Taiwan aponta ameaça elevada. China destaca maior frota naval das últimas décadas

por Cristina Sambado - RTP
Caças Mirage 2000 da Força Aérea de Taiwan preparam-se para descolar numa base em Hsinchu I-Hwa Cheng - AFP

A China está a destacar a maior frota naval em quase três décadas para águas regionais, representando uma ameaça para Taiwan que é mais pronunciada do que os anteriores jogos de guerra de Pequim, afirmou esta terça-feira o Ministério da Defesa de Taiwan. Taipé prepara-se para os potenciais exercícios militares.

O porta-voz do Ministério da Defesa, Sun Li-fang, disse em Taipé que a escala do atual destacamento naval chinês, numa área que vai desde as ilhas japonesas do sul até ao Mar da China Meridional, é a maior desde que a China realizou jogos de guerra em torno de Taiwan antes das eleições presidenciais de 1996Os militares chineses ainda não confirmaram a realização de exercícios.

Esta terça-feira, o Ministério da Defesa de Taiwan declarou ter detetado 47 aviões militares a operar em torno da ilha em 24 horas, bem como 12 navios da marinha e nove navios “oficiais”, que se referem a navios de agências ostensivamente civis, como a Guarda Costeira.

Dos aviões, 26 voaram numa área a norte de Taiwan, ao largo da costa da província chinesa de Zhejiang, seis no Estreito de Taiwan e outros 15 a sudoeste da ilha, de acordo com um mapa fornecido pelo Ministério na sua declaração matinal diária sobre as atividades chinesas.

Uma fonte da segurança de Taiwan disse à Reuters que os aviões chineses simularam ataques a navios de guerra estrangeiros e praticaram o afastamento de aviões militares e civis como parte de um “exercício de bloqueio”.

Em comunicado, o Ministério taiwanês de Defesa afirmou na segunda-feira que as “Forças Armadas de Taiwan identificaram navios do Exército de Libertação Popular Chinês (ELP) dos comandos dos teatros do Leste, do Norte e do Sul, bem como navios da guarda costeira que entraram nas áreas”. O que levou Taipé a aumentar o nível de alerta.

“A escala atual é a maior em comparação com as quatro anteriores”, frisou Sun Li-fang.

Segundo o porta-voz do Ministério da Defesa de Taiwan, “independentemente de terem ou não anunciado exercícios, estão a representar uma grande ameaça para nós.”O número de navios da marinha e da Guarda Costeira chinesas na região mantém-se em cerca de 90, é “muito alarmante” e a China está a visar outros países da região e não apenas Taiwan, disse uma fonte de segurança de Taiwan à Reuters.

Hsieh Jih-sheng, funcionário dos serviços secretos do Ministério, revelou na mesma conferência de imprensa que até agora não houve exercícios de fogo real nas sete zonas de espaço aéreo “reservadas” da China, duas das quais se situam no Estreito de Taiwan, mas que se registou um aumento significativo da atividade chinesa a norte de Taiwan no último dia.

A implantação da China na Primeira Cadeia de Ilhas - que vai do Japão a Taiwan, Filipinas e Bornéu, cercando os mares costeiros da China - tem como objetivo impedir a interferência de forças estrangeiras, sublinhou Hsieh Jih-sheng.

O Ministério da Defesa de Taiwan tinha afirmado na segunda-feira, que tinha iniciado exercícios de prontidão de combate “para contrariar as atividades do ELP” e que se mantinha em alerta máximo para monitorizar os movimentos do Exército de Libertação Popular Chinês. Quando questionado sobre as embarcações e as restrições do espaço aéreo citadas por Taiwan, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Pequim, Mao Ning, afirmou segunda-feira que, “Taiwan é uma parte integrante do território da China. A questão de Taiwan é um assunto interno da China. A China salvaguardará firmemente a sua soberania nacional e o seu território”.

Qualquer provocação unilateral pode comprometer a paz e a estabilidade no Indo-Pacífico. Iremos abordar todas as incursões na zona cinzenta e garantir a nossa segurança nacional”, afirmou o Ministério numa publicação na rede social X.

Para o funcionário dos serviços secretos do Ministério da Defesa de Taiwan, “a marinha chinesa está a construir dois muros no Pacífico, um no extremo leste da Zona de Identificação de Defesa Aérea de Taiwan e outro mais longe no Pacífico”.

“Estão a enviar uma mensagem muito simples com estes dois muros: tentar fazer do Estreito de Taiwan um mar interno” da China, alertou Hsieh Jih-sheng.
Viagem de Lai Ching-te teve oposição de Pequim

A China, que considera Taiwan, democraticamente governada, como o seu próprio território, apesar da rejeição da ilha, deveria lançar exercícios para exprimir a sua cólera face à viagem do presidente Lai Ching-te pelo Pacífico, que terminou na sexta-feira.

Lai fez escala no Havai e em Guam durante uma visita às Ilhas Marshall, Tuvalu e Palau - que se encontram entre os poucos aliados diplomáticos que restam a Taiwan. Estas escalas não oficiais nos EUA são habituais para os dirigentes de Taipé.

Esta foi a primeira visita de Lai Ching-te aos Estados Unidos desde que se tornou Presidente em maio. O dirigente, que há muito enfrenta a ira de Pequim por defender a soberania de Taiwan, aproveitou a sua deslocação para manifestar a sua solidariedade para com as democracias afins.

Durante a sua paragem em Guam, Lai apelou aos países semelhantes para que “nunca se curvem perante o totalitarismo”.

“Espero que todos os nossos compatriotas, independentemente do local onde se encontrem, assumam o compromisso conjunto de continuar a aprofundar a nossa democracia e a protegê-la”, afirmou Lai numa alocução dirigida aos membros da comunidade taiwanesa no estrangeiro, bem como ao governador de Guam, Lou Leon Guerrero, na quinta-feira.

Lai também manteve uma conserva telefónica com o presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Mike Johnson, durante a sua escala no território americano, que alberga algumas das bases americanas mais importantes do ponto de vista estratégico no Pacífico.

Pequim criticou a viagem de Lai durante a semana passada e prometeu “tomar medidas firmes e fortes para defender a soberania e a integridade territorial da nossa nação”.


A viagem de Lai foi efetuada depois de os Estados Unidos terem aprovado a venda de armas a Taiwan, o que levou a China a tomar “fortes contramedidas”.As autoridades chinesas opuseram-se firmemente à viagem de Lai, referindo-se a ele como um “separatista”.

O Partido Comunista da China reivindica a democracia autónoma de Taiwan como seu próprio território, apesar de nunca a ter controlado, e considera as interações não oficiais entre os EUA e Taiwan como uma violação da sua soberania.

Os dirigentes de Taiwan rejeitam as reivindicações territoriais da China, enquanto Pequim prometeu “reunificar” a ilha e não excluiu a possibilidade de a tomar pela força.
Maior projeção naval
No passado, Pequim recorreu a exercícios militares para intimidar Taiwan em resposta a ações que considera violarem as suas reivindicações sobre a ilha - parte de uma tendência mais ampla de aumento da sua pressão militar que tem contribuído para reforçar a parceria não oficial entre Washington e Pequim.

Um alto funcionário de Taiwan afirmou à CNN que o atual destacamento naval da China é maior do que o das duas anteriores rondas de exercícios militares em torno da ilha no início deste ano.


Em maio, dias após a tomada de posse de Lai, a China lançou dois dias de exercícios militares em grande escala em torno de Taiwan, naquilo a que chamou “castigo” pelos chamados “atos separatistas”. Chamou a esses exercícios “Espada Conjunta-2024A”.

Em outubro, a China realizou os exercícios Joint Sword-2024B, depois de Lai ter afirmado, durante um discurso no Dia Nacional, que a ilha “não estava subordinada” à China.

No entanto, o último movimento militar da China parece diferir desses dois exercícios, observou o funcionário de Taiwan, com uma implantação mais ampla de navios de guerra do Mar da China Oriental para o Estreito de Taiwan e o Mar da China Meridional.


Em vez de cercar Taiwan, os navios da marinha chinesa parecem querer afirmar o controlo dentro da primeira cadeia de ilhas - uma cadeia estratégica de ilhas que engloba o Japão, Taiwan, partes das Filipinas e da Indonésia, acrescentou o funcionário.

O Ministério da Defesa de Taiwan revelou também na segunda-feira que o Exército de Libertação Popular tinha designado sete zonas de espaço aéreo reservado a leste das suas províncias costeiras de Zhejiang e Fujian, que se situam a norte e noroeste de Taiwan, respetivamente.

Estas zonas são temporariamente reservadas a um determinado utilizador durante um determinado período, embora outras aeronaves possam passar por elas com autorização dos controladores do espaço aéreo, de acordo com as regras da aviação internacional.
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