A primeira-ministra da Nova Zelândia anunciou, esta quinta-feira, que vai renunciar ao cargo. Após perder alguma popularidade nas últimas sondagens, a demissão de Jacinda Ardern não surpreendeu todos os neozelandeses. A chefe de Governo alegou "não ter energia suficiente" para se manter em funções e convocou, por isso, eleições para 14 de outubro.
“Estou a sair porque, com um papel tão privilegiado, vem a responsabilidade. A responsabilidade de saber quando somos a pessoa certa para liderar e também quando não somos. Eu sei o que este trabalho exige. E sei que não tenho mais o suficiente no tanque para fazer justiça. É simplesmente isto”.
O anúncio foi feito em conferência de imprensa, durante a qual indicou que se manterá no cargo até ao próximo dia 7 de fevereiro, enquanto a sua formação, o Partido Trabalhista, encontra uma nova pessoa para ocupar o lugar, segundo o jornal NZ Herald.
“Dei tudo de mim para ser primeira-ministra, mas isso também exigiu muito de mim”, acrescentou.
“Simplesmente não tenho energia suficiente para mais quatro anos". A ainda primeira-ministra neozelandesa assegurou que não há “nenhum escândalo desconhecido” por detrás da sua saída e explicou que não podia governar o país sem o “tanque cheio e um pouco de reserva para os desafios não planeados e inesperados que inevitavelmente surgem”.
“Tendo refletido no verão, sei que não tenho mais aquele pouco extra no tanque para fazer justiça ao trabalho. É simples”, prosseguiu.
Jacinda Ardern vai deixar de ser chefe de Governo da Nova Zelândia, mas manter-se-á como deputada pelo menos até às novas eleições de outubro.
Novas eleições só em outubro
Perante esta decisão de Jacinda Ardern, o Partido Trabalhista tem de eleger no domingo o novo líder da força partidária e o novo primeiro-ministro. No entanto, o eleito deverá governar até 14 de outubro, data em que se realizam as eleições legislativas, de acordo com o NZ Herald.
O anúncio da primeira-ministra acontece quando a Nova Zelândia entra num ano eleitoral e as sondagens dos últimos meses indicam que o Partido Trabalhista, liderado por Ardern, está ligeiramente atrás da oposição. No entanto, a governante disse que a decisão nada tem a ver com os resultados.
“Não estou a sair por achar que não podemos vencer a eleição, mas porque acredito que podemos e iremos ganhar, mas precisamos de um novo par de ombros para esse desafio”, argumentou.
No mês passado, o cansaço e o stress de Ardern tornaram-se evidentes, segundo os analistas, quando a primeira-ministra se dirigiu a um líder da oposição como "idiota arrogante". Durante as férias parlamentares de verão, que começaram em dezembro, a governante pretendia “encontrar a energia” que sentia que lhe faltava para se manter em funções, mas esta quinta-feira admitiu que não foi “capaz de fazer isso”.
"Este verão, eu esperava encontrar uma maneira de me preparar não apenas para mais um ano, mas para outro semestre - porque é isso que este ano exige. Mas não consegui fazer isso".“Estes foram os cinco anos e meio mais gratificantes da minha vida. Mas também trouxeram os seus desafios – entre uma agenda focada em habitação, pobreza infantil e alterações climáticas, enfrentamos um episódio de terrorismo interno, um grande desastre natural, uma pandemia global e uma crise ecoómica”, disse a ainda primeira-ministra, no discurso de renúncia.
Questionada pelos jornalistas de como gostaria que os neozelandeses se lembrassem da sua liderança, Ardern disse que esperava que “como alguém que sempre tentou ser gentil”.
“Espero deixar os neozelandeses com a crença de que podemos ser gentis, mas fortes; empáticos, mas decisivos; otimistas, mas focados. E que podemos ser o nosso próprio tipo de líder – aquele que sabe quando é hora de partir”, disse ainda.
Ardern, de 42 anos, tornou-se primeira-ministra em agosto de 2017, sendo a pessoa mais jovem na história da Nova Zelândia a ocupar o cargo. A governante cessante chegou ao poder antes de liderar o Partido Trabalhista, após concordar com uma coligação com os Verdes e os Nacionalistas da Nova Zelândia, encerrando uma década de governo conservador.
No ano passado, o Governo de Ardern enfrentou um aumento significativo das ameaças de violência, principalmente de teóricos da conspiração e grupos antivacina, que se manifestavam contra o confinamento e as medidas de combate à covid-19 no país. Contudo, a governante garantiu que o aumento do risco associado ao trabalho não estava relacionado com a decisão de renunciar.
“Não quero deixar a impressão de que as adversidades que enfrentamos na política são a razão pela qual saímos. Sim, tem impacto. Afinal, somos humanos, mas esta não é a base da minha decisão”.
Admitindo que não tem, para já, planos futuros – além de passar mais tempo com sua família – Jacinda Ardern agradeceu ao companheiro e à filha, que nasceu já durante a liderança no Governo.
“À minha filha Neve: a mãe está ansiosa para estar presente quando começares a escola este ano. E ao Clarke: vamos finalmente casar-nos”.
Ainda não está claro quem substituirá temporariamente Ardern. O vice-primeiro-ministro e ministro das Finanças Grant Robertson, que é considerado um dos favoritoa para o cargo, disse esta quinta-feira que não está a candidatar-se.
“Não me estou a candidatar à liderança do Partido Trabalhista”, escreveu em comunicado.