Também em Portugal. Choque anterior com orcas leva-as a atacarem barcos

por RTP
Os biólogos marinhos identificaram três orcas presentes em 61 por cento dos incidentes Reuters

Nos últimos dois meses, diversos relatos de ataques de orcas a embarcações na costa portuguesa e espanhola têm intrigado os cientistas. Um grupo de investigadores considera que na origem destes confrontos poderá estar um incidente anterior que envolveu algum tipo de barco, no qual a velocidade da embarcação poderá ter sido “um fator crítico”.

Em julho, no estreito de Gibraltar, um grupo de pessoas diz ter sido cercado por nove orcas que abalroaram a embarcação, danificando o motor e partindo o leme. Desde essa altura, outros ataques semelhantes têm vindo a ser relatados.

"Pareceu totalmente orquestrado", disse Victoria Morris, uma das tripulantes da embarcação. "O barulho era assustador. Batiam na quilha, houve um eco horrível, pensei que poderiam virar o barco", recorda Morris a The Guardian. "Esse barulho ensurdecedor eram elas a comunicar, assobiando de um lado para o outro. Era tão alto que tivemos de gritar", acrescentou.

Segundo o jornal britânico, desde 10 de agosto foram relatadas 22 interações com orcas por parte de tripulações que navegavam ao largo da região espanhola da Galiza, um terço das quais resultou em vários danos nas embarcações.


As orcas – comummente apelidadas de baleias assassinas e que podem pesar até seis toneladas – são conhecidas por serem animais inteligentes e sociáveis, mas não agressivos, o que tem deixado os cientistas intrigados com os recentes ataques aparentemente orquestrados. Por este motivo, um grupo de especialistas de nacionalidade espanhola e portuguesa decidiram analisar as fotos e vídeos existentes destes acometimentos, tendo chegado à conclusão que a maioria deles podem ter sido provocados por um único grupo de orcas. Os biólogos marinhos identificaram três orcas presentes em 61 por cento dos incidentes.

Fotografias subaquáticas dos três animais, apelidados de Black Gladis, White Gladis e Grey Gladis, revelam que dois deles parecem ter sofrido ferimentos entre junho e agosto, alguns possivelmente causados por choques com barcos.

O gatilho para este comportamento estranho e novo pode ter sido um incidente em sentido contrário que as orcas tiveram com um barco, e no qual a velocidade da embarcação pode ter sido um fator crítico”, disse o grupo de investigação em comunicado, explicando que, em consequência deste incidente, as orcas podem ter sido compelidas a agir agressivamente sempre que avistam um iate.

Os investigadores sublinham que “de momento, não temos evidências claras de quando [este incidente] aconteceu, nem podemos dizer com certeza que tipo de barco pode ter estado envolvido, nem se foi acidental ou deliberado”.

De acordo com os investigadores, o barulho e movimento dos barcos suscita curiosidade por parte das baleias assassinas. No entanto, os recentes ataques são “sem precedentes”, segundo os especialistas, devido aos danos provocados nos iates.

Os cientistas colocam ainda a hipótese de os iates serem as embarcações mais atacadas por estes animais porque são alvos “mais fáceis”, devido à sua menor dimensão. Acrescentam ainda que as baleias assassinas podem simplesmente estar a brincar “por curiosidade”, agora que descobriram a capacidade de travar um grande objeto em movimento.

Embora os confrontos das orcas tenham provocado o pânico entre as tripulações, não há registo de feridos.


“Movimentos bruscos perturbaram as tripulações não familiarizadas com as orcas e o seu comportamento”, disseram os especialistas. “[Mas] ninguém foi prejudicado pela atividade direta das orcas, embora tenha havido algum risco em situações que envolveram atividades noturnas ou de longa duração”, acrescentaram.
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