Tailândia. "Três a quatro dias" para concluir resgate das crianças

por Andreia Martins - RTP
Membros da equipa de resgate abrigam-se da chuva junto à entrada para a gruta. É esperada precipitação forte nos próximos dias Tyrone Siu - Reuters

Na Tailândia, continua a corrida contra o tempo para resgatar as 12 crianças e o treinador, que estão presos numa gruta na região de Chiang Rai há duas semanas. As autoridades confirmaram este sábado que os próximos três a quatro dias são os mais "favoráveis" para iniciar a operação. O dia ficou marcado pela correspondência do grupo com o exterior através de várias cartas, as primeiras provas de vida públicas das crianças desde terça-feira.

Os próximos dias serão os mais prováveis para avançar com a retirada dos 12 jovens e o treinador. A confirmação partiu das próprias autoridades tailandesas e tem em conta não só o nível da água na gruta e as condições meteorológicas previstas, mas também o estado de saúde dos rapazes.

No início das operações, pensou-se que o resgate poderia levar vários meses. No entanto, a fragilidade cada vez maior das crianças mas também a intensificação das chuvas, prevista para a região na próxima semana, pode representar grande perigo para as crianças encurraladas numa pequena câmara.

“O nível da água pode subir para a área onde as crianças têm permanecido e tornar essa área inferior a dez metros quadrados”, admitiu Narongsak Osottanakorn, governador da região onde fica situada a gruta.

Recorde-se que a equipa de futebol retida há duas semanas é constituída por crianças e jovens entre os 11 e os 16 anos de idade. O treinador de futebol tem 25 anos.

Manuela Sousa - RTP

Mas porque as crianças retidas na gruta não sabem nadar nem mergulhar, e as condições são adversas mesmo para os mais experientes – na sexta-feira, um antigo mergulhador da marinha tailandesa perdeu a vida ao participar nas operações de resgate – tenta-se a todo o custo arranjar alternativas a uma gruta inundada com água turva, correntes fortes e túneis escuros e estreitos.

Por isso mesmo, foram já realizados mais de 100 furos na montanha onde fica a gruta, ainda que não tenha sido feita nenhuma aproximação.

"Realizámos mais de 100 furos, mas ainda não localizámos a sua posição", declarou o governador à imprensa.

Na sexta-feira, o empresário norte-americano Elon Musk disponibilizou-se a ajudar nesta missão de resgate e está a caminho da Tailândia, em conjunto com uma equipa de nove engenheiros, alguns que já estão no local. O multimilionário acredita que um dispositivo que está a ser desenvolvido pelas suas equipas poderá ser útil nesta missão.
Cartas das crianças e dos pais

O dia ficou ainda marcado pela primeira correspondência direta entre as crianças e as respetivas famílias, depois de as autoridades terem tentado uma ligação telefónica com vários quilómetros que nunca chegou a funcionar.

Hoje, os socorristas divulgaram cartas escritas pelas crianças, a primeira prova de vida do grupo desde os vídeos que tinham sido divulgados no início da semana. Nas mensagens enviadas, as crianças tentam acalmar os pais, garantem que está tudo bem e que vão regressar em breve.

Filipe Pinto - RTP

Entre as várias missivas havia também a do treinador da equipa, de 25 anos, que pede perdão às famílias por ter levado o grupo de crianças a explorar a gruta há duas semanas, a 23 de junho, depois de um jogo de futebol.

Os pais responderam ainda hoje às cartas e tentam animar o grupo. Numa única carta, a mãe de um dos rapazes escreve em nome de todos: “Para todos os miúdos. Não estamos chateados convosco. Tomem conta de vocês. Não se esqueçam de se cobrirem com mantas quando está frio. Estamos preocupados. Vocês vão sair em breve”, pode ler-se.

Ao treinador, os pais das crianças pedem: “Não te culpes. Queremos que saibas que não estamos chateados. Não te preocupes com isso”.

Entretanto, as condições meteorológicas previstas para os próximos dias apressam os trabalhos da equipa de resgate e ainda este sábado ocorreu um acidente com um veículo todo-o-terreno envolvido nas operações, do qual resultaram um ferido grave e três ligeiros.

Outra questão que está a preocupar cada vez mais as equipas de resgate é o baixo nível de oxigénio dentro da gruta e o elevado nível de dióxido de carbono, que poderá dificultar as operações e a própria sobrevivência do grupo.

Segundo as autoridades, os níveis aproximam-se agora dos 15 por cento, distante dos níveis considerados saudáveis (21 por cento), também devido à presença das centenas de pessoas que participam no resgate.

“Se o nível de oxigénio ficar abaixo dos 12 por cento, isso poderá afetar o cérebro e as próprias pessoas no interior”, disse o governador de Chiang Rai.
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