De acordo com o jornal francês Le Canard enchaîné, o presidente francês referiu-se ao primeiro-ministro britânico como “palhaço” durante uma conversa privada. Este é o mais recente exemplo da tensão entre Paris e Londres em torno da crise migratória no Canal da Mancha.
A carta foi divulgada na rede social Twitter, na quinta-feira, mesmo antes de ter chegado às mãos do presidente francês. Macron, para além de não ter gostado do conteúdo da carta, não gostou da atitude do primeiro-ministro britânico de a ter tornado pública.
“Falei há dois dias com o primeiro-ministro Johnson de forma séria. Da minha parte, eu continuo a fazer isso, como faço com todos os países e com todos os líderes”, disse Macron durante uma entrevista coletiva na sexta-feira, referindo-se à chamada telefónica entre os dois no dia da tragédia. “Fico surpreendido com os métodos quando eles não são sérios. Não comunicamos sobre estas questões através de tweets e de cartas que tornamos públicas”, criticou Macron.
Mas de acordo com a revista francesa, o presidente francês foi mais duro nas críticas a Boris Johnson em privado. Segundo o jornal Le Canard enchaîné, Macron terá dito: “BoJo [Boris Johnson] fala comigo a toda a velocidade. Está tudo a correr bem, temos discussões como gente grande, e depois ele atrapalha-nos de uma forma deselegante. É sempre o mesmo circo”.
“É triste ver um grande país com o qual poderíamos fazer um enorme número de coisas a ser liderado por um palhaço”, terá acrescentado Macron.
O presidente francês terá ainda afirmado que o Brexit “é o ponto de partida do circo de Johnson” e acusa o primeiro-ministro britânico de estar a usar França como "bode expiatório" face ao "fracasso do Brexit".
“Rapidamente ele percebeu que a situação era catastrófica para os britânicos. Não havia gasóleo nas bombas, faltavam imensos produtos. Ele está a fazer-se de vítima e a fazer da França o bode expiatório. Ele tenta transformar situações simples em problemas complexos. Estamos nesta posição desde março. Ele fez isso durante a ‘guerra das salsichas’, na pesca, no caso do submarino”, acrescentou Macron.
“Em privado, ele diz que lamenta comportar-se desta forma, mas afirma que precisa de ter em consideração a opinião pública acima de tudo”, disse o presidente francês aos seus conselheiros.
A tensão política entre as duas nações aumentou na sequência de um naufrágio, na semana passada, que vitimou dezenas de migrantes que seguiam em barcos semirrígidos desde a costa de França, na tentativa de chegarem a solo britânico.
França e Reino Unido tinham uma reunião agendada para domingo sobre a crise migratória, mas Paris comunicou que excluiu Londres das conversações após Johnson ter publicado no Twitter a carta dirigida ao presidente francês.
Na carta, Boris Johnson propõe, entre outros pontos, a constituição de "patrulhas conjuntas para impedir os barcos de partirem das praias francesas” e a implementação “imediata de um acordo de regresso com França, a par das conversações para um acordo UE-RU de retorno" de migrantes.
O porta-voz do Governo de França descreveu a carta como “medíocre em termos de conteúdo e altamente inapropriada em termos de formato”. Gérald Darmanin, titular da pasta francesa do Interior, considera que a proposta britânica de que França aceitasse de volta os migrantes que chegassem por mar a Inglaterra foi “uma desilusão”.
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