Taiwan "não é a Ucrânia". Pequim reage a advertências e a alerta agravado na ilha

por Graça Andrade Ramos - RTP
Taiwan teme reação chinesa se mundo não conseguir conter agressão russa à ucrânia Reuters

A China reagiu aos avisos de Boris Johnson e ao aumento do nível de vigilância militar ordenado esta semana pela Presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, numa altura em que as tensões fronteiriças estão ao rubro no leste europeu.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês frisou que Taiwan "não é a Ucrânia" e que sempre foi uma parte inalienável da China. Pretensão que a antiga ilha Formosa contesta há décadas.Na semana passada, o primeiro-ministro do Reino Unido Boris Johnson alertou para os perigos que enfrenta a ordem mundial caso as nações ocidentais não cumpram as promessas de apoio à independência da Ucrânia. E lembrou a situação de Taiwan.

Nos últimos dois anos têm-se multiplicado os incidentes militares perto da ilha, com Taiwan a acusar a República Popular da China de intimidação. Pequim considera a ilha território nacional chinês, apesar desta nunca ter estado submetida ao regime comunista fundado em 1949.

Esta quarta-feira, a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Pequim afastou comparações entre a questão de Taiwan e da Ucrânia.

"Taiwan não é a Ucrânia", afirmou Hua Chunying. "Taiwan sempre foi uma parte inalienável da China. Este é um facto histórico e legal indiscutível".

Recuperar para o império russo o território ucraniano caído sob influência ocidental foi um dos argumentos usados pelo Presidente russo Vladimir Putin para justificar no início da semana as intervenções do Kremlin sobre o país vizinho.

A questão de Taiwan remete para a guerra civil mas "a integridade chinesa nunca deveria ter sido comprometida e nunca o foi", acrescentou Hua.
Taiwan em alerta
Em 1949, as tropas nacionalistas da República da China lideradas por Chiang Kai-shek foram derrotadas pelas forças do Partido Comunista Chinês lideradas por Mao Tsé-Tung e, após perderem quatro capitais de província, refugiaram-se em Taiwan.

Enquanto Mao fundou no continente a República Popular da China, Taiwan manteve a designação República da China, o seu nome oficial até hoje. Tsai Ing-wen, a atual Presidente, é a mais recente de uma longa lista de opositores às investidas de Pequim, pelo direito à independência. Há precisamente um mês, o Governo da ilha registou a maior incursão aérea desde outubro de 2021 por parte da Força Aérea da China, com o Ministério da Defesa de Taiwan a reportar a entrada de 39 caças na sua zona defensiva que obrigou um esquadrão de aviões taiwaneses a intervir.

Tsai reuniu em finais de janeiro o seu Conselho de Segurança Nacional para analisar a crise da Ucrânia e formar um grupo de trabalho de forma a acompanhar os desenvolvimentos e os possíveis impactos na segurança de Taiwan.

De acordo com uma nota do seu gabinete, Tsai recomendou na ocasião a todas as unidades militares e de segurança que "aumentem o nível de vigilância e de alerta rápido a qualquer movimentação militar no estreito de Taiwan" e não se deteve aí.

Apesar das diferenças geoestratégicas, geográficas e de importância nas redes mundiais de distribuição entre Taiwan e a Ucrânia, como sublinhou a Presidente, "face à possível manipulação por parte de forças externas da situação na Ucrânia para afetar o moral da sociedade taiwanesa, todas as unidades governamentais devem reforçar as medidas de prevenção de ofensivas informáticas lançadas por forças externas e colaboradores locais".
Alerta de Boris Johnson
A nota do gabinete de Tsai não referiu o nome da RPC mas esta é a maior ameaça a Taiwan. Em janeiro, analistas consideraram que o risco actual de conflito pelo controlo da ilha está no nível mais elevado desde 1996.

No início dos mais recentes Jogos Olímpicos de Inverno, organizados por Pequim, Moscovo reiterou o reconhecimento russo da soberania chinesa sobre Taiwan, declaração recebida pelo Governo da ilha com repúdio mas também apreensão.

Tsai tinha dias antes expressado "empatia" pela situação ucraniana face a Moscovo. Na reunião com o Conselho Nacional de Segurança sobre a Ucrânia, Tsai lembrou que "Taiwan enfrenta há muito tempo as ameaças militares e a intimidação por parte da China. Por isso, temos empatia com a situação ucraniana, e apoiamos os esforços de todas as partes para manter a segurança regional", citou o seu gabinete. A paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan, uma das rotas de comércio marítimo mais ativas do mundo, e da região da Ásia-Pacífico, não é somente uma responsabilidade partilhada por todas, mas responde também às expetativas da comunidade internacional, acrescentou a Presidente de Taiwan.

"A intervenção militar não é definitivamente uma opção para resolver disputas – esta é uma verdade universal", afirmou ainda Tsai.

No passado dia 19 de fevereiro, quando Moscovo ainda rejeitava intenções de entrar em território ucraniano, o primeiro-ministro Boris Johnson do Reino Unido avisou para consequências nefastas globais, incluindo em Taiwan, caso as nações ocidentais não cumprissem as promessas de apoio à independência da Ucrânia.

"Se a Ucrânia ficar em perigo, o choque irá ecoar pelo mundo inteiro. E estes ecos serão ouvidos no leste da Ásia, serão ouvidos em Taiwan", acrescentou Johnson durante uma conferência de segurança em Munique, Alemanha. "As pessoas podem concluir que a agressividade resulta e que ter força é ter razão".

Com agências
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