Sudão. Mais de um milhão de pessoas fugiram após quatro meses de conflito "em espiral", diz a ONU

por Rachel Mestre Mesquita - RTP
Crianças sudaneses em fuga do conflito na região do Darfur procuram refúgio no Chade, a 4 de agosto de 2023. Zohra Bensemra - Reuters

"A situação está a ficar fora de controlo", expõem em declaração conjunta as agências das Nações Unidas. Desde o início da guerra entre fações militares rivais, em meados de abril, estima-se que cerca de 1 017 449 de pessoas tenham atravessado do Sudão para os países vizinhos, e que os deslocados dentro do país sejam 3 433 025, segundo os dados publicados esta terça-feira pela Organização Internacional para as Migrações (OIM).

A população do Sudão, já por si impactada sucessivamente por conflitos e crises económicas, enfrenta desde 15 de abril - devido aos combates entre o exército sudanês e as forças paramilitares de apoio rápido (RSF) - uma exposição agravada a batalhas e ataques diários na capital Cartum e a outras cidades das regiões de Darfur e do Cordofão.

A declaração conjunta das agências das Nações Unidas denuncia o efeito da violência no acesso à alimentação e aos cuidados de saúde no país."O tempo está a esgotar-se para que os agricultores possam plantar as colheitas que os alimentarão a eles e aos seus vizinhos. As provisões médicas são escassas.”

Insegurança, pilhagens, longos cortes de eletricidade, comunicações e água levam milhares de pessoas a fugir e a abandonar o país e as zonas de maior conflito. A ONU estima que mais de quatro mil tenham sido mortas.

"Os restos mortais de muitos dos mortos ainda não foram recolhidos, identificados ou enterrados", de disse Elizabeth Throssell, porta-voz do Alto Comissariado para os Direitos Humanos (ACNUDH), num briefing em Genebra.

Os relatos de agressões sexuais aumentaram em 50 %, afirmou Laila Baker, funcionária do Fundo das Nações para a População (UNFPA).

De acordo com um comunicado da autoridade nacional de eletricidade, desde domingo que grandes áreas do país estão a sofrer um apagão de eletricidade, deixando as redes móveis fora de serviço e impossibilitando as comunicações.

Cerca de 13.500 pessoas ficaram com as casas destruídas ou desalojadas, segundo a ONU, devido às chuvas sazonais, que aumentam igualmente o risco de doenças.

Numa altura em que o país vive mergulhado numa grande instabilidade e em constante ameaça de uma guerra civil prolongada, os esforços internacionais – liderados pela Arábia Saudita e pelos Estados Unidos – para negociar um cessar-fogo estagnaram.

O chefe do exército sudanês, general Abdel Fattah al-Burhan, acusou as forças paramilitares de apoio rápido (RSF) de ter como objetivo "levar o país de volta a uma era anterior ao Estado moderno" e de "cometer todos os crimes que se possam imaginar", num discurso proferido na segunda-feira.

Por sua vez, o RSF acusou o exército de tentar tomar o poder total sob a direção de leais do líder autocrático Omar al-Bashir, que foi derrubado durante uma revolta popular em 2019.

c/Reuters
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