O número de mortos na cidade do estado sudanês de Gezira, cercada há semanas pelos paramilitares da Força de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês), subiu para mais de 500, segundo uma Organização Não-Governamental (ONG).
A ONG local acusa também aquele grupo, um dos lados do conflito no Sudão, de envenenamentos e de bloquear o acesso da ajuda.
A Conferência de Gezira, um grupo da sociedade civil sudanesa, disse numa breve mensagem, na sua conta na rede social Facebook, que "o número de mortos na cidade de Al Hilaliya subiu para 527", incluindo 53 crianças, uma dado que as RSF não comentaram.
O secretário-geral da organização, Mubar Mahmud, disse ao portal de notícias sudanês Sudan Tribune que o número de mortos foi registado num período entre 21 de outubro e 17 de novembro, acrescentando que a situação em Al Hilaliya levou dezenas de milhares de pessoas que vivem noutras cidades da região a fugir das suas casas.
Além disso, a ONG acusou os paramilitares das RSF de bloquearem a circulação no leste e norte de Gezira e de exigir o pagamento de várias quantias em dinheiro para permitir que as pessoas fujam para zonas mais seguras, acrescentando que os que o conseguem fazer estão sujeitos ainda a mais abusos por parte dos paramilitares.
Fontes locais acusaram anteriormente as RSF de envenenar a água potável e de distribuir alimentos envenenados com fertilizantes e mercúrio, atribuindo o elevado número de vítimas à propagação de doenças e à falta de cuidados de saúde entre os residentes de Al Hilaliya.
As RSF assumiram o controlo da capital de Gezira, Ouad Madani, em dezembro de 2023 e, desde então, têm cometido graves violações dos direitos humanos, incluindo assassínios, raptos e violência sexual. Os ataques aumentaram após a deserção, em 20 de outubro, do líder do grupo em Gezira, Abu Aqla Kikil.
O Sudão está mergulhado numa guerra civil desde abril de 2023, como resultado das tensões crescentes sobre a integração das RSF nas Forças Armadas sudanesas. Esta tratava-se de uma parte fundamental de um acordo assinado em dezembro de 2022 para formar um novo governo civil e relançar a transição do poder para as mãos de civis, após a destituição de Omar Hassan al-Bashir, em 2019 e do golpe de Estado de outubro de 2021 em que o então ministro de transição, Abdullah Hamdok, foi derrubado.