Sob o som de explosões. Como correu a visita de três primeiros-ministros a Kiev

por Carlos Santos Neves - RTP
“Admiramos a vossa luta corajosa”, escreveu no Twitter o primeiro-ministro da República Checa, Petr Fiala Presidência ucraniana - EPA

Os primeiros-ministros da Polónia, da Eslovénia e da República Checa estiveram na última noite em Kiev para manifestar apoio ao presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, que assinalou a coragem dos três líderes. A longa e arriscada viagem de comboio de Mateusz Morawiecki, Janez Jansa e Petr Fiala, a partir de solo polaco, foi saudada na capital ucraniana como “uma poderosa expressão de apoio”.

Os três líderes europeus encontraram-se com Zelensky no momento em que começou a vigorar, na capital da Ucrânia, um recolher obrigatório de 35 horas. Medida implementada após o acentuar dos bombardeamentos das forças russas sobre zonas residenciais de Kiev.

O diálogo entre os governantes decorreu debaixo dos ecos de explosões no oeste da cidade. Morawiecki, Jansa e Fiala são os primeiros líderes a visitar a Ucrânia desde o início da ofensiva russa.
O presidente ucraniano agradeceu a visita dos interlocutores, descrevendo-a como “uma poderosa expressão de apoio à Ucrânia”. Por sua vez, no Twitter, o primeiro-ministro do país invadido por ordem de Vladimir Putin, Denys Shmyhal, escreveu que foram discutidas sanções “devastadoras” aplicadas a Moscovo, incluindo o “reconhecimento da Rússia como patrocinadora do terrorismo”.

Na mesma rede social, o primeiro-ministro da República Checa elogiou “a luta corajosa” dos ucranianos. “Sabemos que também estão a lutar pelas nossas vidas. Não estão sozinhos, os nossos países estão ao vosso lado”, escreveu Petr Fiala.

A mensagem foi reforçada pelo ministro checo dos Negócios Estrangeiros, Jan Lipavsky: “A segurança da Ucrânia é a segurança europeia. Como tal, temos de fazer tudo o que é possível para ajudá-los a sobreviverem a este revoltante e bárbaro ataque russo”.

Já o primeiro-ministro polaco, que se fez acompanhar por Jaroslaw Kaczynski, líder do partido Lei e Justiça, no poder, afirmou que o Continente Europeu não voltará a ser o mesmo se a Ucrânia capitular. Seria, nas palavras de Mateusz Morawiecki, “uma versão derrotada, humilhada e patética de si mesmo”.
O vice-ministro polaco dos Negócios Estrangeiros, Marcin Przydacz, reconheceu o risco inerente à deslocação, por comboio, a Kiev. Mas disse “valer a pena em prol de valores”. A iniciativa foi comunicada a Moscovo. Os detalhes do regresso à Polónia não foram revelados.
Jaroslaw Kaczynski, irmão gémeo do antigo presidente polaco Lech Kaczynski – que morreu em abril de 2010 na queda de um avião da Força Aérea polaca em Smolensk, na Rússia –, defendeu em Kiev o envio de para território ucraniano de uma força internacional de manutenção de paz com capacidade militar.

A vista dos três líderes a Kiev foi largamente simbólica.
Os diretórios da União Europeia fizeram saber que os governantes não receberam qualquer mandato para o encontro com Zelensky. A deslocação foi, todavia, referida durante a cimeira informal de Versailles, na semana passada.

Volodymyr Zelensky, que tem repetido, sem sucesso, apelos à implementação de uma zona de exclusão aérea sobre a Ucrânia, começou entretanto a reconhecer que o seu país não deverá ver abertas as portas da NATO.
“Ouvimos durante anos que as portas estavam abertas, mas também ouvimos que não poderíamos juntar-nos. É uma verdade e deve ser reconhecido. Fico satisfeito por o nosso povo começar a percebê-lo e a confiar em si mesmo e nos parceiros que nos ajudam”, declarou.

c/ agências
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