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Talibãs tentam controlo total do Afeganistão para anunciar novo governo

por RTP
Muitos afegãos continuam a tentar fugir do país EPA

O grupo que chegou ao poder no Afeganistão em Agosto tenta derrotar alguns grupos armados resistentes na região de Panjshir. Sem haver garantias de ajuda internacional, a economia afegã está em risco de colapso, enquanto os líderes talibã se preparam para anunciar um novo governo.

Duas semanas depois de conquistarem a capital afegã e da saída norte-americana do país, os talibãs tentam estabelecer o seu poder no Afeganistão, num regime que enfrentará graves dificuldades económicas e de segurança, duas décadas depois de ter perdido o poder.

Apesar de afirmarem não querer instabilidade, as promessas dos talibãs foram minadas pelo ataque do Estado Islâmico há uma semana no aeroporto de Cabul. Para além do Daesh, ainda existem grupos armados a norte da capital afegã que continuam a resistir à progressão dos talibãs, recusando entregar-lhes o controlo total do país.

Os extremistas agora no poder anunciaram várias ofensivas no Vale de Panjshir, um bastião de longa resistência no país, onde os locais lutaram contra os soviéticos nos anos 80 e contra os talibãs na década seguinte, durante os cinco anos em que estiveram no poder (1996-2001).

Um dos filhos de um dos maiores mártires do pequeno grupo, Ahmad Massoud, e antigos oficiais do governo estão a tentar criar uma frente para continuar a resistir e manter a guerrilha.

Um dos membros é Amrullah Saleh, que serviu como vice-presidente para o antigo presidente Ashraf Ghani, e que se afirma neste momento como o verdadeiro presidente do Afeganistão.

“A sede da resistência de Panjshir não é apenas para os locais, mas para todo o país”, pode ler-se numa conta associada a Saleh. “A bandeira nacional afegã está hasteada nos edifícios governamentais. A nossa resistência é pelos nossos direitos e valores”.

Um dos porta-vozes de Massoud falou à comunicação social ocidental e explicou que nas últimas 40 horas os talibãs têm atacado o grupo de resistência. “Não tiveram sucesso com a sua ofensiva e não avançaram um único quilómetro”, revelou Fahim Dashti.

Uma narrativa diferente da do porta-voz dos talibãs, que revelou à NBC News que o Vale de Panjshir foi atacado, tendo sido capturadas onze posições do local, inclusivamente o vale principal, e a estrada principal que liga Panjshir a Badakhshan. Declarações que o canal norte-americano não conseguiu confirmar.

Novo governo para sair

Enquanto tentam controlo territorial total de Cabul, os talibãs tentam também formar novo governo. Espera-se que seja liderado por Mullah Haibatullah Akhundzada, militante e líder supremo do grupo, apesar de não ser expectável que tenha um papel preponderante no governo, servindo apenas para supervisionar e ser a cara principal do regime.

O grupo mostra dificuldade em criar um governo, revelando para o futuro apenas promessas de que o Afeganistão vai ser governado pela lei islâmica. Muitos são os afegãos que continuam a tentar escapar do país, com medo de represálias ou que a interpretação radical do Islão por parte dos talibãs seja novamente imposta, tal como aconteceu entre 1996 e 2001.

Apesar de afirmar que afegãos com visto podem sair do país, os talibãs controlam o aeroporto de Cabul e tentam não deixar sair pessoas com receio de criar uma nação economicamente insustentável.

Mais de metade da população do Afeganistão vive abaixo do limiar de pobreza e 14 milhões de pessoas não têm acesso a alimentação, números que incluem mais de meio milhão de pessoas deslocadas durante o conflito que levou à conquista de Cabul, segundo estatísticas do Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas.

Nos últimos vinte anos, o Afeganistão viveu dos milhares de milhões de dólares de ajuda internacional. A comunidade espera para ver se os talibãs cumprem as suas promessas, condicionando a ajuda à população afegã.
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