A Suíça, país escolhido para a dupla comemoração do 10 de Junho este ano, com a participação do Presidente da República e do primeiro-ministro, alberga a segunda maior comunidade de emigrantes portugueses na Europa e no mundo.
De acordo com dados do Ministério dos Negócios Estrangeiros, residem na Suíça cerca de 260 mil portugueses portadores de cartão do cidadão, um número que se tem mantido estável ao longo dos últimos anos, um pouco aquém do máximo histórico, registado em 2016 (cerca de 275 mil), e apenas atrás de França, onde foi inaugurado o modelo das duplas comemorações do Dia de Portugal, há oito anos.
Desde que o chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, lançou em 2016, em articulação com o então primeiro-ministro, António Costa, e com a participação de ambos, um modelo inédito de duplas comemorações do 10 de Junho, primeiro em Portugal e depois junto de comunidades portuguesas no estrangeiro, a Suíça é o sétimo país estrangeiro a acolher a celebração, após França (2016), Brasil (2017), Estados Unidos (2018), Cabo Verde (2019), Reino Unido (2022) e África do Sul (2023), sendo que em 2020 e 2021 só houve cerimónias em Portugal devido à pandemia da covid-19.
Durante as comemorações na Suíça junto da comunidade portuguesa, terça e quarta-feira, Marcelo Rebelo de Sousa e o primeiro-ministro Luís Montenegro passarão por Genebra, Berna e Zurique.
Alguns pontos essenciais sobre a comunidade portuguesa na Suíça:
De acordo com dados do Ministério dos Negócios Estrangeiros, o número de cidadãos portugueses, com cartão de cidadão com morada na Suíça, atingiu os 260 mil, sendo esta a segunda maior comunidade de emigrantes portugueses no continente europeu, depois da de França (perto de 600 mil).
A comunidade portuguesa na Suíça é a terceira comunidade estrangeira mais relevante no país, a seguir à italiana e à alemã, e à frente da francesa, tendo crescido cerca de 1% em 2023 face ao ano anterior. Esse crescimento deve-se ao número de nascimentos ocorridos e à reativação de autorizações de residência suspensas, já que, à semelhança do ocorrido nos anos anteriores, não se verificou um aumento por força da chegada de novos imigrantes -- o saldo entre entradas e saídas efetivas até foi ligeiramente negativo no ano passado (em 678 cidadãos).
Aos cerca de 260 mil residentes permanentes com cartão de cidadão português juntam-se perto de 5 mil residentes não permanentes (detentores de autorização temporária), sendo que cerca de 77% dos portugueses na Suíça têm residência permanente e estão maioritariamente em idade ativa (a comunidade residente com mais de 65 anos é de apenas 2,8% e os menores de 17 anos representam 19,3%).
Mais de um quarto (26,8%) da população na Suíça - estimada em mais de 8,6 milhões de pessoas -, é estrangeira, representando a comunidade portuguesa 3,1% do total da população e 11,8% dos estrangeiros radicados no país.
A dimensão da comunidade lusa na Suíça mantém-se homogénea, com ligeiras oscilações, desde 2016, ano em que atingiu o valor mais elevado de sempre: 275 mil cidadãos.
Os portugueses estão atualmente presentes em todos os 26 cantões do país, constituindo a comunidade estrangeira mais importante nalguns deles, independentemente da língua (a Suíça tem quatro línguas oficiais -- alemão, francês, italiano e romanche, esta última falada predominantemente em apenas um cantão, sendo alguns cantões bilingues).
A comunidade lusa é a maior no cantão francófono de Neuchâtel, nos cantões bilingues de Friburgo e Valais (francês e alemão) e de Graubünden (alemão e romanche), e a segunda mais importante nos cantões de Appenzell Interior, Genebra, Jura, Obwalden, Ticino, Vaud e Uri.
A maior concentração de emigrantes portugueses verifica-se no cantão de Vaud, onde residem 56.270 portugueses, seguindo-se os cantões de Genebra, Valais, Zurique, Friburgo e Berna, todos com mais de treze mil residentes. No total, 75% da comunidade portuguesa na Suíça reside nestes seis cantões.
De acordo com a leitura que a Embaixada de Portugal em Berna fez, em março deste ano, da "residência linguística" da comunidade, a presença da comunidade lusa em todos os cantões, "uma característica apenas repetível pelas comunidades italiana, alemã e francesa", significa, "de forma eloquente que, atualmente, o domínio de uma das línguas oficiais do país (alemão, francês, italiano ou romanche) ou um dialeto/derivação local [...] deixou de constituir um entrave principal à sua plena integração".
De acordo com os dados oficiais, a comunidade portuguesa continua sobretudo concentrada nos setores da construção civil, obras públicas, agricultura, hotelaria e restauração, serviços financeiros, setor farmacêutico, reparação automóvel, distribuição alimentar e limpezas.
No entanto, nos últimos anos tem-se assistido a um aumento da emigração qualificada, designadamente "um conjunto apreciável de nacionais a exercer funções no sistema de saúde na Suíça", tendo os portugueses sido, em 2022, a sexta nacionalidade mais relevante em termos de reconhecimento de títulos para o exercício de enfermagem e profissões conexas.
De acordo com dados divulgados no início do corrente ano pela Ordem dos Enfermeiros, a Suíça foi em 2023, e pelo segundo ano consecutivo, o principal destino da emigração de enfermeiros portugueses, à frente de Espanha, Bélgica, França e Reino Unido.
"A maioria dos portugueses que saem para a Suíça continuam a ser pouco qualificados, embora se observe já um aumento de alguma emigração qualificada, e o caso mais claro é o de emigração de enfermeiros para a Suíça", assinala à Lusa o coordenador científico do Observatório da Emigração, Rui Pena Pires.
A taxa de desemprego na Suíça tem sido tendencialmente baixa, atingindo no final de 2023 pouco mais de 100 mil cidadãos (2%), dos quais sensivelmente metade (53,2%), de nacionalidade estrangeira. Destes, 7.257 eram portugueses (6,8% do total e 12,8% dos estrangeiros), o que representa uma taxa desemprego sensivelmente idêntica à dos italianos, mas superior à dos alemães e franceses.
Com a emigração portuguesa para a Suíça a começar a intensificar-se no final da década de 1970, início da década de 1980, assiste-se já ao que o estudo sobre o "perfil social" da comunidade portuguesa no país elaborado pela Embaixada em Berna classifica como a "fase embrionária de uma terceira geração".
No final de 2022, 83% dos jovens portugueses com menos de 14 anos já tinham nascido na Suíça, o que compara com uma percentagem de 67% registada em 2012, e, neste grupo etário, Portugal tinha o maior número de menores de idade, à frente da Alemanha, da Itália e da França.
Reportando-se ainda a dados de final de 2022, o estudo nota que, de entre os portugueses com mais de 15 anos, 89% correspondiam à primeira geração de emigração, e perto de 11% à segunda geração, "não necessariamente ainda nascida na Suíça".
Apenas 16 cidadãos portugueses, detentores de dupla nacionalidade, integram órgãos municipais, representando os mais diversos partidos políticos, o que confirma a tendência de uma escassa participação política da comunidade lusa, mesmo que verifique um aumento das naturalizações, necessárias na maior parte dos casos para a eleição para cargos públicos.
Desde 1991, cerca de 54 mil portugueses já obtiveram a nacionalidade suíça e, na década passada, em média, 42% dos nacionais nascidos na Suíça solicitaram a naturalização, mas ainda assim continua a não ser expressiva a participação política ativa na vida local.
O estudo sobre o perfil social da comunidade portuguesa na Suíça atribui essa fraca participação também às "restrições legais decorrentes de legislação vigente, que limitam a apenas alguns dos cantões francófonos o direito de eleger e ser eleito enquanto nacional estrangeiro".
Dos 16 cidadãos portugueses eleitos, cinco foram eleitos em cantões de língua alemã e onze em cantões de língua francesa.
As remessas dos emigrantes na Suíça atingiram em 2023 o valor mais elevado de sempre, com o montante global de 1.085,5 milhões de euros a ultrapassar o de França (1.045,2 milhões), de acordo com dados do Banco de Portugal.
Em 2022, as remessas enviadas pelos emigrantes portugueses na Suíça haviam-se fixado nos 1.061 milhões de euros, atrás das remessas oriundas desde França (1.081 milhões), que foi então superada no ano passado.
No cômputo geral, as remessas dos emigrantes portugueses por todo o mundo subiram 2,4% no ano passado, para 3.985 milhões de euros, batendo novamente o recorde.