Talibãs conquistaram décima cidade provincial afegã, a caminho de conquistar Cabul

por RTP
Nawid Tanha - EPA

O grupo islamita taliban tomou, esta quinta-feira, a estratégica cidade de Ghazni, localizada a 150 quilómetros da capital, Cabul. É a décima capital de província a cair numa semana, segundo avançou um conselheiro provincial, e as autoridades acreditam a conquista desta cidade, localizada na estrada principal Cabul-Kandahar, tenha como objetivo tomar a capital afegã.

"Posso confirmar que Ghazni caiu esta manhã nas maõs dos talibãs. Eles assumiram o controlo de áreas chave da cidade: o gabinete do governador, a sede da polícia e a prisão", disse à agência de notícias France-Presse (AFP) o chefe do conselho provincial de Ghazni, Nasir Ahmad Faqiri, acrescentando que os combates ainda estavam a decorrer em algumas zonas.

Esta quinta-feira de manhã, o grupo insurgente já controlava toda a cidade e tinha invadido uma prisão e libertado cerca de 400 presidiários, confirmou uma autoridade local ao Guardian. Os talibãs invadiram ainda a sede da polícia de Ghazni e o gabinete do governador.

Este ataque terá começado por volta da meia-noite, com confrontos com as forças de segurança que estavam nas ruas. Segundo a mesma fonte, às 8h00 da manhã (hora local) o grupo terrorista já controlava a maior parte da cidade.

"O comandante da polícia local e o governador estavam desesperados e não tinham outra opção se não renderem-se", disse a autoridade ao jornal britânico. "As pessoas estão a esconder-se nas suas casas, ninguém está cá fora".
A conquista de Ghazni pelos insurgentes é um duro golpe para o Governo afegão, visto que a cidade está numa estrada principal que liga Cabul ao Sul do Afeganistão. A invasão desta décima cidade ocorre, ainda por cima, dois dias depois de os Talibãs terem tomado a cidade-chave de Pul-e-Khumri, a 225 quilómetros a norte da capital, garantindo o controlo de um entroncamento rodoviário estratégico que liga Cabul ao norte e ao oeste do país.

O ministro alemão dos Negócios Estrangeiros afirmou, esta manhã, que a Alemanha não vai enviar nem mais um cêntimo para Afeganistão, caso os talibã tomem por completo o país. Da última vez que este movimento esteve no poder, o regime impôs punições a quem ouvisse música, não usasse barba ou não cumprisse regras religiosas.

Já a Turquia, que gere o aeroporto de Cabul, sugeriu que este se mantenha operacional e ofereceu mais apoio militar para combater a ofensiva terrorista.
EUA receiam que grupo tome Cabul em três meses

Quase um terço das 34 capitais de província do país estão agora sob controlo do grupo terrorista talibã. À medida que estão a tomar o território, dezenas de milhares de afegãos vão abandonando as suas casas, tendo sido mortas ou feridas já centenas de pessoas, nas últimas semanas.

Também foram registados confrontos com civis e forças de segurança afegãs, esta quinta-feira, em Lashkar Gah, uma das maiores cidades do Afeganistão na província de Helmand.

O Governo, contudo, acredita que vai conseguir defender e manter Lashkar Gah, embora tenha havido um atentado suicida com carro-bomba na quarta-feira contra a sede da polícia regional. Alguns agentes renderam-se aos militantes, outros fugiram para o gabinete do governador, que ainda estava nas mãos das forças do governo, disse ao Guardian Nasima Niazi, um deputado de Helmand.

Embora a capital afegã não tenha sido oficialmente ameaçada, o ritmo diário a que os talibãs tomam o resto do país leva a que as autoridades temam não conseguir defender e impedir a invasão a Cabul.

Analistas norte-americanos consideram que a ofensiva em marcha tem como objetivo cercar a capital, isolando as forças afegãs a norte, ou para a conquistar ou para forçar o Governo à rendição. Os EUA receiam mesmo que Cabul seja tomada em menos de três meses.

Os talibãs, recorde-se, lançaram uma grande ofensiva contra as forças do Governo de Cabul no início de maio, após o anúncio da retirada final das forças internacionais do Afeganistão, que deve estar concluída no final deste mês.

Localizado na Ásia, o Afeganistão faz fronteira com seis países (Paquistão, Tajiquistão, Irão, Turquemenistão, Uzbequistão e China), sendo a paquistanesa a mais extensa, com 2670 quilómetros.
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