"Tab`eed". Irão utiliza exílio interno para reprimir defensores de Direitos Humanos e minorias

por Rachel Mestre Mesquita - RTP
Milhares de pessoas a caminho do cemitério de Aichi em Saqez, a cidade natal de Mahsa Amini, para assinalar os 40 dias da sua morte, desafiando as medidas de segurança reforçadas para travar os protestos liderados por mulheres. Irão, 26 outubro de 2022 AFP PHOTO / UGC IMAGE

O alerta é da Organização Mundial contra a Tortura (OMCT), que destaca no seu novo relatório, divulgado esta segunda-feira, a utilização sistemática do exílio interno da República Islâmica do Irão para silenciar a dissidência, marginalizar as minorias e suprimir o ativismo político. A prática do exílio interno, também conhecido por "Tab'eed", é um castigo que assenta na lei da Sharia e é aplicado para isolar indivíduos que critiquem o regime - ativistas políticos, defensores dos Direitos Humanos, jornalistas e membros de minorias étnicas e religiosas.

O relatório da Organização Mundial contra a Tortura, com sede em Genebra, intitulado "Tab'eed: O exílio interno como castigo para os defensores dos direitos humanos e as minorias no Irão" chama a atenção para a prática crescente desta forma de punição que "desloca à força ativistas e minorias para regiões remotas e empobrecidas, onde as condições adversas equivalem a tortura e maus-tratos".

 
A OMCT explica que a prática do exílio interno tem sido sistematicamente utilizada para isolar indivíduos e impedi-los de se envolverem em mais ativismo político, nomeadamente ativistas políticos e defensores dos direitos humanos, como é o caso do jornalista Ahmad Zeid Abadi e o defensor dos direitos humanos azeri Siamak Mirzaei condenados a anos de exílio na sequência de uma pena de prisão. 

A ativista ativista iraniana Narges Mohammadi, laureada com o Prémio Nobel da Paz, também é apontada como um exemplo notável da prática repressiva do Irão, uma vez que tem sido repetidamente transferida para instalações remotas e isoladas devido ao seu ativismo dentro da prisão.

"Os indivíduos são deslocados à força para regiões economicamente desfavorecidas e remotas e obrigados a permanecer durante um ou dois anos, ou de transferências de prisão, em que os presos políticos são transferidos para instalações distantes, cortando os seus laços com a família e a comunidade", pode ler-se no documento.

Segundo a Organização Mundial contra a Tortura, a prática repressiva do regime iraniano "viola a proibição absoluta da tortura e dos tratamentos e penas cruéis, desumanos e degradantes, ampliando o sofrimento daqueles que já são alvo de um regime que dá prioridade ao controlo em detrimento da justiça".

O relatório revela que este castigo pode assumir a forma de banimento, ou desterro, em que os indivíduos exilados são frequentemente abandonados em zonas remotas sem os seus pertences pessoais, sem acesso a bens de primeira necessidade e sem qualquer apoio financeiro ou social das autoridades, ficando totalmente à mercê dos locais para sobreviver, o que aumenta a sua vulnerabilidade e isolamento social, político e económico.

Num comunicado de imprensa, divulgado hoje, a OMCT denuncia um "claro abuso do poder do Estado" que põe em causa "os princípios da igualdade e da não discriminação" e  insta a República Islâmica do Irão a pôr termo a esta "prática desumana que visa os defensores e os grupos marginalizados", que apesar de ter a sua base na lei da Sharia, raramente é aplicada noutros países.
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