Sudão. Aumento da violência provoca a maior crise de deslocados do mundo

por Rachel Mestre Mesquita - RTP
"Histórias de arrepiar os ossos sobre as viagens angustiantes que mulheres e crianças foram obrigadas a fazer só para chegar à segurança da cidade de Madani", disse Catherine Russell, diretora-Executiva da UNICEF. Ahmed Elfatih Mohamdeen - UNICEF

O atual conflito armado no Sudão entre o exército e as Forças de Apoio Rápido (RSF) já deslocou mais de 7,1 milhões de pessoas, entre as quais mais de três milhões de crianças, originando a "maior crise de deslocação do mundo" e mergulhando o país numa profunda crise humanitária. Com o alastrar do conflito nas últimas semanas, milhares de pessoas continuam a fugir em busca de segurança, à medida que os refúgios seguros começam a escassear no país.

A recente escala dos combates no Estado sudanês de Al-Jazira, no centro-leste do país, obrigou pelo menos 300 mil pessoas a fugir o que “elevou a população de deslocados para 7,1 milhões”, das quais 1,5 milhões para os países vizinhos, declarou Stéphane Dujarric, porta-voz do secretário-Geral da ONU. "Cerca de 300 mil pessoas fugiram de Wad Madani, no Estado de Al-Jazira, numa nova vaga de deslocações em grande escala", disse o porta-voz da ONU.

Nos últimos dias, pelo menos 150 mil crianças vulneráveis foram “forçadas a fugir das suas casas, em busca de segurança", à medida que os combates entre o exército sudanês e as forças paramilitares de Apoio Rápido (RSF) irromperam em áreas que “anteriormente eram consideradas relativamente seguras”, afirmou a diretora Executiva da UNICEF, Catherine Russell, em comunicado.  "Esta nova vaga de violência pode deixar crianças e famílias encurraladas entre as linhas de combate ou apanhadas no fogo cruzado, com consequências fatais," alertou Catherine Russell.
População privada de ajuda urgente

A guerra que começou a 15 de abril e já dura há oito meses alastrou-se, na semana passada, até ao Estado sudanês de Al-Jazira
, a sul de Cartum, onde se estima que vivam quase seis milhões de pessoas, metade das quais crianças

O número da população tinha aumentado nos últimos meses com cerca de 500 mil pessoas provenientes de outros Estados que foram procurar um refúgio em segurança. Quase 90 mil dessas pessoas estavam na capital do Estado, em Wad Madani, o principal ponto de muitos serviços essenciais para a população sudanesa."Os nossos colegas no Sudão ouviram histórias de arrepiar os ossos sobre as viagens angustiantes que mulheres e crianças foram obrigadas a fazer só para chegar à segurança da cidade de Madani", disse Catherine Russell, em comunicado.

Até ao alastrar do conflito, no início do mês de dezembro, a cidade de Wad Madani acolhia centenas de deslocados vulneráveis e servia de centro de operações humanitárias. No entanto, a escalada dos combates levou à suspensão a 15 de dezembro de todas as missões humanitárias no terreno que operavam a partir do Estado sudanês de Al-Jazira, localizado no centro-leste do país."Agora, até essa frágil sensação de segurança está a ser destruída, uma vez que essas mesmas crianças foram novamente forçadas a abandonar as suas casas. Nenhuma criança deveria ter que experimentar os horrores da guerra.", acrescentou.

Com mais de metade dos Estados a viverem um conflito ativo, dez no total de 18 Estados que compõe o país, o Sudão enfrenta atualmente uma redução drástica das zonas de segurança no país e a maior crise de deslocação de pessoas e crianças do mundo, que têm sido forçadas a fugir da violência generalizada em busca de segurança, mas também de comida e água, abrigo e proteção.
Catarina Miranda - RTP

À semelhança do que acontece noutras guerras, as mulheres são as mais afetadas, para além das crianças. 

Desde o início do conflito entre o exército e o RSF, em abril deste ano, morreram 12 mil pessoas, segundo uma estimativa conservadora do projeto Armed Conflict Locations and Event Data.

c/ agências
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