecida esta mobilização norte-americana, a 12 de maio deste ano, um incidente envolveu quatro navios, dois deles petroleiros sauditas, em Fujairah, na costa dos Emirados Árabes Unidos, em que as embarcações que terão sido alvos de um alegado ato de sabotagem. Um relatrório preliminar apresentado por Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Noruega ao Conselho de Segurança das Nações Unidas não confirmou, para já, as acusações lançadas contra o Irão.

Em maio de 2018, o Presidente norte-americano Donald Trump anunciou a retirada unilateral do acordo nuclear assinado em 2015 pelo grupo 5+1 (Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia, China e a Alemanha) e a União Europeia. A decisão de rasgar o entendimento que levou mais de uma década a alcançar ao nível diplomático teve como consequência a reposição de pesadas sanções contra Teerão que haviam sido levantadas em troca da limitação de produção nuclear.

O Irão, que segundo a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), cumprira os termos do acordo firmado, anunciou em maio último a retirada parcial do acordo e ameaçou ultrapassar os limites de urânio enriquecido caso os países que continuam a subscrever o acordo não consigam compensar as perdas económicas e financeiras provocadas pela saída dos Estados Unidos. Já esta semana, a Organizção de Energia Atómica do Irão anunciou que está a apenas alguns dias de superar esse limite imposto pelo acordo nuclear.
PUB