Socorro a vítimas de furacão Milton recusado a apoiantes de Trump na Florida
Uma coordenadora dos serviços de socorro da Agência Federal de Serviços de Emergência dos EUA, FEMA, ordenou às suas equipas para evitarem casas com propaganda eleitoral a Donald J.Trump, após a passagem do furacão Milton, na Florida, em outubro.
Num comunicado enviado por e-mail e publicado pelo jornal New York Post, a FEMA garantiu que a agência ficou "profundamente afetada" pelas ações da supervisora.
"A FEMA auxilia todos os sobreviventes, sejam quais forem as suas preferências políticas ou filiação partidária e estamos profundamente afetados pelas ações deste funcionário", referiu o comunicado, que não nomeia a responsável, e revelando apenas que estão a ser tomadas medidas para evitar que o incidente se repita.
"Apesar de acreditarmos que este foi um incidente isolado, tomamos medidas para afastar o funcionário do seu cargo e estamos a investigar o assunto de forma a garantir que isto nunca mais sucede", acrescentou o comunicado da FEMA.
A reação da agência foi igualmente enviada ao jornal The Daily Wire, que publicou a notícia em primeira mão, esta sexta-feira. O artigo inclui cópias das diretivas enviadas pela supervisora através da rede de grupos de chat da Microsoft. O jornal teve ainda acesso à queixa formalizada por pelo menos um socorrista que passou as informações.
Chad Hershey, o supervisor de Marn'i Washington na FEMA, afirmou à publicação que a agência está a investigar o sucedido.
"Estamos cientes disso e estamos atualmente a tomar as providências adequadas nesta situação", disse Hershey.
De acordo com estas fontes, num primeiro momento, a orientação foi dada verbalmente por Marn'i Washington a 22 de outubro e foi depois confirmada num grupo de conversa, a 27 de outubro.
Alguns dias mais tarde, as instruções sobre os apoiantes de Donald Trump foram apagadas da conversa e, a 30 de outubro, a supervisora começou a recuar nas instruções sobre as casas de apoiantes de Trump, disseram as mesmas fontes ao Wire. Marn'i Washington negou depois, durante uma reunião com outros administradores da FEMA, que houvesse casas a serem evitadas.
Pelo menos 20 casas em Highlands County, na Florida, na área atribuída a Washington, terão sido afetadas pela ordem.
Nos seus relatórios, os socorristas orientados pela supervisora assinalaram as propriedades como "impossível de aceder", incluindo explicações como "cartaz de Trump, não entramos devido a liderança", "devido a liderança não paramos bandeira Trump", "cartaz de Trump" ou "cartaz de Trump, nenhum contacto devido a ordem".
A queixa formal apresentada entretanto ao Departamento de Segurança Interna questionou a possibilidade de discriminação sancionada pelo Estado federal contra americanos devido às suas crenças pessoais.
"Este comportamento levanta preocupações graves de discrimição contra cidadãos dos Estados Unidos devido às suas opções políticas", refere a queixa, de acordo com o Daily Wire.
"Estas ações não só prejudicam a integridade da nossa agência e criam um ambiente de trabalho hostil para aqueles que podem professar opiniões políticas diferentes, como ameaçam também a própria democracia do nosso país", acrescentou.
Também a ação junto das vítimas do furacão foi afetada negativamente. "Se tivessem sofrido estragos ou ficado sem eletricidade por mais de 36 horas, era meu dever informa-los dos subsídios a que têm direito através da FEMA", referiu na queixa um dos membros da equipa de Washington.
Para já, não se sabe se a mesma orientação foi dada noutros locais. A FEMA está entretanto sob uma chuva de críticas devido às falhas de socorro na Carolina do Norte depois da passagem do furacão Helene, particularmente em áreas rurais. O Helene provocou ali pelo menos 234 mortos.
Em Roan Mountain, Tennessee, por exemplo, habitantes locais afirmaram que a FEMA levou quase duas semanas a aparecer. A cidade fica em Carter County, onde Trump venceu terça-feira com 81 por cento dos votos.
DeSantis ordena investigação
Na Florida, muitas das equipas de socorro foram reforçadas por voluntários de outras agências do Departamento de Segurança Interna, devido à falta de funcionários da FEMA, perante dois furacões catastróficos em dois estados diferentes em poucas semanas.
"Eu sei que estão com pouca gente, pensei que podíamos ir ajudar e fazer a diferença", disse um dos voluntários ao Daily Wire. "Quando chegamos lá disseram-nos para discriminar as pessoas. É quase inacreditável pensar que alguém no governo federal pudesse pensar que isso é aceitável". Um funcionário da FEMA afirmou que "fui voluntário para ajudar as vítimas dos desastres, não discrimina-las. Não interessava se as pessoas eram negras, brancas, hispânicas ou a favor do Trump ou de Harris. Todas merecem receber a mesma ajuda".
A ordem implica que, durante vários dias de outubro e de novembro, as famílias não foram contactadas nem informadas sobre os apoios que tinham à sua disposição através da FEMA.
No seu comunicado, a agência federal não nomeou a supervisora, apenas sublinhou que "o funcionário" em causa ultrapassou a sua autoridades.
"O funcionário que emitiu esta orientação não tinha autoridade e não recebeu qualquer orientação para dizer às equipas para evitarem estas casa, e estamos a contactar as pessoas que possam não ter sido alcançadas em consequência deste incidente", referiu o comunicado da FEMA.
"Horroriza-nos que isto tenha ocorrido e por isso tomamos medidas extremas para corrigir esta situação e garantimos que o problema foi tratado a todos os níveis", referiu ainda.
"Esta é uma questão que levamos muito a sério e estamos a fazer tudo o que podemos para garantir que os sobreviventes recebam apoio da FEMA. Até agora, ajudamos mais de 365 mil lares afetados pelos furacões Helene e Milton no Estado da Florida e providenciamos aos sobreviventes mais de 898 milhões de dólares em assistência direta".
Garantias que não são suficientes para o governador da Florida, Ron DeSantis, que ordenou a sua própria investigação e que espera que os funcionários envolvidos venham a ser despedidos.
"A instrumentalização do Governo por ativistas partidários na burocracia federal é outra razão para a Administração Biden-Harris estar nos seus últimos dias", escreveu o governador, republicano, na rede X.
"Sob as minhas ordens, a Divisão de Gestão de Emergências está a efetuar uma investigação à discriminação orientada no seio do governo federal contra cidadãos de Florida que apoiam Donald Trump", acrescentou.
"Está a caminho de [Washington] DC uma nova liderança e estou otimista que estes burocratas partidários sejam despedidos", opiniou ainda DeSantis, numa referência à eleição de Trump.
Ao The Daily Wire, os funcionários da FEMA disseram que a supervisora não foi punida pela orientação mas transferida para outro condado na Florida.
A área atribuída a Marn'i Washington, Highlands County, localiza-se no sul do centro da Florida e é profundamente republicana. Trump ganhou ali com 70 por cento dos votos. O furacão Milton atingiu-a em outubro com tornados, ventos e chuva torrencial que provocou inundações.
No grupo formado nas comunidades Microsoft para coordenar o socorro, Marn'i Washington disse que era "melhor prática" "evitar casas com propaganda a Trump", sem mais explicações. Outras recomendações dadas aos socorristas incluíam "adotem medidas preventivas e de atenuação" e "evitar dietas com muito sal e café".