Suspeita de sabotagem. Dois cabos óticos submarinos deixaram de funcionar no Báltico
O C-Lion 1, que liga a Alemanha e a Finlândia desde 2016, e o Arelion, outro cabo de telecomunicações, entre a Lituânia e a Suécia, deixaram de funcionar em menos de 24H00, levantando suspeitas de mão criminosa, a mando ou a favor do Kremlin.
Suécia, Finlândia, Alemanha e Lituânia já abriram inquéritos aos incidentes e à navegação marítima no Báltico, na altura da interrupção.
O porta-voz da operadora lituana responsável pelo serviço, a Telia Lithuania, garantiu à norte-americana CNN, que foram danos sofridos pelo próprio cabo que levaram à quebra no Arelion.
"Podemos confirmar que a interrupção do tráfego de internet não foi causada por falhas de equipamento mas por danos físicos ao cabo de fibra ótica", afirmou Audrius Stasiulaitis.
A interrupção no C-Lion continua por explicar, e está a ser investigada não tendo sido ainda realizada uma inspeção física, referiu em comunicado a empresa operadora do cabo, a Cinia.
O presidente executivo da empresa , Ari-Jussi Knaapila, afirmou contudo segunda-feira aos jornalistas, que a interrupção brusca implicava que o C-Lion tinha sido cortado por uma "força externa".
Borrell cauteloso
Os cabos submarinos podem ter problemas por danos sofridos durante a colocação, por defeitos de material ou por condições marítimas adversas.
As suspeitas de sabotagem neste caso recaem sobre Moscovo, num clima de alta tensão entre os europeus devido à ameaça de agravamento do conflito russo-ucraniano e ao risco de que este possa alastrar à Europa.
Josep Borrell, o Alto Responsável pela diplomacia da União Europeia, procurou lançar água fria nas suspeitas.
"Não acredito nas versões de âncoras - de navios - que teriam por acaso provocado os estragos nos cabos", acrescentou.
Uma possível ação da sabotagem beneficiaria o Kremlin, ao afetar as comunicações entre os países do Báltico, vulneráveis a um ataque direto vindo do leste, e a Europa Central. Tanto a Suécia como a Finlândia aderiram à NATO em 2023, para se protegerem dessa ameaça.
A inutilização do C-Lion seria particularmente grave por ser a única ligação do género entre a Finlândia e o centro da Europa.
"A nossa segurança europeia não está apenas sob ameaça da guerra de agressão russa contra a Ucrânia, mas igualmente de guerra híbrida por parte de atores maliciosos", referiram.
A imprensa da Lituânia divulgou a ocorrência. A Telia Lithuania informou então que o tráfico do cabo abrangia um terço da capacidade internet do país, a qual foi entretanto restaurada em pleno por outras vias. A reparação do cabo poderá contudo levar várias semanas, dependendo das condições atmosféricas.
A falha no C-Lion 1 foi revelada segunda-feira. O comunicado da Cinia indicou a existência de um navio de prontidão para se dirigir ao local da interrupção e preveniu que o prazo de reparação era incerto, apontando um intervalo comum entre cinco a 15 dias.
Com um comprimento de quase 1.200 quilómetros, a par de outras peças de infraestrutura cruciais, incluindo gasodutos e cabos de energia, o C-Lion partilha 800 quilómetros da sua extensão com o gasoduto Nord Stream, de transporte de gás russo para a Alemanha, danificado por explosões em 2022 nunca explicadas.
Os Estados Unidos acautelaram recentemente para a intensificação da atividade militar russa em torno de cabos submarinos. Para Washington, a probabilidade de operações de sabotagem russas a estas infraestruturas essenciais, aumentou.
Em abril de 2023, uma investigação conjunta das operadoras de televisão nacionais da Suécia, Dinamarca, Noruega e Finlândia, indicou que Moscovo dispõe de uma flotilha de navios espião suspeitos de operar em águas nórdicas como parte de um programa de sabotagem de cabos sobmarinos e de quintas de vento na região.