O chefe da diplomacia de Taiwan considera que as ações recentes de Pequim mostram que o território deve estar preparado para um possível conflito militar. Joseph Wu, ministro dos Negócios Estrangeiros, destaca que os recentes exercícios militares da China junto ao território comprovam a ameaça e que Taiwan não pode “arriscar”.
“Como decisores, não podemos arriscar, temos de estar preparados. Quando o Governo chinês diz que não renuncia ao uso da força e conduz exercícios militares perto de Taiwan, acreditamos que a ameaça é real”, afirmou o chefe da diplomacia de Taiwan em entrevista à CNN.
As declarações surgem uma semana depois da maior incursão diária militar por parte da China: 28 aviões militares chineses entraram na Zona de Identificação de Defesa Aérea (ADIZ) de Taiwan a 15 de junho.
Esta ação não violou o espaço aéreo de Taiwan nem a lei internacional, mas foi vista como mais uma demonstração de força por parte do Exército de Libertação Popular. As incursões têm sido frequentes nos últimos meses: a 12 de abril deste anos, 25 aviões chineses voaram na direção do espaço de defesa aérea de Taiwan.
Nesta entrevista, o responsável de Taiwan, com a pasta dos Negócios Estrangeiros desde 2018, respondeu ainda às acusações de Pequim que lhe foram diretamente dirigidas. Em maio, Zhu Fenglian, porta-voz do departamento chinês para Assuntos relacionados com Taiwan, classificou Wu como um separatista “obstinado”.
“Joseph Wu tem feito provocações de forma repetida e arrogante com ‘a independência de Taiwan’. Vamos tomar todas as medidas necessárias para o punir severamente e para o resto da vida, de acordo com a lei, todos os obstinados com a ‘independência de Taiwan”, afirmou a porta-voz.
Em declarações à CNN, Wu diz sentir-se “honrado” por ser alvo das acusações de Pequim. “O autoritarismo não consegue tolerar a verdade. Se continuarem a dizer que me querem perseguir para o resto da vida, não estou muito preocupado com isso”, acrescentou.
O exemplo de Hong Kong
Desde o fim da guerra civil na China, há mais de sete décadas, que Taiwan e China são governadas de forma separada, com os nacionalistas derrotados pelos comunistas a fugirem para Taipei e sem que nenhum tratado de paz ou armistício tenha sido assinado.
Pequim continua a ver em Taiwan uma parte inseparável do território chinês, mas Taipei recusa a ideia de unificação, sobretudo à luz de eventos recentes. Joseph Wu dá o exemplo de em Hong Kong, com a imposição da lei de segurança nacional que criminaliza “atos de subversão, secessão e conluio com forças externas”, e que para o representante de Taiwan tem abalado a liberdade de expressão e os movimentos pró-democracia daquele território.
“Se olharmos para a situação em Hong Kong, é uma tragédia moderna”, afirma Wu na entrevista à CNN, onde falou do fim do jornal pró-democracia de maior circulação. “O Apple Daily de Hong Kong é um símbolo do jornalismo independente e o Governo chinês quer derrubar esse símbolo. É muito triste ver o que está a acontecer”, acrescenta.
Wu acusa ainda a China de promover campanhas de desinformação contra Taiwan, a par das ações militares de intimidação. O ministro dos Negócios Estrangeiros acusa Pequim de dar ênfase a fake news sobre os números da Covid-19 em Taiwan para gerar a desconfiança e dividir a população.
“[A China] usa uma guerra cognitiva, campanhas de desinformação e intimidação militar para criar ansiedade ao povo de Taiwan”, argui. Pequim tem desvalorizado estas acusações, afirmando que são “imaginárias”.
Em 2019, o Presidente chinês Xi Jinping pediu a Taiwan que aceitasse uma “reunificação pacífica” com a China territorial, mas não negou que Pequim possa vir a recorrer ao uso da força contra o território.
Joseph Wu garante que Taipei está disponível para tentar chegar a um acordo de paz, mas que a população quer manter o status quo, com um Presidente e um Parlamento democraticamente eleitos, uma força militar separada e capacidade para emitir os seus próprios vistos e passaportes. Ou seja, numa governação separada da República Popular da China.