O chefe da divisão de investigação e inovação do Ministério da Defesa do Irão, figura-chave do programa nuclear do Irão, foi assassinado esta sexta-feira perto de Teerão. O Governo iraniano afirma que há “indícios sérios” do envolvimento de Israel, empregando a expressão “terrorismo de Estado”.
Testemunhas citadas pela agência estatal Fars disseram ter ouvido uma explosão e metralhadoras. O automóvel que transportava o cientista foi o alvo dos disparos.
“Infelizmente, a equipa médica não conseguiu reanimá-lo e, há alguns minutos, este administrador e cientista atingiu o alto estatuto do martírio, após anos de esforços e luta”, declarou em comunicado o Ministério iraniano da Defesa.
Por seu turno, o ministro iraniano dos Negócios Estrangeiros não hesitou em assacar responsabilidades a Israel, escrevendo no Twitter que o cientista foi assassinado por “terroristas”.
Terrorists murdered an eminent Iranian scientist today. This cowardice—with serious indications of Israeli role—shows desperate warmongering of perpetrators
— Javad Zarif (@JZarif) November 27, 2020
Iran calls on int'l community—and especially EU—to end their shameful double standards & condemn this act of state terror.
“Esta cobardia – com sérios indícios de um papel de Israel – mostra um belicismo desesperado dos perpetradores”, acusou Javad Zarif.
“O Irão apela à comunidade internacional – e especialmente à UE – para que acabe com os seus vergonhosos padrões duplos e condene este ato de terrorismo de Estado”, acrescentou o governante iraniano.
Por agora, o Governo israelita mantém-se em silêncio.
Como recorda o Haaretz, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu referiu-se, em abril de 2018, durante uma conferência de imprensa, a Mohsen Fakhrizadeh como uma ameaça: “Lembrem-se deste nome”.
“A mais violenta confrontação”
O número um da Guarda Revolucionária do Irão, Hossein Salami, veio também condenar o ataque que vitimou Fakhrizadeh. No Twitter, Hossein Salami afirmou que “assassinar cientistas nucleares é a mais violenta confrontação”, destinada a “impedir” a República Islâmica de “alcançar a ciência moderna”.
Já o brigadeiro general Amir Hatami, ministro iraniano da Defesa, tweetou que esta ação deixou patente “a profundidade do ódio dos inimigos para com a República Islâmica”.
Entre 2010 e 2012, foram assassinados pelo menos quatro cientistas iranianos, em ações igualmente atribuídas por Teerão a um alegado programa de eliminação seletiva de responsáveis pelo programa nuclear do país montado pelo Estado hebraico.
Em 2014, outros quatro cientistas nucleares sírios foram abatidos nas proximidades de Damasco. Neste mesmo ataque terá morrido um cientista iraniano.
Sanções de Washington
Mohsen Fakhrizadeh foi alvo de sanções, por parte dos Estados Unidos, em 2008.
Uma das estruturas para as quais trabalhava, o grupo Shahid Karimi, foi também objeto de sanções norte-americanas no ano passado pela mão da Administração Trump, que rasgou o acordo nuclear impulsionado em 2015 por Barack Obama.
Segundo o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, o Shahid Karimi estará na vanguarda da investigação no domínio da energia nuclear com fins militares.