Sudão. Mais de 40 mortos em ataque de drones a um mercado

por Carla Quirino - RTP
Mohamed Nureldin Abdallah - Reuters

No domingo, um mercado de Cartum foi alvo de ataques aéreos perpetrados pelo exército sudanês deixando pelo menos 46 mortos, disseram ativistas e médicos locais. Este ataque com drones é já considerado o mais mortífero, nos quase cinco meses de guerra no Sudão, que envolve militares e um grupo paramilitar rival na luta pelo controlo do país.

Os Médicos Sem Fronteiras (MSF) descreveram o ataque como “carnificina”, quando o mercado de Qouro (Gorro), lotado de gente no domingo, foi atingido por “armas explosivas”.

O número de vítimas no “massacre do mercado de Qouro subiu para 46 durante a noite", disse o comité de resistência local, um dos muitos grupos ativistas que costumavam organizar protestos pró-democracia e agora prestam assistência durante a guerra.

“Por volta das 7h15 (06h15 em Lisboa), aviões militares bombardearam a área do mercado de Qouro”, afirmou o comité.

O grupo, que inicialmente tinha avançado 35 mortes, acrescentou que havia “dezenas de feridos”. As vítimas estavam a ser levadas para o hospital de Bashair.

O balanço mais recente feito pelo Sindicato dos Médicos do Sudão aponta para mais de 60 pessoas feridas no ataque no bairro de Mayo.

O hospital emitiu um “apelo urgente” para que todos os profissionais médicos da área viessem e ajudassem a tratar o “número crescente de feridos que continuam a chegar”.

Marie Burton, a coordenadora de emergência de MSF, afirmou que Cartum “está em guerra há quase seis meses”, e mesmo assim “os voluntários e a equipa médica do hospital Bashair estão chocados e esmagados pela escala de horror que atingiu a cidade” no domingo.

Na rede X, antigo Twitter, Burton escreve: “Parei de contar quantos feridos chegaram. Dupla amputação dos braços para um paciente, cirurgias viscerais. As lesões são insuportáveis”.



Uma estimativa do Armed Conflict Location & Event Data Project avança que perto de 7.500 já terão sido mortas na guerra que começou a 15 de abril.

Os principais intervenientes na luta pelo controlo do país são o chefe do exército sudanês, Abdel Fattah al-Burhan e o seu ex-vice, Mohamed Hamdan Daglo, que comanda o grupo paramilitar de Apoio Rápido. Forças (RSF).

Desde então, os confrontos alastraram-se a várias zonas do país. A capital Cartum transformou-se num campo de batalha urbano.

No domingo, a RSF acusou os militares de “ataques aéreos contra civis no sul de Cartum”.

As forças armadas negaram ter atacado o mercado, argumentando que os militares do Estado “dirigem os seus ataques contra concentrações, multidões e bases rebeldes como alvos militares legítimos e adere plenamente ao direito humanitário internacional”.

O exército tem sido acusado de repetidos bombardeamentos indiscriminados contra as áreas residenciais, mas por suas vez argumentam que estas zonas são espaços onde os paramilitares se instalaram, nomeadamente expulsando famílias e ocupando casas.

Este bairro de Mayo é apontado por ser um local onde as forças paramilitares rivais estariam destacadas.

Os paramilitares comandados pelo general Dagalo ao posicionarem-se em bairros e edifícios ocupados por civis é “uma potencial violação das Convenções de Genebra”, sublinha o Observatório de Conflitos do Sudão.

Neste ciclo vicioso, o Observatório acrescenta que as Forças Armadas Sudanesas “são obrigadas a garantir que os danos civis sejam minimizados, independentemente de um alvo ter sido transformado num alvo militar legítimo”.

Com as hostilidades, de acordo com dados da ONU, um total de mais de cinco milhões de pessoas foram forçadas a fugir das suas casas no Sudão e um milhão delas através das fronteiras.

Quem que não consegue fugir de Cartum permanece encurralada na cidade entre ataques aéreos, disparos de artilharia e combates de rua.

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