Soldados russos foram mandados para a guerra pensando tratar-se de um exercício de dois ou três dias
Os serviços secretos ucranianos interceptaram milhares de telefonemas de soldados russos e o New York Times publicou agora revelações a partir daí que dão uma imagem de improvisação e amadorismo na direcção da guerra do lado russo.
Logo a partir do final das duas primeiras semanas da invasão que a imprensa oficial russa crismou de "operação militar especial" se tinha tornado claro para muitos dos soldados que ia ser impossível tomar Kiev. As conversas telefónica, tal como são reproduzidas pelo New York Times, mostram a surpresa dos soldados perante a tenacidade da resistência ucraniana e o seu desalento perante as perspectivas de uma guerra longa, sem fim à vista.
Alguns dizem que, em vez de Kiev, apenas estão a conseguir tomar uma ou outra aldeia. E queixam-se de os seus comandantes os terem deixado acreditar que iriam ficar fora apenas os dois ou três dias necessários a um exercício de rotina.
Apesar de muitos mostrarem um preconceito contra os ucranianos, e uma acentuada descrença nas suas capacidades, confessam também terem-se achado surpreendidos com o seu "profissionalismo" e a sua capacidade de iniciativa para atrair as tropas russas a emboscadas ou para lhes cortarem as linhas de abastecimento.
Quando tudo começa a correr mal, os soldados relatam casos como os de "fogo amigo", em que russos disparam sobre russos por engano, ou carências como a que se registam em armamento, aparelhos de visão noctura ou coletes à prova de bala.
Um soldado do 656º Regimento da Guarda Nacional, por sua vez, exemplifica as perdas aterradoras sofridas pela força invasora, dizendo que 60% do seu regimento já foram dizimados, tendo 90 militares sido abatidos apenas numa única emboscada. Um outro, teve mais sorte, mas trambém não se pode considerar feliz: do seu 331º regimento de páraqudistas, um terço foi abatido. Outro ainda refere que foram repatriados 400 páraquedistas mortos em combate.
Nos telefonemas, para além das mais diversas confissões de impreparação e debilidade militar, encontram-se também nas gravações das chamadas relatos que configuram crimes de guerra dos próprios narradores contra a população civil.