Sri Lanka. “Prioridade é deter os terroristas”

por Ana Sofia Rodrigues - RTP
EPA

Um turista português de 30 anos morreu numa série de atentados a hotéis e Igrejas no Sri Lanka. É uma das 207 vítimas mortais contabilizadas pelas autoridades. O primeiro-ministro do Sri Lanka admite que haveria informação das secretas sobre um possível ataque, mas que ele não foi informado antecipadamente. Para Ranil Wickremesinghe, a prioridade agora é deter os atacantes. Treze pessoas já foram detidas.

207 mortos e 450 feridos é o balanço sangrento de uma série de ataques e explosões no Sri Lanka, em Domingo de Páscoa. Cinco na capital Colombo, em quatro hotéis de luxo e numa igreja. Outras duas explosões aconteceram em igrejas em Negombo, a norte da capital, onde há uma forte presença católica, e outra detonação aconteceu no leste do país.

“Foi uma torrente de sangue”, testemunhou um comerciante vizinho a uma das igrejas atacadas na capital Colombo, que se precipitou para o interior da Igreja para ajudar.

Fontes policiais revelaram que as primeiras seis explosões ocorreram "quase em simultâneo" quando passava pouco das três da manhã em Portugal, eram 8h00 no Sri Lanka.

Pelo menos 35 estrangeiros estão entre as vítimas mortais, contando-se muitos americanos, britânicos e chineses. Há pelo menos um português morto no ataque a um dos hotéis. Duas das explosões terão sido executadas por bombistas suicidas. No caso do hotel Shangri-la, um dos quatro hotéis de luxo atacados, as imagens do circuito fechado de televisão revelaram que os suspeitos detonaram as bombas na fila do buffet no restaurante e no corredor do hotel. Os investigadores suspeitam que foram usados 25 quilos de explosivos neste hotel.

Investigações iniciais, citadas pelo jornal Daily Mirror, revelam que os atacantes fizeram check-in no hotel no sábado, aparentemente com nomes falsos.

No quarto onde estavam hospedados, o 616, a polícia terá encontrado material relacionado com os ataques, que apontam para o extremismo religioso. Segundo o jornal, ainda não é claro se os bombistas suicidas eram locais ou turistas internacionais que chegaram à ilha com vistos de turistas.

Numa mensagem transmitida na televisão, o primeiro-ministro do Sri Lanka dava conta de oito detidos. “Até agora, todos os nomes que temos são locais”, revelou o primeiro-ministro, ressalvando que os investigadores estão a procurar “eventuais ligações ao estrangeiro”.

Mais tarde, a polícia terá encontrado uma casa que terá servido de abrigo para os atacantes em Sarikkamulla, Panadura, fazendo elevar para 13 o número de detidos. De acordo com o porta-voz da polícia local, foi apreendido ainda um veículo que deverá ter sido usado para transportar os suspeitos para Colombo.

Na sequência da série de atentados, o Governo decretou o estado de emergência, ordenou o recolher obrigatório e cortou o acesso às redes sociais e serviços de mensagens.

"O Governo decidiu bloquear todas as plataformas de redes sociais para evitar a disseminação de informações incorretas e falsas. Essa é apenas uma medida temporária", afirmou a presidência em comunicado.
Serviços secretos avisados da iminência de atentados
Os atentados não foram até agora reivindicados.

No entanto, a agência France Press teve acesso a documentos que provam que as secretas do Sri Lanka tinham sido avisadas de que estaria a ser planeado um ataque. Esses documentos evidenciariam que o chefe da polícia do Sri Lanka Pujuth Jayasundara emitiu um alerta há dez dias, avisando que bombistas suicidas planeavam atacar “igrejas proeminentes” e a embaixada da Índia em Colombo. Citava um serviço de inteligência estrangeiro que considerava que um pequeno e conhecido grupo islamista estava a planear ataques.

O documento foi mais tarde colocado no Twitter, pelo ministro das comunicações, Harin Fernando. “Alguns membros dos serviços de inteligência estavam a par desta incidência. Houve um atraso na ação”, considerou. “Uma ação séria deve ser tomada para saber porque este aviso foi ignorado”, reforçou.


O primeiro-ministro Ranil Wickremsinghe reconheceu que havia “alguma informação prévia do ataque”, garantindo que ele próprio não tinha conhecimento desses dados. O responsável considerou que “não houve uma resposta adequada” e que havia necessidade de conduzir um inquérito sobre a forma como a informação foi usada.

“Devemos examinar as razões pelas quais as precauções adequadas não foram tomadas”, assegurou o primeiro-ministro.



Ainda assim, em conferência de imprensa, o primeiro-ministro considerou que a prioridade agora é “deter os terroristas”, pedindo ao mesmo tempo à comunicação social para não divulgar nomes, para evitar uma tensão entre comunidades. “Não deem aos extremistas uma voz. Não os ajudem a tornarem-se mártires”, continuou.
PUB