Tensão agrava-se nos Montes Golã e Áustria abandona FNUOD

por Graça Andrade Ramos, RTP
Ammar Awad/Reuters

A linha de cessar-fogo entre a Síria e Israel, nos Montes Golã, foi palco de violentos combates entre rebeldes e exército sírios, levando Israel a reforçar o seu dispositivo militar na zona e a protestar junto da FNUOD, que devia assegurar a paz na zona tampão entre os dois países. Em consequência do aumento da violência, que feriu ligeiramente dois capacetes azuis, a Áustria anunciou que iria retirar os 380 soldados que integram a missão, enfraquecendo substancialmente a força da ONU, oficialmente composta por mil soldados.

Os combates entre forças sírias deveram-se a uma tentativa de controlo do posto fronteiriço de Qouneitra, em plena linha de cessar-fogo no planalto de Golã.
A passagem é utilizada sobretudo pela população local de drusos, quando vão casar-se, estudar ou trabalhar na Síria e fica próximo da sede dos Observadores da ONU, a FNUOD (Força das Nações Unidas de Observação da Separação nos Golã).

"É atualmente o único ponto de contacto entre Israel e a Síria" afirmou à AFP uma fonte da segurança israelita.

De manhã, o Observatório sírio para os Direitos Humanos (OSDH) baseado em Londres, assinalou "combates violentos" no local, entre tropas regulares e rebeldes, com estas últimas a tomarem o posto fronteiriço controlado pela Síria.

Horas depois, o local foi reconquistado pelo exército de Damasco, que recorreu a carros armados para a operação.

"O exército sírio recuperou o controlo da passagem. Ouvem-se explosões de vez em quando mas muito menos do que de manhã" afirmou à Agência France Presse (AFP) uma fonte da segurança israelita, sob anonimato.
Capacetes azuis atingidos
A violência dos confrontos terá levado os capacetes azuis a refugiar-se em bunkers para escapar aos bombardeamentos.

O chefe da missão da ONU, Hervé Ladsous, confirmou apenas a ocorrência dos combates e afirmou que havia "reajustado a posição" das suas tropas para garantir a sua segurança.

O bombardeamento da zona atingiu contudo dois capacetes azuis, ferindo-os ligeiramente, de acordo com um porta-voz da ONU.

Na sequência dos confrontos, a Áustria anunciou a retirada dos seus 380 soldados atualmente ao serviço da FNUOD (Força das Nações Unidas de Observação da Separação nos Golã).

O vice-Chanceler e MNE da Áustria, Michael Spindelegger e o ministro austríaco da Defesa Gerald Klug rodeiam o Chanceler da Áustria no anúncio da retirada dos capacetes azuis austríacos dos Monte Golã
"Perigo incontrolável"
"A liberdade de movimentos na área de facto já não existe. O perigo incontrolável e imediato para os soldados austríacos atingiu níveis inaceitáveis," afirmou o Chanceler austríaco Werner Faymann.

O ministério israelita dos Negócios Estrangeiros lamentou a decisão austríaca e afirmou esperar que não leve ao agravamento da violência."Ao mesmo tempo que compreendemos a longa contribuição e o compromisso da Áustria na manutenção da Paz no Médio Oriente, lamentamos esta decisão e esperamos que não leve a uma escalada na região," afirmou o MNE israelita em comunicado oficial.

Israel acrescenta que espera que a ONU "cumpra os seus compromissos assumidos na Resolução do Conselho de Segurança 350 (de 1974) que estabeleceu a FNUOD" e que prevê uma presença nos Montes Golã de uma força de 1000 capacetes azuis para garantir o cessar-fogo entre Israel e a Síria.

Após os combates da manhã o exército israelita transmitiu uma queixa oficial à FNUOD, devido à "entrada de carros armados na zona desmilitarizada perto de Qouneitra."
Guerra síria alastra
A rádio pública israelita informou ainda que o dispositivo militar da zona controlada por Israel foi reforçado. Correspondentes da AFP no local testemunharam na zona a circulação de camiões israelitas carregados de carros armados.
Israel e Síria estão oficialmente em estado de guerra, com Israel a ocupar desde 1967 cerca de 1.200 Km2 do planalto de Golã, uma anexação que nunca foi reconhecida pela comunidade internacional, a qual assegura um cessar-fogo através da FNUOD. Cerca de 510 km2 permanecem sob controlo sírio.
A guerra que dura há dois anos na Síria, entre rebeldes que procuram derrubar o governo do Presidente sírio Bashar al-Assad e o exército oficial sírio, ameaça alastrar.

Caças israelitas sobrevoaram diversas vezes o espaço aéreo sírio para bombardear alegados comboios de abastecimento de armas vindos do Irão e destinados aos guerrilheiros da guerrilha libanesa Hezbollah, inimiga de Israel e aliada de Assad.

Obuses disparados durante combates entre as duas forças sírias atingiram também várias vezes solo controlado por Israel na zona tampão dos Montes Golã. Esta manhã três granadas de morteiro caíram na zona israelita sem contudo provocar estragos.

Residentes assistem aos combates entre rebeldes e exército sírios pelo posto fronteiriço dos monte Golã no dia 6 de maio de 2013
FNUOD em perigo
Os soldados da FNUOD são também vítimas da violência e têm mesmo sido sequestrados.
A 17 de maio, capacetes azuis filipinos ao serviço da FNUOD, foram sequestrados por um "grupo armado" durante uma patrulha. Antes, em março, um grupo de 20 soldados da ONU, também filipinos, foi mantido refém de rebeldes sírios durante vários dias.Os capacetes azuis estão oficialmente armados apenas com pistolas que só podem ser disparadas em defesa e, apesar de ter sido reforçada com veículos blindados, a FNUOD mostra-se cada vez menos capaz de garantir a própria segurança. Vários dos seus veículos foram mesmo roubados.

O hospital israelita de Safed, no norte de Israel afirma ainda que, nos últimos três meses, tratou 16 feridos resultantes dos combates entre rebeldes e exército na zona não ocupada dos Montes Golã.

Dois soldados sírios, feridos nos confrontos desta manhã, foram internados em Safed, um deles "em estado grave e inconsciente." De acordo com o hospital, este tinha consigo uma granada, o que levou à evacuação do hospital e à intervenção de uma equipa de desminagem.
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