Tapeçaria de Bayeux. Bordado do séc XI que conta os feitos de Guilherme da Normandia vai para restauro

por Carla Quirino - RTP
Museus de Bayeux /Charles Platiau/Reuters

A icónica tapeçaria de Bayeux bordada no século XI vai ser alvo de um programa de conservação. Em janeiro, o bordado milenar já começou a ser "meticulosamente limpo". Porém, o restante trabalho de restauro vai acontecer a partir de setembro, quando o Museu da Tapeçaria de Bayeux fechar ao público, durante dois anos, para obras de renovação. A peça de arte românica representa as conquistas de Guilherme, duque da Normandia por terras inglesas, em 1066, ano em que também se tornou rei dos saxões.

São mais de 70 metros de pano de linho com 50 centímetros de largura e quilómetros de linha com dez tons de fios de lã. 

Nele está bordada a história em torno do avanço de Guilherme, Duque da Normandia por território saxão (atual Inglaterra), em 1066. "A história que aqui se conta, é baseada em imagens como se fossem vitrais, e é tanto um poema épico como uma obra moralista" dizem os responsáveis pelo museu.

Não se conhece os criadores ou de quem eram as mãos que produziram tal relato cronológico desenhado a linhas bordadas. Porém, os historiadores acreditam que tamanha empreitada tenha sido encomendada por Odo, bispo de Bayeux e meio-irmão de Guilherme, para decorar a nave da nova catedral de Notre-Dame de Bayeux, que foi consagrada em 1077.


Cerca de mil navios foram capazes de transportar o exército de Guilherme, estimado em oito mil homens e cinco mil cavalos através do mar. A batalha contra o exército de Harold, último dos reis anglo-saxões, aproximava-se, assim descreve a narrativa traçada a linha bordada | Museu da Tapeçaria de Bayeux

Esta obra de arte têxtil está em exibição desde 1983, no Grande Seminário de Bayeux, no noroeste da França, parte do complexo dos Museus de Bayeux.

Mas este ano, depois do verão, vai ser retirada dos olhos dos visitantes. Paralelamente às obras de renovação do museu, previstas para começar no outono deste ano, conservadores restauradores vão deitar mãos ao bordado milenar e realizar um profundo programa de conservação.

As limpezas da tela de linho já começaram no início deste ano. Em curso está também o processo de remoção do suporte técnico, um velo afixado em 1983, que, embora protegesse a obra no verso, retira-lhe a flexidade, enrijendo-a e torna-a pesada

Quando as portas fecharem ao público, os especialistas vão remové-la da atual vitrine para procederem aos restantes trabalhos de restauro. A peça de linho será guardada uma caixa de conservação e transportada para as reservas temporárias.

Início dos trabalhos de limpeza do bordado | Museu da Tapeçaria de Bayeux
A conquista de Inglaterra em 58 cenas sucessivas
Os primeiros visitantes há mais de dez séculos teriam sido, em grande medida, analfabetos. Por isso, a narrativa, quase em jeito de banda desenhada, que combina imagens e algumas inscrições de texto, eram uma forma de transmitir e difundir histórias que todos poderiam seguir.

Desta forma, os vários personagens, especialmente quem teria mais protagonismo eram apresentados e seguidos nas suas ações. Guilherme e o lider saxão, Haroldo, são seguidos de perto. Ao todo, o textil é uma obra-prima da arte românica do século XI e apresenta-se como uma tela com 58 cenas, 626 personagens e 202 cavalos.
 
A história épica de Guilherme, sétimo duque da Normandia, acabou por resistir ao tempo. E este testemunho de linho bordado ajudou a ilustrar e a propagandear o momento em que o conquistador Guilherme se tornou rei de Inglaterra em 1066, após a Batalha de Hastings a 25 de dezembro.

Detalhe de uma cena do bordado onde figura Guilherme (Willelm) | Museu da Tapeçaria de Bayeux
Desfecho da Batalha de Hastings
Não se pouparam linhas nem mãos para retratar a violência em combate da Batalha de Hastings que decorreu em 14 de outubro de 1066.

A Batalha de Hastings foi travada contra o exército de Harold Godwinson, último dos reis anglo-saxões. A vitória de Guilherme sobre Harold foi o evento decisivo na conquista de Inglaterra pelo Duque da Normandia, sendo este coroado Rei de Inglaterra.

A Tapeçaria de Bayeux, retrata diversas cenas do confronto com inúmeros detalhes, permitindo uma visualização e representação única de uma das grandes batalhas da Idade Média.

Detalhe de uma cena da Batalha de Hastings | Museu da Tapeçaria de Bayeux

Uma das cenas mais conhecidas na Tapeçaria de Bayeux, mostra Harold ferido no rosto por uma flecha.
Representação do lider saxão atingido por uma flexa. O nome bordado por cima da cabeça do guerreiro identifica Harold | Museu da Tapeçaria de Bayeux

O projeto de 38 milhões de euros para a renovação do museu é gerido pelo municipio de Bayeux, em colaboração com o Estado francês – proprietário da tapeçaria – bem como o Conselho Departamental de Calvados e o Conselho Regional da Normandia.

“Em termos de influência económica e cultural, este é o projeto mais complexo e ambicioso já realizado pela cidade de Bayeux
" referiu Patrick Gomont, o presidente da câmara de Bayeux.

Em 2024, o museu registou cerca de 600 mil pessoas, maioritariamnte visitantes britânicos e norte-americanos. No fim das obras o novo museu apresentará uma área de exposição iduplicada. A reabertura está prevista para outubro de 2027, a tempo de assinalar o milénio do nascimento de Guilherme, o Conquistador.

A tepeçaria de Bayeux é um dos objetos patrimoniais mais preciosos do século XI, classificado como Monumento Histórico e listado no registo da Memória do Mundo da UNESCO.
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