Taiwan. "Temos de estar preparados" para conflito militar com a China

por Andreia Martins - RTP
Caças furtivos chineses J-20 Reuters

O chefe da diplomacia de Taiwan considera que as ações recentes de Pequim mostram que o território deve estar preparado para um possível conflito militar. Joseph Wu, ministro dos Negócios Estrangeiros, destaca que os recentes exercícios militares da China junto ao território comprovam a ameaça e que Taiwan não pode “arriscar”.

Em Taipei, a escalada de tensão e intimidação da China é vista como uma ameaça muito real. Joseph Wu, ministro dos Negócios Estrangeiros, afirmou que Taiwan tem de se preparar para um possível conflito militar com Pequim.

“Como decisores, não podemos arriscar, temos de estar preparados. Quando o Governo chinês diz que não renuncia ao uso da força e conduz exercícios militares perto de Taiwan, acreditamos que a ameaça é real”, afirmou o chefe da diplomacia de Taiwan em entrevista à CNN.

As declarações surgem uma semana depois da maior incursão diária militar por parte da China: 28 aviões militares chineses entraram na Zona de Identificação de Defesa Aérea (ADIZ) de Taiwan a 15 de junho.

Esta ação não violou o espaço aéreo de Taiwan nem a lei internacional, mas foi vista como mais uma demonstração de força por parte do Exército de Libertação Popular. As incursões têm sido frequentes nos últimos meses: a 12 de abril deste anos, 25 aviões chineses voaram na direção do espaço de defesa aérea de Taiwan.  

Nesta entrevista, o responsável de Taiwan, com a pasta dos Negócios Estrangeiros desde 2018, respondeu ainda às acusações de Pequim que lhe foram diretamente dirigidas. Em maio, Zhu Fenglian, porta-voz do departamento chinês para Assuntos relacionados com Taiwan, classificou Wu como um separatista “obstinado”.

“Joseph Wu tem feito provocações de forma repetida e arrogante com ‘a independência de Taiwan’. Vamos tomar todas as medidas necessárias para o punir severamente e para o resto da vida, de acordo com a lei, todos os obstinados com a ‘independência de Taiwan”, afirmou a porta-voz.

Em declarações à CNN, Wu diz sentir-se “honrado” por ser alvo das acusações de Pequim. “O autoritarismo não consegue tolerar a verdade. Se continuarem a dizer que me querem perseguir para o resto da vida, não estou muito preocupado com isso”, acrescentou.
O exemplo de Hong Kong
Desde o fim da guerra civil na China, há mais de sete décadas, que Taiwan e China são governadas de forma separada, com os nacionalistas derrotados pelos comunistas a fugirem para Taipei e sem que nenhum tratado de paz ou armistício tenha sido assinado.

Pequim continua a ver em Taiwan uma parte inseparável do território chinês, mas Taipei recusa a ideia de unificação, sobretudo à luz de eventos recentes. Joseph Wu dá o exemplo de em Hong Kong, com a imposição da lei de segurança nacional que criminaliza “atos de subversão, secessão e conluio com forças externas”, e que para o representante de Taiwan tem abalado a liberdade de expressão e os movimentos pró-democracia daquele território.

“Se olharmos para a situação em Hong Kong, é uma tragédia moderna”, afirma Wu na entrevista à CNN, onde falou do fim do jornal pró-democracia de maior circulação. “O Apple Daily de Hong Kong é um símbolo do jornalismo independente e o Governo chinês quer derrubar esse símbolo. É muito triste ver o que está a acontecer”, acrescenta.

Wu acusa ainda a China de promover campanhas de desinformação contra Taiwan, a par das ações militares de intimidação. O ministro dos Negócios Estrangeiros acusa Pequim de dar ênfase a fake news sobre os números da Covid-19 em Taiwan para gerar a desconfiança e dividir a população.

“[A China] usa uma guerra cognitiva, campanhas de desinformação e intimidação militar para criar ansiedade ao povo de Taiwan”, argui. Pequim tem desvalorizado estas acusações, afirmando que são “imaginárias”.

Em 2019, o Presidente chinês Xi Jinping pediu a Taiwan que aceitasse uma “reunificação pacífica” com a China territorial, mas não negou que Pequim possa vir a recorrer ao uso da força contra o território.

Joseph Wu garante que Taipei está disponível para tentar chegar a um acordo de paz, mas que a população quer manter o status quo, com um Presidente e um Parlamento democraticamente eleitos, uma força militar separada e capacidade para emitir os seus próprios vistos e passaportes. Ou seja, numa governação separada da República Popular da China.

“Julgo que é uma responsabilidade conjunta por parte de Taiwan e da China para que haja uma relação pacífica e diálogo entre os dois lados. A população de Taiwan deseja a paz e é isso que o Governo também deseja. Para além da paz, queremos ter um diálogo entre Taiwan e a China. Mas é claro que são necessários dois para dançar o tango”, refere Joseph Wu.
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