Soldados dos EUA mortos na Jordânia. O que esperar após o ataque?

por Joana Raposo Santos - RTP
Desde meados de outubro, as forças dos Estados Unidos e aliados no Iraque e na Síria foram alvo de mais de 150 ataques. Kevin Lamarque - Reuters

Se a tensão no Médio Oriente estava já elevada, as mortes de três soldados norte-americanos num ataque com drones a uma base militar na Jordânia deixou no ar ainda mais receios e incertezas. Dezenas ficaram feridos neste incidente, provocado por milícias pró-Teerão contra a chamada Torre 22, junto à fronteira com a Síria. Resta, agora, saber se o presidente Joe Biden vai cumprir com a promessa de retaliação, no que poderá esta consistir e o que dela resultará.

“Prosseguiremos o compromisso de combater o terrorismo. E não tenham dúvidas: vamos responsabilizar todos os implicados no momento e da forma que escolhermos”, assegurou o presidente norte-americano após o ataque na Jordânia.
Desde meados de outubro, altura em que Israel iniciou uma incursão em Gaza como resposta a um ataque do Hamas no seu território, as forças dos Estados Unidos e aliados no Iraque e na Síria foram alvo de mais de 150 ataques. Washington tem levado a cabo retaliações nesses dois países.

Agora, Joe Biden vê-se ainda mais pressionado pelos dois lados: o dos que defendem um ataque a forças iranianas e o dos que apelam a uma ação mais contida apenas contra as milícias pró-Teerão responsáveis pela morte dos três soldados, no sábado.O ex-presidente e recandidato Donald Trump viu o ataque como uma "consequência da fraqueza e derrota de Joe Biden".

Os republicanos vieram já acusar Biden de deixar as forças americanas tornarem-se alvos fáceis, à espera do dia em que um drone ou míssil atingisse uma base militar. Segundo a oposição, esse dia chegou no domingo, com um drone a atingir a área onde se encontra a Torre 22.

“[Joe Biden] deixou as nossas tropas serem alvos fáceis”, acusou o senador republicano Tom Cotton. “A única resposta a estes ataques deve ser uma retaliação militar devastadora contra as forças terroristas do Irão, tanto no Irão como em todo o Médio Oriente”, defendeu.

Também o republicano Mike Rogers, líder do comité de supervisão militar dos EUA na Câmara dos Representantes, apelou a uma ação contra Teerão. "Já é altura de o presidente Biden responsabilizar finalmente o regime terrorista iraniano e os seus representantes extremistas pelos ataques que realizaram", declarou.
EUA não deverão “morder o isco”
Do lado dos democratas, as sugestões de resposta são mais contidas e os receios do alastramento do conflito maiores. O deputado Seth Moulton, que serviu quatro vezes no Iraque como fuzileiro naval, contrariou os apelos dos republicanos à retaliação, alertando que "a dissuasão é difícil, mas a guerra é pior".

"Os falcões que apelam à guerra com o Irão estão a fazer o jogo do inimigo. Gostava de os ver enviar os filhos e filhas para lutar", afirmou. "Precisamos de uma resposta eficaz e estratégica nas nossas condições e no nosso calendário".

A opinião do democrata vai ao encontro da dos peritos, segundo os quais qualquer ataque contra as forças iranianas no interior do Irão pode obrigar Teerão a responder energicamente, agravando a situação de tal forma que poderia arrastar os Estados Unidos para uma ampla guerra no Médio Oriente.

"A não ser que os Estados Unidos se tenham preparado para uma guerra total, o que é que um ataque ao Irão nos trará?”, questionou um funcionário da Defesa norte-americana que falou em anonimato à agência Reuters.

Para Charles Lister, da organização norte-americana Middle East Institute, a resposta mais provável de Washington é focar-se num alvo ou militante importantes dentro de grupos apoiados pelo Irão no Iraque ou na Síria.

“Apesar de todos os apelos para uma ação no Irão, não vejo esta Administração a morder o isco”
, afirmou.

c/ agências
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