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Sul da Europa quer liderar diálogo com países de origem dos migrantes

por RTP
Angela Merkel não acredita que um acordo final a nível europeu possa ser alcançado no final desta semana Hannibal Hanschke - Reuters

Em vésperas do Conselho Europeu, que se realiza esta quinta e sexta-feira em Bruxelas, a Europa prepara uma nova resposta à crise migratória. Em Berlim, a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente do Governo espanhol, Pedro Sánchez, concordaram na necessidade de uma resposta "comum" ao problema migratório. Para os dois líderes, devem ser os países europeus em zonas costeiras, com maior tradição e conhecimento a estabelecer contacto com as nações de origem dos imigrantes. Apesar do otimismo, Merkel não acredita que um acordo final possa ser alcançado no final desta semana.

Novos episódios com massas de migrantes às portas da Europa foram recentemente mais merecedores da atenção dos media e voltaram a colocar o tema da crise migratória do Velho Continente na agenda dos líderes europeus, com Bruxelas a dar sinais de que poderá alterar a forma como se posiciona face a este dossier.

Esta terça-feira, o presidente do Governo, Pedro Sánchez, ofereceu-se para liderar o diálogo com os países de origem dos migrantes em nome de toda a União Europeia.

Em visita a Berlim, onde foi recebido por Angela Merkel, o responsável espanhol destacou os contactos feitos por Madrid nos últimos anos com Marrocos, Mauritânia e Senegal, por exemplo. Na visão de Pedro Sánchez, há que reforçar o diálogo existente entre as nações europeias em zona costeira – sem especificar quais, em concreto – e os países de onde partem os migrantes.

A chanceler alemã reforçou a mensagem, ao assinalar que a Europa deverá estreitar relações com países como a Líbia, Marrocos ou Senegal, de forma a repartir de melhor forma “a responsabilidade entre os chefes de Estado”. Por isso, argumenta, é necessário que essas conversações possam ocorrer de forma especializada, estabelecidas por determinados Governos europeus “em nome dos demais colegas da União Europeia”.

“É uma questão de dar e receber, como fizemos no acordo entre a União Europeia e a Turquia”, frisou Merkel sobre as conversações com os países de origem dos migrantes.

No seu primeiro encontro, os dois líderes procuraram firmar uma posição conjunta para levar ao Conselho Europeu de 28 e 29 de junho.

Sánchez fez questão de lembrar a solidariedade de Espanha no acolhimento do navio Aquarius, com mais de 620 migrantes, ainda que Madrid não tenha disponibilizado nenhum porto ao Lifeline, à deriva no Mar Mediterrâneo desde quinta-feira, com 230 migrantes a bordo. Uma embarcação que entretanto Malta se ofereceu para receber, já depois do final da reunião entre os dois líderes. 

Sem referir a recente situação política em Itália, Sánchez sublinhou que “Espanha é um país solidário, mas é importante encontrar uma resposta comum europeia e um desafio comum”.

“Espanha está a dar apoio, a ajudar, a ser responsável, sem levantar a voz nem a elevar nenhum decibel”, disse ainda Pedro Sánchez.

O novo governo italiano, fruto da coligação entre a Liga e o Movimento 5 Estrelas, tem assumido uma postura assertiva de anti-imigração, sobretudo com as intervenções de Matteo Salvini, conotado com a extrema-direita. Roma tem vindo a exigir uma ajuda mais significativa por parte da Europa para acolher os refugiados que chegam ao continente.
Pressão interna na Alemanha 

O presidente do Governo espanhol mostrou-se ainda disponível para apoiar Angela Merkel numa solução de controlo de movimentos de refugiados dentro da União Europeia, prometendo negociar com Berlim a questão das “migrações secundárias”, isto é, dentro do espaço europeu.

No plano interno, a Alemanha enfrenta a posição anti-imigração assumida pelo próprio ministro do Interior, Horst Seehofer, que faz parte da CSU, que integra a solução governativa liderada por Angela Merkel.

A força política bávara, parceira da CDU no executivo, ameaça exigir o encerramento das fronteiras alemãs já a partir do próximo fim de semana caso a chanceler não chegue a acordo para uma solução europeia visando reduzir o número de migrantes que requerem asilo à Alemanha. Um ato de provocação por parte do responsável e um potencial ponto de rotura na aliança parlamentar de 70 anos entre CSU e CDU.

Este discurso drástico por parte dos parceiros de Governo de Merkel tem sido cada vez mais veemente com a aproximação das eleições na Baviera, que se realizam em outubro, e onde a Alternativa para a Alemanha (AfD, extrema-direita) tem estado a avançar nas sondagens.

Desde 2015, Berlim recebeu mais de um milhão e meio de pedidos de asilo, sendo que muitos o fazem depois de terem solicitado asilo noutro país da UE.

Mas Angela Merkel não acredita que um novo acordo sobre a imigração possa ser alcançado já nesta cimeira. “Não vai haver nenhuma solução para todo o pacote de asilo (…) na sexta-feira. Por essa mesma razão, estou a falar com os países que estão com boa vontade em todas as dimensões da política migratória”, disse a chanceler.

Perante essa impossibilidade de um acordo migratório entre todos os Estados-membros no Conselho Europeu, Angela Merkel procura já assegurar pactos bilaterais com outros países europeus. Esses pactos país a país permitirão a Berlim reenviar os refugiados que solicitaram asilo político noutro país da União Europeia, cumprindo-se dessa forma a Convenção de Dublin.
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