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"Sou um violador". Dominique Pelicot admite em tribunal crimes contra a mulher

por Rachel Mestre Mesquita - RTP
Desenho do principal arguido no processo de violação de Mazan, Dominique Pelicot, durante uma audiência no Tribunal Penal de Vaucluse, em Avignon Benoit Peryucq - AFP

Acusado de ter drogado e orquestrado violações da sua mulher, Gisèle Pelicot, durante dez anos, recrutando dezenas de homens na Internet, o principal arguido no processo de violação de Mazan, Dominique Pelicot, reconheceu esta terça-feira os "factos na sua totalidade". "Eu sou um violador como os que estão nesta sala. Ela não merecia isto", admitiu.

Dominique Pelicot, de 71 anos, admitiu ser "um violador", assim como os outros 50 homens acusados de terem violado Gisèle Pelicot enquanto ela estava inconsciente.

"Sou um violador como todos os que estão nesta sala. Todos sabiam, eles não podem dizer o contrário"
, afirmou.

Após uma semana de ausência em tribunal, por razões de saúde que levaram à sua hospitalização, o principal arguido do processo compareceu no Tribunal Penal de Vaucluse, em Avignon, no sudeste de França. Isto depois de um grupo de peritos ter examinado Dominique Pelicot, na segunda-feira, e considerado que não havia nenhuma contraindicação médica para a sua comparência.
"Ela não merecia"

Entre julho de 2011 e outubro de 2020, Gisèle Pelicot foi vítima de 92 atos sexuais, cometidos pelo seu marido e outros homens desconhecidos recrutados na internet pelo próprio para a violar, enquanto estava inconsciente sob o efeito de ansiolíticos. "Ela não merecia isto, admito-o", disse Dominique Pelicot esta terça-feira. 

Questionado sobre a sua personalidade, o arguido justificou: "Tudo o que recordo da minha juventude é o choque e o trauma".

Perlicot terá sido alegadamente alvo de violação aos nove anos e forçado a testemunhar uma outra durante a adolescência. "Fui acusado de muitas coisas. Não se nasce pervertido, torna-se pervertido.", acrescentou. "Mesmo que seja paradoxal, nunca considerei a minha mulher como um objeto", afirmou.

Numa audiência marcada por lágrimas de ambas as partes, Dominique Pelicot não só se declarou como culpado como demonstrou arrependimento e pediu perdão à vítima, reconhecendo a dificuldade da mesma em perdoar os crimes de que foi vítima.

“Sou culpado do que fiz. Arrependo-me do que fiz, peço perdão, mesmo que seja imperdoável”
, declarou. "A senhora foi maravilhosa e eu passei das marcas", continuou. 

Sentado no banco dos réus, o septuagenário contou "ser muito feliz com ela. Ela era o oposto da minha mãe, completamente insubmissa. Eu era feliz, tinha três filhos e netos em quem nunca toquei", garantiu.

A vítima, Gisèle Pelicot, submetida a mais de 90 violações sem o seu conhecimento durante vários anos foi chamada a depôr durante a audiência e confessou ser "difícil ouvir" as confissões do ex-marido. "Para mim, é difícil de ouvir o que o Senhor Pelicot acaba de dizer. Durante 50 anos, vivi com um homem que nunca imaginei que pudesse ter cometido estes atos. Tinha toda a confiança neste homem”, desabafou.


Guillaume Horcajuelo - EPA


Quando questionado sobre os vídeos da vítima a ser violada, Dominique Pelicot confessou haver "um elemento de perversão e vício", mas também disse ser um "elemento importante de segurança" que permite, atualmente, identificar todos aqueles que participaram nestes atos.

O julgamento de Dominique Pelicot, que está a chocar o país, teve início no dia 2 de setembro e vai prolongar-se até 20 de dezembro. O testemunho desta terça-feira é fundamental para o caso dos outro arguidos, com idades compreendidas entre os 30 e os 74 anos, que começarão a ser julgados nos próximos dias.
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